sexta-feira, 30 de agosto de 2013

BRUTUS E O MOTORISTA






BRUTUS...


Hoje ele me acordou, arranhando levemente a porta da cozinha, após um breve silêncio, me dou conta que o dia amanheceu, o relógio despertou, muitos pássaros cantam sem parar, ouço carros passando a toda velocidade na rua, e um silêncio e um suspiro do cachorrinho Brutus, meu afilhado do coração...

Como hoje não precisei sair correndo pela quadra atrás de Brutus, que insiste em correr pela manhã...sei que é saudável, mas tenho de ir trabalhar, enfim...

Chego na esquina e o urbano já está a caminho, meia quadra até a parada, normalmente os motorista dessa empresa são queridos e param para que eu ou outra pessoa qualquer fora do ponto, correndo atrás do ônibus, mas este motorista era diferente, além de não parar no meio do caminho para mim (isso ele não é obrigado), quando subi no ônibus dei bom dia ao que ele me respondeu que da próxima vez não esperaria, porque quando ele parou, subiu uma senhora que corria na minha frente, então caminhei até o ônibus, paguei a passagem e fui até ele dizer que ele não precisa me esperar, passei a roleta e me sentei.

Na parada seguinte após subirem várias pessoas, ouço uma voz que fica dizendo: sobe, mais rápido, o cartão amarelo tem de ser renovado, explicava para as pessoas idosas isentas de pagamento trazerem o cartão, assim elas passariam para trás e não ficariam ocupando espaço na frente do ônibus. Tudo bem, informações úteis, mas quem deveria dar era o cobrador, e não o motorista que não parava de falar. Isso me irritou um pouco, mas como a manhã estava agradável, com um Sol lindo, comentei com a moça sentada do meu lado, que ele não parava de falar e não cuidava a direção, ela me disse, além de não parar de falar fica repetindo a mesma ladainha, rimos e ficamos novamente em silêncio.

Próximo de minha parada tem uma sinaleira, que estava fechada, então puxei o sinal e ligou aquela plaquinha que diz – parada solicitada. Abriu o sinal e o ônibus seguiu sem para onde havia solicitado, rapidamente cheguei perto do cobrador e gritei (educadamente rs): sr. motorista, eu sinalizei para parar. Ele, então percebendo que não prestou atenção no trabalho dele para ficar falando, falando, falando...me diz: opa, já estamos parando.

Não precisa dizer que fiquei com a alma lavada, ainda puder dizer, ao invés de ficar falando, presta atenção no que estás fazendo. Mas ele não ouviu, pois já estava descendo um pouco além da parada.

Lembrei do Brutus, que a cada ônibus que passa em frente de casa, ele fica desesperado latindo e pulando na grade da frente, e depois me olha e volta resmungando para o local de onde saiu para latir contra o ônibus.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

SOMBRAS DE TEUS GRITOS








Tu Queres Sono: Despede-te dos Ruídos


Ana Cristina Cesar





Tu queres sono: despe-te dos ruídos, e

dos restos do dia, tira da tua boca

o punhal e o trânsito, sombras de

teus gritos, e roupas, choros, cordas e



também as faces que assomam sobre a

tua sonora forma de dar, e os outros corpos

que se deitam e se pisam, e as moscas

que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor (não ouças)



que se prepara para carpir tua vigília, e os cantos que

esqueceram teus braços e tantos movimentos

que perdem teus silêncios, o os ventos altos



que não dormem, que te olham da janela

e em tua porta penetram como loucos

pois nada te abandona nem tu ao sono.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

AFASTADOS II








Durante muito tempo acreditei no ser humano, acreditei nos amigos que a vida me impunha, pessoas que caminhavam meu caminho por determinados dias, pouco tempo alguns, outros mais, e outros, apenas instantes. Muitos deixaram suas marcas, aliás todos, mas costumo ficar com a lembrança dos que tive encontros bons, aprendizados, reciprocidade; uma minoria deixou sua marca ruim em mim, que guardo em uma gaveta bem no fim do corredor de arquivos do cérebro, para que eu nunca repita isso com outro ser humano.

Outro dia brinquei com os afastados do sistema de todas as galáxias, nós rs...mas passado este breve tempo, assaltou minha mente algo que não é tão brincadeira assim, os afastados pelo sistema, por nós, pela política destruidora que nos assola, afastados pelo preconceito que sentimos, e isto é real. Sou negro, e sei como ninguém o que é ser discriminado, ser afastado, mas nem vou entrar no mérito da cor, pois raça é uma só, acredito, a humana.

Mas o que se passa no cérebro humano, ninguém sabe, a não ser o próprio, como costumo dizer, de minha dor sei eu, enfim...

