Havia sol. Espiou por uma fresta e voltou a enrolar-se nos cobertores e edredons que parecia ninho de uma ave pré-histórica. Podia sentir o vento que batia na janela, alguns gritos de criança ao longe, talvez indo para a escola que havia ali perto...Há muito não saia fora do patio, onde a vegetação começava a tomar conta, a grama outrora verde e bem cortada, agora dividia espaço com as pedras que formavam o caminho do portão até sua casa, e as ervas daninhas que pareciam sentir-se a vontade, esparramando-se pelo terreno, algumas ousando a subir as paredes da casa. A despensa estava ficando vazia, precisa fazer compras, senão estaria caçando ratos ou sendo caçado por eles. Fazia dias que graças ao muro alto na parte da frente, não conseguia ver ninguém, isso o aliviava e o mantinha calmo, pois sempre na presença de outros seres humanos, sua autoconfiança desaparecia e um estranho estado entre euforia e choro, fazendo com que as pessoas se afastassem. Seria ele um louco ? Havia sol. Afastou o sofá que tinha mania de colocar na porta, então colocou primeiro um braço, depois uma perna, a outra, outro braço, estava na rua. Fechou os olhos. Havia sol. Ouviu vozes, eram os vizinhos laterais nas suas lidas que ele sabia bem de cor. Olhou para o lado e estranhou a ausência daquele vulto que sempre o espreitava, chegando a sentir raiva por vezes, mas hoje ao deparar-se com sua ausência, sentiu um estranho vazio. Colocou a mão no peito, mas o coração continuava a bater...pensou que o coração do vulto tivesse parado, talvez sim... lembra agora ter ouvido barulho de sirene, estava tão próximo que pensou que fazia parte de seu sonho, daí lembrou que há muito não sonhava. Voltou para dentro de casa, fechando a porta, encostando o sofá e tapando com um pano o fresta por onde via se havia sol ou vulto.
quinta-feira, 25 de abril de 2013
quarta-feira, 24 de abril de 2013
É COMO SEMPRE FOI
Senhor de mim mesmo
by P.S. Kurtz
Mudança, reinvenção e aceitação
Apenas um ano depois
Tudo parece tão distante agora
Tudo parece um sonho
Tão longe de acontecer
Tão longe de ser verdade
Um ano de dor, depois de anos de dor
Achei que queria
E, como antes, o frio sopra na minha alma, mais uma vez
É como sempre foi
É como sempre foi
Como sempre será
Uma mudança não desejada nunca se tornará uma mudança
Uma reinvenção nunca ocorrerá sem a vontade
E tudo segue o mesmo rumo, o mesmo velho e tão conhecido caminho
A cama vazia, a amiga solidão, o beijo em vão
E, de novo, o frio sopra na minha alma, mais uma vez
É como sempre foi
É como sempre foi
Como sempre será
Nunca serei o espírito desbravador de caminhos cheios de emoção
Frio, me recolho ao meu quarto sozinho, senhor de mim mesmo
Como dezembro de novo em janeiro
Vindo e indo e indo e vindo
segunda-feira, 22 de abril de 2013
INFINITO AZUL...
construyó de agua su casa
y la pintó de azul,
del lúdico azul que
habita entre peces y océanos.
by Silvia Zappia
(trecho do poema AZUL DE ÁGUA)
Outro dia li um poema tão etéreo e azul, e lembrei de RosanaAzul do blog Asas da Liberdade, mas o poema que li foi no blog en-zigurat de minha amiga Silvia Rayuela Zappia...eu sempre me vejo em seus poemas, identifico suas metáforas, deliro com suas palavras.
Estava perdido num redemoinho de dores, mágoas e assombrações. Os dias cheios de nãos, pessoas cheias de ódio e indiferença, então procurei refugio dentro de mim. Isolamento e solidão. Meu blog e amigo é onde respiro estando abaixo da água, abaixo do solo que me soterra e não me permite ser feliz (mas o que é felicidade ?).
Estava em casa, após reatar com meu psiquiatra e comprar as pílulas de minha felicidade artificial, mas que me dá sobrevida e paciência como meu estranho dia a dia, com as pessoas sem paciência...dormi e a casa era azul feita de água, onde não me afogava, apenas me deixava engolir pelo infinito azul...assim não estarei triste nem alegre, estarei brincando com as flores do campo, com os peixes do ar , e neste estado lúdico encontrei a paz que preciso para sobreviver mais uma semana.
quarta-feira, 17 de abril de 2013
SIGO ENGANADO OU ENGANANDO MEU VIVER
Dores de Amores
Luiz Melodia
Eu fico com essa dor
Ou essa dor tem que morrer
A dor que nos ensina
E a vontade de não ter
Sofrer de mais que tudo
Nós precisamos aprender
Eu grito e me solto
Eu preciso aprender
Curo esse rasgo ou ignoro qualquer ser
Sigo enganado ou enganando meu viver
Pois quando estou amando é parecido com sofrer
Eu morro de amores
Eu preciso aprender
sexta-feira, 12 de abril de 2013
DIAS PIORES E TRISTES
Dias piores e tristes estão por vir, quando o sol se por e surgir no céu escuro um pedaço de lua minguante, envolta de nebulosidade, criando um ambiente propício ao infortúnio. O mal cheiro está no ar, alguns uivos ao longe, não se pode identificar, cães selvagens, leões, lobos ou ratos...a imaginação é fértil quando se esta com medo. Continuam os uivos.
