quarta-feira, 19 de julho de 2017

MANIFESTO DADAÍSTA


 




[...] Todo produto da aversão suscetível de se tornar uma negação da família é dadá; protesto com toda a sua força em ação destrutiva: DADÁ; conhecimento de todos os meios rejeitados até agora pelo sexo pudico do compromisso cômodo e da polidez: DADÁ; abolição da lógica, dança dos incapazes de criação: DADÁ; de toda hierarquia e equação social estabelecidas pelos valores por nossos criados: DADÁ; cada objeto, todos os objetos, os sentimentos e as obscuridades, as aparições e o choque preciso de linhas paralelas, são meios para o combate: DADÁ; abolição da memória: DADÁ; abolição da arqueologia: DADÁ; abolição dos profetas: DADÁ; abolição do futuro: DADÁ; crença absoluta indiscutível em cada deus produto imediato da espontaneidade: DADÁ; salto elegante e sem preconceito de uma harmonia para outra esfera; trajetória de uma palavra atirada como um disco sonoro grito; respeitar todas as individualidades na sua loucura do momento: séria, temerosa, tímida, ardente, vigorosa, decidida ou entusiasmada; despojar sua igreja de todos os acessórios inúteis e pesados; cuspir como uma cascata luminosa o pensamento desagradável ou amoroso, ou acalentá-lo — com a viva satisfação de que tudo é igual — com a mesma intensidade na moita, livre de insetos para o sangue bem-nascido, e dourado com corpos de arcanjos, com sua própria alma. Liberdade: DADÁ DADÁ DADÁ, alarido de dores crispadas, entrelaçamento dos contrários e de todas as contradições, dos grotescos, das inconsequências: A VIDA.


ps, eu, a Renata e o Mauro, nos idos anos 80 quando fazíamos parte do grupo de teatro Verso Explícito. Foto tirada  após a estreia do espetáculo no já extinto Bar Chaplin, um pub dos velhos tempos e memoráveis de Cachoeira do Sul. A Renata recitava um poema Dadaísta de Tristan Tzara, eu e o Mauro éramos o eco das palavras deste poema, algo como: bebam água, comam chocolate...das poucas vezes que participei de um coletivo, mais prazeroso do que o coletivo do curso de Direito por cinco anos.

terça-feira, 18 de julho de 2017

UMA QUÍMICA QUASE PERFEITA


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20 anos se passaram, desde a formatura, dos verdes anos, dos cinco anos mais emblemáticos de minha existência. Uma turma eclética, eu nem tão jovem e nem tão velho, mas todos na busca comum da formatura, era o que unia aquelas pessoas, traduzia suas diferenças em iguais risadas. Uma turma, única e individual. O universo uniu aqueles seres, e eu era um deles, uma conspiração ou inspiração, crianças inocentes brincando ao redor da fonte...mas é passado, hoje só é uma memória, que não sai mais de dentro da caixa das lembranças perdidas. Até saber de uma possível reunião de 20 anos. Para alguns deve ser lindo, pra mim patético, não temos mais nada em comum, e naqueles anos eu ri, ri muito, nos divertimos muito juntos. Uma química quase perfeita. Mas acabou e partimos em busca de nossos sonhos e caminhos a escolher para seguir..eu: “a estrada errada que segui com minha própria lei.” Somos todos adultos hoje, muitos já com família constituída. Imagino um bando de crianças correndo e gritando no almoço de confraternização, prefiro meus sobrinhos na casa de minha mãe, eu posso gritar também, inclusive para que eles parem de gritar. Naqueles cinco anos de uma quase tortura cerebral, cumulei minhas leituras livres com os estudos. Não tive tempo para mais nada, além do trabalho. Meu coração até tentou entrar neste espaço, mas foi atropelado e despedaçado na primeira estrada que atravessou...aí descobri que necessitava fugir, mas era tarde demais, precisava terminar o que havia iniciado, quando busquei minha segunda ajuda, a primeira foi Deus que me iluminou o caminho da psicanálise e psiquiatria, a ajuda. Tudo dentro destes cinco anos de faculdade. Concluí o curso e parti para navegar na minha própria nau, e os perdi. 20 anos e passaram, após nossa última festa de formatura e despedida. Hoje somos queridos estranhos, e eu, apenas deixei passar este 20 anos como se nunca houvesse existido, como as vagas lembranças de minha fraca memória.