Mas no que ou em quem acreditar após ver pela tv um médico dessas ambulâncias de socorro dizer como resposta de um pedido de atendimento para alguém caído nas ruas de Porto Alegre, e este profissional diz, com uma voz metálica e indiferente, até um pouco indignada por ser perturbado, diz que não há ambulância, não tem como socorrer, não há ambulância e pronto. Eu não estou dizendo que me disseram, eu vi e ouvi a matéria, embora o canal não tenha tanta credibilidade assim rs, mas isto foi real e muito, muito cruel. O senhor de 70 anos que estava precisando desse socorro veio a falecer. Então, quando deixamos de ser e pensar e agir como seres humanos ? Estaríamos nós de-evoluindo ?

É mais uma prova que percebo o quão difícil é tratar com o homem, porque ninguém é melhor que ninguém, mas parece que estamos numa competição para saber quem é o melhor do melhor, quem tem mais, quem manda mais, quem tem mais poder sobre o outro, e estamos esquecendo de ser.

Enquanto isso, quero que meu coração fique poluído de amor, fé e esperança num novo dia, num novo homem.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

E A CANÇÃO É TUDO






Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.


by Cecilia Meireles



quinta-feira, 15 de agosto de 2013

BOMBAS NA EMBAIXADA II




Bombas na Embaixada...foi quando me impressionei com um homem atirando pedras na divisa entre Palestina e Israel, e um menininho que mal iniciava a andar, também jogava pedrinhas; talvez isso tenha ajudado a entender um pouco a chamada 'guerra santa', que de santa não tem nada, é sangrenta mesmo. É algo quase que hereditário, acredito, uma espécie de arquétipo, sei lá, mas o fato que desde aquela cena que vi há muito tempo, pensei que entendia um pouco mais tal situação.


Mas não, não consigo aceitar ou entender a violência, a dor, o sangue, que um ser humano provoca no outro, independente do motivo, para mim nada justifica a violência, ou então, devemos perder o status de 'ser humano'.

Não é de hoje, as guerras continuam, silenciosas para os noticiários, que por sua vez não chegam a nós, em nossas vidas tão perfeitas, tão facebookeanas. Não sabemos mais se no Continente Africano as crianças passam fome, não sabemos das guerras civis, não sabemos das minas e granadas, de um povo que marcha estrada afora, na seca, no Sol, indo a lugar nenhum...

O mesmo noticiário que me ilude com notícias manipuladas diz que o lugar que mais gostei na minha infância, quando começava descobrir o mundo pela leitura, nas aulas de história. Conheci um país fascinante, mesmo país que hoje não se falam em pirâmides , mas em centenas de mortos civis, e esta ao norte do Continente Africano.

Minha luta aqui é contra o frio do tempo, de minha alma, do meu amor, dos meus sentidos, das dores que a falta nos traz, a falta dos que amamos e partiram para sempre...

Bombas na Embaixada... Então desconheço a cidade Maravilhosa e a Avenida Paulista da maior cidade da América do Sul, neste momento histórico em que um povo conhecido por sua 'covardia', digo, passividade, históricamente vinha sendo vilipendiado, e acorda um dia, e quando se pensa que se criará uma consciência, iniciar um processo de melhora na saúde, educação, agricultura (para mim básico), uma nova ala surge, com seus rostos cobertos e a anarquia como base política, só que a anarquia não tem base, muito menos política. É anarquia pela anarquia.

Eu lamento, lamento muito e peço a Deus que tenha piedade de nós.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

DIAS SOMBRIOS






A máscara de hoje com seu vasto sorriso, brilho nos olhos que querem ver mais e mais, uma bochecha saudável, o semblante necessário para uma vida nem sempre necessária, talvez pueril e terrivelmente quente, como só naqueles dias de verão. Caminhando entre a porta da rua e a cama, não esquece o que viveu na noite que a pouco acabou. Com a sorte das crianças e bêbados escapou da serpente com pouco veneno, mas que fere e a dor é insuportável, não mais que um coração ferido, mas insuportável. Os dias sombrios do passado, como pássaros agourentos, corujas, urubus (pobres pássaros, belos na sua beleza, e poderosos com suas asas voadoras), mesmo sentado a sombra de um vulcão ou dormindo a beira de um precipício, usarei mesmo assim esta máscara, com um vasto sorriso, com o semblante necessário. Os dias sombrios...




