NÃO SEI DANÇAR
Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria...
Abaixo Amiel!
E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.
Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.
Perdia a saúde também.
É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.
Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu tomo alegria!
Eis aí por que vim assistir a este baile de terça-feira gorda.
Mistura muito excelente de chás...
Esta foi açafata...
– Não, foi arrumadeira.
E está dançando com o ex-prefeito municipal.
Tão Brasil!
De fato este salão de sangues misturados parece o Brasil...
Há até a fração incipiente amarela
Na figura de um japonês.
O japonês também dança maxixe:
Acugêlê banzai!
A filha do usineiro de Campos
Olha com repugnância
Para a crioula imoral.
No entanto o que faz a indecência da outra
É dengue nos olhos maravilhosos da moça.
E aquele cair de ombros...
Mas ela não sabe...
Tão Brasil!
Ninguém se lembra de política...
Nem dos oito mil quilômetros de costa...
O algodão do Seridó é o melhor do mundo?... Que me importa?
Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos.
A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca.
Eu tomo alegria!
by Manoel Bandeira
Não conhecia esta preciosidade de Bandeira ... tão lírica, tão forte, tão real, tão atual ... anotei ...
ResponderExcluirMeu rei, meu adorado amigo Bratz, Bandeira é o máximo...já conhecia, mas não sei porque me veio uns pedaços, então procuro no são google que me trouxe ele inteiro...e em quatro palavras definiste o poema, que poder de síntese meu rei, e eu acho isso também, ele é debochado ao mesmo tempo que é cruélmente crítico, mostra um Brasil bobo, infantil , ingênuo e já com más intenções políticas, mas que apesar de tudo, de todos, de toda a porcaria que nos jogam na cara, em nossas vidas, nos roubando descaradamente, apesar, somos um povo que gosta de ser feliz, tenta, então eu tomo alegria, apesar de tudo, e Bandeira, um visionário, nos coloca, quase como uma chacota, mas trata de um assunto muito sério, tão sério que parece que está se repetindo, de uma forma bem pior...sem falar na beleza dramática do poema, adoro recitá-lo em voz alta. Este poema não tem a cara do Brasil interiorano ? Carinho respeito e abraço.
ExcluirSoneto-acróstico
ResponderExcluirAo poeta maior
Mas essa nossa lírica como seria então
Assim se Manoel Bandeira não existisse
Nada original, talvez nenhuma inovação
Outro mundo, onde talento não afluísse.
Ele parecia de Pernambuco o fiel xerife
Lavrou atas de alvíssaras àquela terra
Beberibe e às belas praias de seu Recife
Aquele que sai aos seus nunca não erra.
Nos legou páginas e páginas de beleza
Deixou acervo para deliciar nossa mente
Engrandeceu a poesia com toda certeza.
Insigne prócer do Brasil, de toda gente.
Resta-nos agora só sua memória acesa
Aliviando a nossa saudade certamente.
Meu mui estimado, venerado amigo e poeta Jair, mais um mimo, me sinto tão lisonjeado com teus limeriques, estes comentários poéticos, sempre dando um brilho a mais ao que posto, aos seres que me inspiram a publicação, traze-me uma reverência merecida a estes poetas, autores que humildemente me sirvo no meu blog:
Excluir"Nos legou páginas e páginas de beleza
Deixou acervo para deliciar nossa mente
Engrandeceu a poesia com toda certeza.
Insigne prócer do Brasil, de toda gente."
Mais que uma bela homenagem, tuas palavras traduzem o que nos foi deixado por este ser tão especial das letras, seu legado, uma riquissima estrofe.Obrigado meu amigo. Carinho respeito e abraço.
Que beleza de partilha essa!Também desconhecia! abraços, linda semana,chica
ResponderExcluirAdorável e querida amiga Chica, acabei de vir de um de teus blogs, que amo...obrigado por tua iluminadora presença, é um imenso prazer compartilhar Manoel Bandeira. Carinho respeito e abraço.
ExcluirOlá Jair
ResponderExcluirEstou com pressa, não comento agora.
Só venho agradecer a sua visita no meu Birras. O facto de se ter envolvido na estória, diz bem do seu interesse pelo assunto... achei engraçado desejar vingança...
Mandei-lhe email, recebeu?
Abraço, e boa semana.
Dilita
Minha querida de além Dilita, tua presença me tras alegria, com certeza rs...gosto do Birras, tuas histórias, tua maneira de trazê-las até esta superfície difícil que é a internet, a exposição de nossos escritos, e eu tenho a sorte de encontrar e poder saborear uma boa leitura aos meus sentidos e alma e coração...amei receber teu email e emai, estou a responder...tua outra postagem também me encantou...como não ter uma semana boa, com este teu desejo do coração, obrigado. Carinho respeito e abraço.
ExcluirOi!