TEMPO PERDIDO

Todos os dias quando acordo
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo

Todos os dias antes de dormir
Lembro e esqueço como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder

Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério e selvagem
Selvagem, selvagem

Veja o sol dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega é da cor dos teus olhos
Castanhos

Então me abraça forte
Me diz mais uma vez que já estamos
Distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo

Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes acesas agora
O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido, ninguém prometeu

Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens
Tão jovens, tão jovens

by Legião Urbana

ps. A música que foi tema de minha  formatura.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

DESTROÇOS: GUERRILHA URBANA


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Blocos de concreto lembram de vez que aquele prédio está condenado, dois andares construídos a ferro e pedra, sendo usada a mão do obra escrava para construí-lo. Agora escombros empoleirados em dois andares prestes a ruir. Uma das ruelas que encontrei nas minhas idas e vindas, pequena e aquele prédio emblemático, embora em ruínas, mantinha uma altivez, que deve ter fechado seu ciclo. Os espíritos que por ali habitavam já encontraram seus caminhos para a luz ou para as trevas. O prédio, último elo das vidas que ali um dia respiraram, ou foram açoitados, a dor, algo tão humano e desumano, era uma vida não vida. Eram escravos. Mas as almas penadas eram de seus sinhozinhos e sinhazinhas, que conseguiam provar a cada dia de vida,  quanta maldade pode fazer o ser humano. Vimos depois o Holocaustos. (Ainda me corrói a dúvida quase certeza, de que os judeus eram os donos da Companhia das Índias). E eles de novo, como hebreus na antigo Egito, assim diz a Bíblia. Mas o que importa é a hora em que o prédio vir a baixo, acabará ciclo, se fechará o portal... os índios das Américas forma dizimados também, aliás, ao longo de nossa história humana, batalhas foram travadas, vidas ceifadas e hoje... hoje temos uma guerrilha declarada na ruas das grandes e pequenas cidades, balas perdidas, crime contra as mulheres, os negros, os homossexuais e uma longa e variada lista de crimes praticados todos os dias contra nós. Mas a pior quadrilha de bandidos, são nossos políticos na administração pública, que está se transformando em genocídio, a falta de políticas públicas para a saúde, a educação, para não deixar o povo morrer de fome e nem se tornem bandidos saqueando mercados para matar a fome dos filhos...Sinceramente, quando aquele prédio ruir de vez, espero que feche o ciclo de dor das almas e abra um novo ciclo de honestidade, para quem sabe, consertarmos nosso país.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

ESTRANHAMENTE FELIZ NESTES DIAS DE INVERNO



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Dias nostálgicos aqui deste lado dos campos, deste planalto...um verde infinito, interrompido por terras prontas para o plantio. Do alto parecia que o campo sangrava, mas logo se colheria o que se haveria plantado. Tudo é muito relativo, por um olhar junguiano. O Sol brilha num céu azul cor de anil, estranhamente feliz nestes dias de inverno. Que é quando meu coração ao invés de continuar hibernando, desperta para as doces e amargas lembranças de um amor que era vidro e se quebrou, e eu não soube existir, fugi correndo, sem entender o que sentia e como lidar com esta felicidade que emanava de outra pessoa, agora com poderes sobre mim...um tanto de mágoa agora aos 50 anos, já no fim, sem ter amado de verdade. Posso entender o que meu terapeuta tenta achar nas minhas tristezas e depressões insolúveis: dor, mágoa, tudo que poderia ter sido e não foi, e não fui eu o escolhido. Lamento tanto passar in albis para o amor nesta existência, que me consome e leva um pouco de minha vida, todo dia, para o inevitável fim Neruda, Vinicius, os poetas do romantismo brasileiro, que morriam de amor e tosse ao 21 anos. Como os invejei, mas entrei em pânico próximo aos 21 anos, achando que iria morrer...até o anjo-poeta Quintana, falou do amor, um amor que não passa de puro abstrato na minha vida. Teoria poética, o resto é dor.








Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude

by Vinicius de Moraes


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