"Tira, a máscara que cobre o seu rosto

Se mostre e eu descubro se eu gosto

Do seu verdadeiro jeito de ser"

by Pitty



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

ERRANDO ENQUANTO O TEMPO ME DEIXAR



Nada sei dessa vida


Vivo sem saber

Nunca soube, nada saberei

Sigo sem saber



Que lugar me pertence

Que eu possa abandonar

Que lugar me contém

Que possa me parar



Sou errada, sou errante

Sempre na estrada

Sempre distante

Vou errando enquanto o tempo me deixar



Nada sei desse mar

Nado sem saber

De seus peixes, suas perdas

De seu não respirar



Nesse mar

Os segundos insistem em naufragar

Esse mar me seduz

Mas é só pra me afogar



Sou errada, sou errante

Sempre na estrada

Sempre distante

Vou errando enquanto o tempo me deixar passar.

Errando enquanto o tempo me deixar   by George Israel e Paula Toller

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

SONHO



No sonho que tive contigo esta noite, me pareceu tão real. Sei que eras tu, estavas tão nítida, tua claridade nunca foi tão intensa...nos meus sonhos nunca identifico as faces, nunca as vejo, apenas sei quem são ou não, mas não as vejo. Vultos, como os que encontrei nos contos de Ivo Bender, espectros, sombras. Acordei meio assustado, o que poderia querer dizer aquele sonho? eles sempre querem dizer alguma coisa. Penso em Jung, os sonhos importantes, aqueles que ficam martelando em nossas cabeças, este era um sonho importante. Faz muito tempo deixamos de nos ver, nos falar, pensar eu penso muito em ti, lembro muito, afinal foram tempos de risos e cumplicidades, trabalho e companheirismo...e vieram a desavenças, olhares maldosos quando estávamos juntos almoçando ou mesmo caminhando lado a lado sob o sol de agosto. Mas eles não significam nada, somos muito maiores que isso, que essa mesquinhez, tão natural no ser humano hoje em dia. Sinto falta dos nossos lanches nos sábados perdidos e tristes e ...


Caminhavas com tua bolsa pendurada no ombro direito, como sempre, e , eu estava tão perto, mas tão longe (coisas de sonhos), mas nítida. Meu primeiro sonho em que identifico alguém. Como dizia, caminhavas, e não olhavas para o lado, o lado onde estava, tentava te chamar, mas algo não permitia, minha voz não saia, apenas movimento de lábios e nenhum som. Então tentei telepatia para te dizer:

sinto tua falta num profundo dentro de mim. quero ouvir tua voz chamando-me para tomar café para ler mais um livro descoberto na tua mágica biblioteca, que tanto gosto, que tanto li . mesmo que te pedisse perdão, por minha falta, meu silêncio, minha ausência...

Sonhei contigo e acordei feliz, afinal estivemos juntos.



Para uma amiga querida, muito querida, que embora estejamos próximos, abriu uma imensa clareira entre nós, nos distanciando, nos silenciando, nos...

terça-feira, 6 de agosto de 2013

AFASTADOS




O nosso mundo, nossa galáxia, onde nos achamos tão importantes, nada mais somos que seres escanteados, afastados do verdadeiro universo perfeito, nós somos a latrina do todo/tudo, ou seja, não somos nada. Constato então a fragilidade do ser humano, qualquer gripe pode acabar conosco, um raio pode acabar conosco...somos feitos de água, se o Sol resolver pegar fogo, estamos derretidos. Diante de tanta evidência, que somos vulneráveis, porque então nos achamos tão poderosos, tão únicos (o que somos na verdade), mas tão prepotentes. Não se precisa ir muito longe, Erich Fromm já filosofava anos atrás: dar poder extraordinário a um ser ordinário , o que podemos esperar ?

Assim esta eivado nossa política, os altos cargos, os que fazem concurso e passam, concorrendo às vezes com milhares, e esta bênção é agradecida com a indiferença do concursado com seu próximo, após assumir o cargo. Na minha vida de servidor público já presenciei, infelizmente, já vi isso de perto. Tem um caso bem interessante, conheci o menino no meu trabalho e ele estava estagiando e fazendo faculdade,passaram-se os anos, ele se formou e passou num importante cargo, ele era querido por todos, mas o que aconteceu...passado um tempo falei com uma ex-colega que fazia parte do nosso grupinho, junto com este menino, e ela me disse que ele na nova função, esteve no setor em que ela trabalhava na época e nem dirigiu a palavra para ela. É o poder ou são pessoas fracas que se deixam corromper e esquecem a humildade da vida e ficam se sentindo a bolachinha mais recheado do pacote.

Mas a idéia (debochada) de que estamos sendo punidos, nos afastando do universo perfeito, não foi minha, é de um colega, mas não resisti e achei muito engraçado e resolvi escrever o que está aqui.