segunda-feira, 29 de setembro de 2014

VISITA




Aguardava ansioso na frente do hospital, que possuía um setor responsável para tratar pessoas que perderam a noção de realidade, os chamados loucos. Sempre me questionei sobre a loucura, quem é correto e quem é louco ? o s governos demonstram a cada dia que só possuem loucos, pois pelas atitudes tomadas não pode ser de alguém em são consciência. O horário de visitas é após o horário de visitas para os doentes normais, aqueles doentes com algum mal físico ou concreto. Não que a loucura não seja concreta...Entro em um corredor profundo e pouco iluminado acompanhado de outros visitantes, trocamos olhares constrangidos, pois todos possuem uma espécie de vergonha, ou impotência, uma certa culpa pela loucura do ente querido que está atrás daquela porta. Nosso primeiro encontro desde que ele ficou  preso lá, junto com as vozes que ouvia e os vultos que sempre dizia estarem perto dele. Aguardei na sala junto a todos os parentes e amigos que, ansiosos como eu, queríamos ver nossos entes queridos.  À medida que adentrava o corredor podia ver os olhares  que aguardavam junto a porta de seus quartos. Ao longe avistei o olhar mais triste do mundo se transformar em sorriso quando me viu e correu ao meu encontro, abraçando-me muito forte e dizendo: -...não ouço mais vozes, não vejo mais vultos, eu estou bem, inclusive estou com uma junta médica aqui no quarto que vão te dizer para me levar para casa...- ele me puxou pela mão, ansioso, e quando entramos no quarto, não havia ninguém.

domingo, 28 de setembro de 2014

ENFIM, NO FIM, SETEMBRO




Antes tarde do que nunca, não poderia quebrar uma tradição deste blog, uma árvore de ipê no mês de setembro.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

REZANDO POR DIAS MELHORES





CALIBRE
by Herbert Vianna

Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo
Sem saber o calibre do perigo
Eu não sei, da onde vem o tiro 

Por que caminhos você vai e volta?
aonde você nunca vai
e que esquinas você nunca para?
à que horas você nunca sai?
Há quanto tempo você sente medo?
Quantos amigos você ja perdeu?
Entrincheirado vivendo em segredo
e ainda diz que não é problema seu

E a vida já não é mais vida
no caos ninguém é cidadão
as promessas foram esquecidas
Não há estado, não há mais nação
perdido em números de guerra
rezando por dias de paz
não ve que a sua vida aqui se encerra
com uma nota curta nos jornais

Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo
Sem saber o calibre do perigo
Eu não sei, da onde vem o tiro 

eu vivo sem saber...
até quando ainda estou vivo


Assisti aos Paralamas do Sucesso um dias desses e cantaram esta música. Hoje vivo numa cidade interiorana, aparentemente calma, sinto uma paz interna indescritível (não sei até quando rs), então me sinto meio fora da linha de tiro dessa música, mas como estou no Brasil, estou sujeito a uma bala perdida. Infelizmente, não é só aqui no Brasil, o mundo passa por uma crise de guerra sem precedentes, até o Papa Francisco disse que já estamos numa Terceira Guerra Mundial, o que não deixa de ser verdade. Basta assistir só um pouquinho de um telejornal que se fica sabendo dos conflitos pelo mundo, das mortes, das guerras, dos terrorismos, das mortes em praça pública, das mortes que assistimos pela televisão. Em todos os continentes existe gente fugindo da guerra e da fome, da dor e da perseguição. Nem direito a orar para seu 'Deus'é permitido, sendo imposta fé, e fé não se impôe, FÉ ou se tem ou não..."Eu vivo sem saber...até quando ainda estou vivo.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

REINICIAR



Reiniciei a escrever ontem, falando de novos ares, campos, flores e árvores, caminhos e uma nova cidade, quando então o vento de final de inverno soprou forte, quase um minuano e arrancou as palavras que escrevia. Tentei salvá-las , mas não houve tempo, corri até a janela e já era tarde demais. Olhei por algum tempo até não ver mais uma vírgula que se perdia no infinito céu azul deste lugar. Na rua apenas o silêncio e a harmonia desta pequena cidade. Estas ruas de ladeiras e subidas com calçamentos centenário e igrejas do tempo do Império, até agora nada me disseram sobre meu futuro aqui. Agora é o presente, e de onde estou posso ver melhor o que deixei para trás, a falta que não imaginava sentir, quase me derrubou, quase chorei. Todas as mágoas acumuladas, dores e mal entendidos, tudo, tudo se perdeu numa massa gigante de saudade. Precisamos perder para valorizar, já disse um sábio. Vida nova pela frente, casa nova, vizinhos novos, tudo isso no meu velho corpo cansado, que se renova, se multiplica,e aprende com a dor, a saudade, o amor, a morte, a ilusão, esta sim, verdadeira. É o que sinto... Passadas as tempestades que nos pegam de surpresa, derrubam nossas casas, árvores e sonhos, o que estava ali ontem, hoje não está mais, e por mais verdadeiro que tenha sido, por mais que eu sinta ainda a falta no peito, por mais que eu lembre, aos poucos a minha memória vai me trais, e não será tudo isso uma frande ilusão, que teimamos em chamar de 'minha vida'?  Mas aos poucos vou me adaptando a um novo ritmo, lento, muito lento e harmonioso com a natureza, os campos, os rios. Não sei ainda das pessoas deste pequeno lugar, estas incógnitas, estes elementos que podem alterar tudo ao seu redor, inclusive outro ser humano. Mas caminharei lentamente ao encontro sem sentimentos pré-estabelecidos, sem expectativas, sem ilusões.