terça-feira, 18 de setembro de 2018

SETEMBRO AMARELO É VIDA


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Ontem, não resisti ao passar por um jardim e avistar uma margarida desabrochada. Rapidamente meti a mão por entre as grades e apanhei a bela flor e carreguei comigo para o trabalho...Hoje a vejo caída sobre o computador, morta. Suas vivas pétalas brancas arriadas, como se fosse um último suspiro, seu miolo amarelo ficando opaco como o olho de um peixe morto...e tudo por um egoísmo que não faz sentido, não bastava vê-la e guardá-la na mente?, numa bela memória?, mas antes de pensar isso, minha mão já estava com a flor, que parecia sorrir para mim no trajeto, agora sei, era dor, a dor da morte. Até a agonia da flor é bela, como um poema triste. Setembro ainda não me sorriu com uma bela árvore de ipê amarelo, carregado de flor no meu caminho. Setembro tem o dia da árvore e também é um mês de alerta contra o suicídio. Um poeta disse uma vez que existem flores amarelas e medrosas, e por muito tempo acreditei, embora Van Gogh tenha explorado as várias faces do amarelo, fazendo luz, claridade aos caminhos. E ela continua ali, na minha frente, morta. Minha margarida morta por meu egoísmo, por minha vaidade...O amarelo vem do Sol, que aquece e traz alegria. Os risos na beira dos rios, de crianças inocentes, brincando sob o calor amarelo do Sol. Agora sofrendo com a agonia de morte da margarida na minha frente, sobre o meu computador. E não precisava de nada disso, bastava eu ter olhado mais atentamente ao jardim que posso ver pela janela, bastando me virar um pouco mais para a esquerda, as margaridas em botão, prestes a abrir para a vida, para a cor, para a beleza de setembro, que ainda não me sorriu com sua mais bela árvore, o ipê amarelo...enquanto setembro adentra e se equilibra para que as flores possam nos brindar com sua bela, suas cores e felicidades, guardemos no coração o desejo de vida, de amor, de esperança, que o amarelo da Mãe Oxum nos proteja do mal, da morte, da dor, da solidão. Esperemos que o Sol de setembro derrame sobre nós as alegrias de sua cor amarela, do seu brilho, da sua luz, fazendo com que as margaridas fiquem vivas em minha janela e que meu desejado ipê amarelo sorria para mim.


cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nasceram flores amarelas e medrosas.”

by Carlos Drummond de Andrade



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