Após desligar a televisão os telejornais continuam, como se seu cérebro estivesse aberto a todos os canais de televisão, e como no Laranja Mecânica não conseguia fechar os olhos,e a dor,a violência, a dor a violência a dor a violência exibiam toda sua volúpia, mostrando claramente dentro dessa escuridão que era chegada a vez da dor e da violência, agora não só vendida nos comerciais, agora aqui, ali, na tua esquina, na minha casa.
Acabaram de matar teu filho no portão de casa, chegou a ouvir o tiro fatal que arrebentou seu crânio ? Conseguiu continuar jantando ?
Dia desses foi encontrada mais uma criança numa lata de lixo, mas graças a Deus estava viva e será encaminha para adoção e terá uma segunda chance.
Um ex-lutador profissional, viciado em drogas, matou um garoto, batendo nele até morrer.
Um professora foi morta por um aluno na frente da turma, quando lecionava ciências físicas e biológicas.
Os pesadelos são os mesmos, dormindo ou olhando televisão, ou abrindo a janela e espiando para a rua:
“A violência travestida faz seu trottoir
Em anúncios luminosos, lâminas de barbear
Armas de brinquedo, medo de brincar
A violência travestida faz seu trottoir” by Engenheiros do Hawaii
quinta-feira, 11 de abril de 2013
OS VIVOS E OS MORTOS
DIÁLOGOS DA MORTE
Atravessar portas portais espelhos
de água ou de vidro
tocar levemente a flor da vida
que adorna o caixão da morte
o rio escorre suas águas
até as profundezes da alma
onde estarei livre dos teus olhos
de vidro de lama de dor
sob o sol noturno sobre teu túmulo
escrevo estes versos rotos
nascidos do vômito dos vermes da dor
sentado ali no sepulcro ficarei sob a lua
*Augusto dos Anjos foi um poeta brasileiro que tratava deste tema que tanto me fascina ou o que me sobra quando entro na órbita depressiva, a morte. Augusto dos Anjos inspirou este post...
terça-feira, 9 de abril de 2013
MINHA VIDA PASSOU POR PASSAR
"Canção Para Uma Valsa Lenta”
Mário Quintana *
Minha vida não foi um romance…
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amar, não digas, que morro
De surpresa… de encanto… de medo…
Minha vida não foi um romance
Minha vida passou por passar
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.
Minha vida não foi um romance…
Pobre vida… passou sem enredo…
Glória a ti que me enches de vida
De surpresa, de encanto, de medo!
Minha vida não foi um romance…
Ai de mim… Já se ia acabar!
* um poeta anjo que tornou-se um anjo poeta.
Era para ser um dia de festa, assim são os aniversários, hoje já sobrevivo sem tentar o suicídio, mas que surpresa, o dia logo jogou sua primeira pedra,e eu aceitei e revidei, logo começaram a chover pedras, não devia ter aceitado a provocação, enfim...Meu anjo poeta é um presente de Deus, seus poemas sempre irão me confortar, dizer que não é tão mal viver assim, aqui, só. Gosto dos poemas dele porque me fazem sorrir, chorar, sentir-me mais humano, o que estou perdendo à medida que a humanidade evolui...
Também não ficarei mais sentado na calçada esperando as cartas que nunca chegarão, que ninguém me escreveu ou irá escrever, que ninguém me viu ou irá querer ver. Só sei que tenho eu , eu e mais eu...e depois da tempestada, a bonanza e depois da festa, a ressaca, e depois, e depois, e depois eu vou descobrir que: só Deus me salvará, num dia de muita misericórdia. Mas não conto com isso, como não conto com tuas palavras de amizade e conforto, esta não foram feitas para meus ouvidos. Péssimo dia para postar. Nem lembrava mais quanta mágoa ainda tenho, e que a maioria dos perdões eu ainda não dei.
Aniversário fecha ciclos,e logo fecharei outro, que são meus quatro anos neste blog, que já me deu tanta alegria e indiferença. O portal de espelhos será fechado
.
segunda-feira, 1 de abril de 2013
QUERIA QUERER GRITAR SETECENTAS MIL VEZES
PODRES PODERES
Caetano Veloso
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
E perdem os verdes somos uns boçais
Queria querer gritar setecentas mil vezes
Como são lindos, como são lindos os burgueses
E os japoneses mas tudo é muito mais
Será que nunca faremos senão confirmar
A incompetência da américa católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos?
Será, será que será, que será, que será
Será que esta minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir por mais mil anos?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
índios e padres e bichas, negros e mulheres
E adolescentes fazem o carnaval
Queria querer cantar afinado com eles
Silenciar em respeito ao seu transe, num êxtase
Ser indecente mas tudo é muito mau
Ou então cada paisano e cada capataz
Com sua burrice fará jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades, caatingas e nos gerais
Será que apenas os hermetismos pascoais
Os toms, os miltons, seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome, de raiva e de sede
São tantas vezes gestos naturais
Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo
Daqueles que velam pela alegria do mundo
Indo mais fundo tins e bens e tais
Assinar:
Postagens (Atom)