segunda-feira, 7 de maio de 2012

MONÓLOGOS DA SOLIDÃO - ATO I



Cenário - um pequeno quarto, com uma cadeira de palha velha, uma cama velha, um pequeno bidê velho com uma lata velha de azeite servindo de vaso para uma rosa, esta sim bela e nova e vermelha, uma janela com as venezianas abertas e os vidros fechados, não é possível ver, mas há um cheiro de mofo. Sobre a cama enrolado num cobertor velho, um homem, que apesar de parecer velho, não é. Acorda. Fica alguns minutos olhando o teto na esperança de encontrar algo, que não sabe o que é, mas algo que o estimulasse alevantar, descer até a padaria e tomar um pequeno café com pão, e um pouco de manteiga, mas mal conseguiu levantar, cambaleante, não da ressaca, pois não bebia, mas do porre tomado no pesadelo que o atormentou a noite toda. Espreguiçou-se, então se pode ouvir o primeiro som saindo de sua boca, uma espécie de grunhido, cujos braços acompanhavam como num balé sem sentido, encaminha-se ao pequeno banheiro, fecha a porta e não se pode ver nada, depois de algum tempo ouve-se o barulho da descarga. Sai do banheiro.
 - Se ao menos tivesse um cão, ele poderia sorrir para mim, abanar o rabo, lamber minhas pernas, latir para mim...quem sabe não me sentisse tão s´, tão sem ninguém, tão e.t., tão  brasileiro, se bem que brasileiro nunca está só, ou é casado, ou tem amante, ou namorada, ou tem...(pensou), existem tantas formas  formas de amar, como não consegui uma para mim, como não encontro ninguém que me olhe com algum interesse, além da repulsa de não ser o que gostaria de ver, de falar, de abraçar...(dá de ombros)mas tou acostumado com isto, minha vida toda. (Senta-se na cadeira velha de palha). Toda minha porcaria de vida, desde pequeno, aquele bando de irmãos, eu apesar de ser o caçula, era esquecido por todos, pai, mãe, irmãos, até os bichos...lembra do cachorro que gostaria de ter  ? pois é, , os cuscos da casa, nenhum brincava comigo, no máximo , ladravam enraivecidos, claro, incitados pelos meus irmãos, que pelo visto me odiavam. Minha mãe nunca me deu peito, nem carinho, meu pai nunca me deu colo. Aprendi a caminhar me arrastando pelo chão. Esqueciam de mim na rua quando anoitecia e todos entravam para dentro de casa, e eu confundido com a lama ficava ali, mas não chorava, apenas ficava ali, sob   luar, a única coisa bela que lembro da minha infância, a Lua. (Neste momento cai uma lágrima de seu olho, vlta-se parea a janela e o dia amanhece, só um rastro de luar e uma única estrela que brilha sem parar lá longe no firmamento - as luzes apagam-se).

ps. Obrigado Ivo Bender por esta inspiração teatral e matar um pouca a saudade que sinto do palco.

5 comentários:

  1. Jair, Jair, es sólo una excelente escena teatral... o es también un instante de nuestras propias vidas? ¿Cuántas veces hemos tenido un monólogo con nosotros mismos, una confrontación dura y despiadada con esos pensamientos nuestros, los más profundos, esos que preferimos no ver ni oír? A pesar del dolor que producen, es positivo hacer este ejercicio para conocernos mejor y mantener viva esa rosa de la lata...
    Me ha gustado muchísimo el monólogo, con un final de fuerte impacto emocional...
    Jair, Jair, escritor sensible y profundo, un inmenso abrazo... con las luces encendidas!

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    1. Querida Mercedes, Mercedes, tua presença me enche de felicidade, pela lembrança, pelo carinho, pelo comentário ímpar...foi realmente uma inspiração teatral, pois desde que conheci este Senhor das Letras e vivenciador e criador do Teatro Ivo Bender, tenho tido lembranças e leves saudades da atuação, do 'grupo' necessário para se fazer teatro, de amigos passados, enfim...na hora do texto, veio-me o que tento sempre trabalhar em mim, minhas dores, invenções de dramas, minhas referências...naõ te parece aquele quadro de Van Gohg, a miséria me leva aos Miseráveis de Vitor Hugo (claro, com suas devidas proporções), e lembranças inverídicas de minha infância, é uma fala alegórica, de algum personagem que talvez tome forma, ou não. Sempre quero e gosto de me falar positivamente. afinal de alguma forma ou outra, algumas pessoas leem, mas este é meu resultado na busca de minha literatura (barata ? rsrsrs). Obrigado Mercedes, Mercedes, teus questionamentos me são necessários e enriquecedores, eu tento criar personagensm que ainda se perdem entre o meu alter ego e a criação literária (não sei se tenho o direito de falar a palavra 'Literária', ela é profunda demais para uma jovem senhor que descobriu na internet uma possíbilidade de voz interior, de palavras, estas sim, as adoro.Gracias sempre Mercedes, Mercedes.
      ps. Fechadas as cortinas, venho a frente do palco agradecer-te, como merecem ser agradecidos cada aplauso, obrigado e meu sempre imenso abraço, minha mui querida amiga.

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  2. Meu amigo... não ando querendo discutir solidão... talvez porque ande sentindo-a doer nos ossos... mesmo envolta por multidões... É a nossa alma defeituosa... sempre voltada ao não... têm dias em que dá pra suportar... em outros somente submergir... so sorry, ando triste, mas ando... sempre em frente... até quando Deus permitir... Beijos meu querido, sem confetes, mas sempre sinceros...

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  3. Minha querida Anaís, não seria meu post mais recomendado para tu leres, mas é tudo alegórico, assim sei expor minhas dores profundas da alma, como um Augusto dos Anjos abuso do grotesco, da pobreza, mas tento trazer a beleza para dentro do que escrevo, claro, a não ser quando tou surtado e saem certas pérolas quase que exaltando a tristeza, o que é errado. Bem sabes que acompanho teu blog, gosto demais do que escreves, talvez por me ver muito ali, senão na literalidade, como algum sentimento parecido, alguma dor que não sabia o nome, ou sorriso quando dá tudo certo...bem sei o quanto és forte, afinal és mulher, e to pra ver ser mais forte na face da terra, mas estás em ótima companhia, enquanto Deus tomar conta de teu coração e pensamentos, as coisas boas surgirão e então sem mais nem menos esquecemos os sofrimentos e embarcamos noutra...e seguimos, como devemos fazer, como tu estás fazendo. Meu carinho, meu respeito e meu sempre imenso abraço.

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