segunda-feira, 19 de março de 2012

PROMESSAS DE VIDA EM MEU CORAÇÃO



Águas de Março

Tom Jobim

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol

É pereba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira

É o vento ventando, é o fim da ladeira

É a viga, é o vão, festa da cumueira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto

É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé

São as águas de março fechando o verão,
É a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
Pau, pedra, fim, caminho
Resto, toco, pouco, sozinho
Caco, vidro, vida, sol, noite, morte, laço, anzol

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

segunda-feira, 12 de março de 2012

MINHA VIDA NA INTERNET



É claro agora. O ponto. O instante. O portal. Um mergulho. Outra dimensão.
Atravessar a porta. O portão. Entrar no mar. Sair do ar. Me tornar um ser humano virtual.
Começo a perceber a diferença, do que me torno vivendo o mundo virtual. Na verdade, não há diferença, pois ninguém mostra o monstro que é...mostramos o que achamos que temos de melhor; meu melhor texto, meu melhor poema, minha melhor foto, enfim...como na vida real mostramos o "belo" de nossa personalidade, aquilo que os outros vêem em nós ou gostaríamos que nos vissem.
Tenho medo de ter caído nesta cilada, armada por nós mesmos. Embora sempre tenha brincado com minhas metáforas,nos meus delírios escritos, minhas mentiras sinceras; que forma meu redemoinho  na busca de uma suposta literatura.
Quero buscar e encontrar minha verdade, mas será a internet o lugar certo (para mim é, não tou viciado, mas se passo muito tempo sem me conectar, é como se  o ar começasse a faltar).
Mas a vaidade, a prepotência que tanto temo, pode fazer com que comece  buscar escritos que agradem, mas como saber, como agradar ? E agradar quem ?
Hoje quero um pouco de sinceridade comigo, quero escrever para mim, como quando comecei, como Anaís faz em seu blog Sózinha na Madrugada (que adoro). Mas e as trocas, as visitas e os comentários...bom, eu gosto disso, aprendi a gostar à medida que meu blog ía se formando, aliás  ele continua se formando, assim como eu.
Precisamos de amigos, então devemos respeitar, e já que o que usamos são as palavras para nos conectar-mos, tentemos ser os mesmos, virtual e real, senão um dia não saberemos mais quem verdadeiramente somos.

ps. Tou feliz demais ao saber notícias de minha poetinha Rosana Azul, ela estava na terrinha, mandou-me um email com uma foto linda do rio Tejo, que não é esta, mas é o Rio Tejo de Portugal.

quinta-feira, 8 de março de 2012

PELO AMOR DE DEUS



Pelo Amor de Deus

Emílio Santiago



Pelo amor de Deus

Clareia a minha a solidão

Acenda a luz do teu perdão

Apaga este adeus do olhar



Faz dos medos meus

Receios sem nenhum valor

Desperta o nosso imenso amor

Não custa nada perdoar



Você virou tatuagem

No meu pensamento e no meu coração

Feito uma estranha miragem

À beira dos olhos e longe das mãos



Perdoa, meu amor

Nobreza maior que o perdão

Não há no reino da paixão







terça-feira, 6 de março de 2012

A CASA DOS MORTOS



Poderia esperar o ônibus em que Cortázar atravessou numa tarde quente, ao longo do Bestiártio, mas éramos apenas eu e minha mãe saindo no portão de nossa casa para visitar A Casa dos Mortos. Minha mãe nunca gostou muito de flores para funerais, dizia-me que os mortos merecem o nosso respeito sincero, da alma, do coração e não usar de algo belo para tentar não ter de assumir nada na frente de ninguém; eu, já achava que deveria ser um ritual muito antigo, minha mãe ria, me pegava pela mão e lá íamos nós fazer a visita anual aos nossos mortos. Naquele tempo meus avós eram vivos, minha tia, tios... Éramos agora, minha mãe e eu na frente do jazigo da família, onde repousam as pessoas que mais amamos na vida. Ela tenta como se tocar o rosto da mãe, minha avó, na fotografia, de minha tia tive certeza que ela sentiu o acariciar de minha mãe na sua face gelada no mármore. Ficamos em silência um longo tempo, eu sentado num túmulo próximo, na sombra de outro. Minha mãe não, como num transe parecia estar em família, não importava o sol, nem se ouvesse frio, ou chuva, não, ela só estava ali completamente deles...percebia que estava bem quendo via uma lágrima, escorrendo em sua face. Eu na sombra, começava a entender o transe, era pura, a mais pura, concreta e doloroda SAUDADE. Quando ficou claro em minha mente, em meu coração, nos abraçamos e choramos, o vazio que nunca será preenchido... mas que mesmo assim, precisávamos ir embora, minha mãe continua comandando o ritual da comida de domingo.

ps. é um título nada original, mas eu pensei na possibilidade de um post quando minhas mãe e eu fomosd o cemitério, e aí está

ps. foi um tempo que senti muita saudade dos vivos, mas senti muito medo e estranhamento...o comportamento das pessoas tem me assustado. tenho medo de assustá-las também, mas aposto mais uma vez na vida, na esperança, na solidão (sim na solidão, pois ela me ajuda a pensar, a dormir, a ter insônia...)rs 

ps. não existe nada melhor na vida, que acordar, sentir um aroma de café, algumas palavras ao longe para não ser acordado, mas ia para a cozinha e sentava a mesa com meu pai, enquanto minha mãe prepava nosso desjejum, amém.