quinta-feira, 27 de outubro de 2016

AMOR INCONDICIONAL


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IPÊ ROSA - OUTUBRO ROSA

Estava eu atrasado, como de costume, mas cheguei há tempo na rodoviária para embarcar no ônibus que me levaria até minha mãe, que não estava passando muito bem. Minha poltrona é ao lado de uma simpática senhora, que me sorri quando peço permissão para sentar ao lado dela. Era setembro, em plena floração dos ipês, árvore que gosto muito, principalmente os ipês amarelos. O ônibus parte, meu coração apertado, ansioso para ver minha mãe. Acabo por adormecer, me acordando com um movimento brusco do ônibus. A senhora do meu lado sorri. Devolvo o sorriso e brinco dizendo que sonhava com aquelas árvores que se estendiam como um imenso túnel de ipês amarelos. Ainda em meio ao sorriso olho para a rua, e me encanto com o que vejo, um túnel de ipês amarelos, meus favoritos. Falo com a senhora admirando os ipês, mas percebo que ela nem liga. Não consigo me conformar, que alguém não ache bonito esta árvore (se bem que gosto é gosto, não se discute). Ela se vira para meu lado, e vendo minha decepção por não concordar comigo e o resto do mundo, começa a me contar seu trauma com ipês... ela me contou que tem filhos, e a caçula na época do ocorrido era bem pequena e sofria de alergia, e na quadra dela, na rua, todos se orgulhavam desta bela árvore que no final de agosto já começa a parecer. Já em setembro, olhando do meio da rua percebe-se uma bela perspectiva, afinal era primavera, a estação das flores, dos amores. Mas sua filha sofria muito com a árvore de ipê na frente sua casa, e crescia para dento do pátio chegando até a janela do quarto da menina, que era chamada de rena do nariz vermelho pelos irmãos. Ela não aguentando ver o sofrimento da filha, pediu ao marido que cortasse aquela árvore na frente de sua casa. Ele já havia feito várias solicitações para ser autorizado para cortar árvore. Bem, estamos no Brasil, onde a máquina pública, até funciona, mas numa lenta, quase parada burocracia. Não aguentando mais ver o sofrimento da filha, resolveu por conta própria cortar as dita árvore. A essas alturas eu já estava quase chorando de pena da pobre árvore, que estava com seus dias contados. Contratou um senhor que fazia o serviço e possuía uma condução, combinou com ele uma manhã bem cedo e cortou a árvore, já colocando seus restos mortais no carro do lenhador, que com uma pequena serra elétrica fez o serviço e deu sumiço na árvore...ela disse que sofria varrendo a calçada, e se chovia ficava perigoso, podendo resvalar nas flores coladas no chão. Eu já quase chorava pela árvore agora morta e sumida. A vizinhança não percebeu, o marido não acreditou, aliás nem havia percebido quando chegou em casa. A viagem continuou, ela pegou no sono e eu ali, pensando, sofrendo por uma árvore que nem conheci. Mas tirei uma grande lição, uma mãe é capaz de tudo para proteger e criar com segurança e saúde seus filhos. Como ninguém percebeu, a rua continuou florindo seus ipês todo final de agosto, menos na frente daquela casa, da menina do nariz vermelho, que não ficava mais vermelho entre agosto e setembro.

ps. Este amor que a pessoa/personagem tem  pela filha é incondicional, nada poderia fazer sua filha sofrer, o que me leva a pensar em minha mãe, único amor verdadeiro em minha vida. Esqueci do Teimoso (meu   cão que adotei) que está me ensinando a amar de novo, que é possível meu coração ainda bater forte e descompassado como dos apaixonados.