ResponderExcluirAgradeço suas visitas e estou aqui para apreciar este espaço tão maravilhoso! Adorei cada palavra!!! Nosso eterno Manoel Bandeira
Querida Lorena, gosto desse nome,me trás uma saudade estranha de alguém que se chama assim,me faz bem, enfim...mwe faço presente em teu blog, gosto de tua pessoa que conheço por tua escrita e tua carinha linda do perfil rs, és de um estilo romântico, e confesso, estranhamente e sem querer sinto-me atraído por alguém,aconteceu ontem (e o melhor,é recíproco, enfim, aguarde-me mais comentários no teu delciosamente romântico blog. Tua presença alegrou este post. Carinho respeito e abraço.
ExcluirOlá, Jair
ResponderExcluirBoa noite,
O salão - ambiente do poema, simbólico - simula que todos aparecem em harmonia em uma festa -carnaval - e mesmo que o eu-lírico se identifique com a festividade do carnaval "Eu tomo alegria!" - não estão de
forma alguma harmônicos.. com extrema ironia, Manuel Bandeira apresenta o dilema da construção da identidade brasileira: o conflito das relações inter-raciais.
Agradeço pelo carinho,belos dias,abraços!
Felisberto, meu honroso amigo, porque é uma honra ter tua presença e teu rico comentário, és especialmente inteligente, porque inteligente qualquer um pode ser, mas tu és especial e abrilhanta e trás um nível acima neste blog. Teu conhecimento contagia, inspira e nos faz querer aprender ou reaprender mais e de novo. O poema de 1920 e poucos, meio modernismo, meio pós, a antropofagia, a cultura japonesa milenarmente conhecida por “não se misturar”, aqui no Brasil dança maxixe, queriam novos conceitos para a arte, afinal não era mais possível plagiar a arte europeia, acontecia algo aqui que era nosso diferencial, nossa própria cultura, que já se mostrava muito rica, muito misturada, nascendo uma nova fênix inexplorada...amo literatura,é um dos assuntos que me toma e me possui...Foi um imenso prazer conectar contigo amigo Felisberto:
Excluirps. Carinho respeito e abraço.
O que é isso pelo amor de Deus? Eu (me definiu) em suas palavras, me sinto incrível.
ResponderExcluirGossip of Men,
http://gossipofmen.blogspot.com.br/
Isso é poesia das melhores, de todos os tempos, de todos os poetas...eu gosto tanto de poesia e sei o quanto uma pode tocar a gente, por isso fico extasiado com tua manifestação, através desta visita, deste comentário, já valeu a postagem. Obrigado Crhis, seja bem vindo.Carinho respeito e abraço.
ExcluirQue lindo isso!!! Eu gostaria de me embriagar de alegrias todos os dias, e acordar com uma ressaca de felicidade!!!
ResponderExcluirBjus
http://simplesmentelilly.blogspot.com.br/
Querida Lilly, obrigado por tua visita e obrigado por comentário tão poético, eu também, quando coloqueio título do post, pensava nisso (mais ou menos rs), queria me embebedar, ficar inconsciente de poesia, e estar entorpecido da dor de viver nos dias de hoje...divaguei rs. Mas fiquei encantado com tuas palavras, quem dera ressacas e ressacas de felicidade. Precisamos. O povo brasileiro precisa. Carinho respeito e abraço.
ExcluirÉ maravilhoso, ele escreveu esse poema em Petrópolis, em 1925, eu não conhecia esse poema, e estou com o livro na minha frente! rss
ResponderExcluirQue rica postagem, adoro Manuel Bandeira, é real, verdadeiro, direto, modernista.
Grande abraço, amigo Jair, linda semana!
Minha querida amiga Tais, esta sincronicidade, é um bom sinal de boa amizade...e´um de meus poetas para sempre, e eu amo a dramaticidade deste poema, eu gostava de recitar, mas uma amiga que deu a melhor vida que eu já vi nele, a Renata - lembrei disso agora, de quando fazia parte de um grupo de teatro o Verso Explícito de Cachoeira do Sul (credo, me afoguei no passado rs). Este é um dos trangressores que deram um rumo para sempre único na literatura genuinamente brasileira, sem perder ou deixar de acompanhar os passos da humanidade.Viva Bandeira. Sempre um brilho a mais no meu dia conectar com a amiga, obrigado. Carinho respeito e abraço.
ExcluirBoa noite, Jair
ResponderExcluir" Não sei dançar", do nosso querido poeta Manuel Bandeira traz com força a realidade da Mestiçagem. Uma belíssima escolha para a sua postagem.
Abraços!
Minha querida Marli, muito me honra tua visita, ele acrescentou isso neste nosso país que sempre negou suas origens, a arte dele foi superior, genial, profundamente trouxe uma realidade, através da arte, que sempre foi negada, mesmo não tendo como negar, pois a negação é um não a si mesmo, e a poesia resiste ao tempo, aos costumes, mas sempre fica o ensinamento, e a obra é imortal. Obrigado por reverenciar um poeta que marcou seu tempo,nosso tempo, para sempre. Carinho respeito e abraço.
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