sexta-feira, 31 de julho de 2015

OS POEMAS

 

Os Poemas

 
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…
 
by Mário Quintana
 
 

terça-feira, 28 de julho de 2015

TRISTE





A vida é um passeio
(que não planejamos)
num rio de enseadas calmas,
escuras cavernas,
vertigens fatais.

Somos náufrago ou timoneiro
nessas águas que tudo levam:
estrelas, escolhas,
destroços e abraço.

Um dia vamos descobrir
nosso destino:
que não sejam só cinzas
ou ossos,
mas um oceano, uma praia
  • um regaço.
by Lya Luft




Não sei porque insisto em assistir telejornal, Maju talvez, para adivinhar o tempo, mas isso é a parte boa. Triste, como tenho me sentido, como tenho definido este sentimento que me toma. Quando vejo a saúde pública. Quando o repórter não tira o microfone da boca do filho da vítima numa maca no corredor do hospital, arrancando o último suspiro de dor, do paciente, do acompanhante. Eu posso precisar de um médico amanhã. Como vou fazer ? Assim vou fazendo e tecendo e construindo meus dias, meu tempo que a cada passo deixa de ser, perdido em alguma esquina da vida, meu tempo eu não vejo mais. Não há tempo para ensaios. Salto do sofá ao ver uma manifestação de pessoas ir pelos ares, uma mulher bomba estava no meio. Não sei se vi destroços, pedaços de carne humana voando pelos ares, se vi meu coração partido, minha alma em lágrimas. Triste. Triste quando o apresentador invade o vídeo e indignado conta que crianças eram abusadas pelo marido mãe, com a anuência dela. As crianças serão empilhadas, como prisioneiros nazistas, em instituições, verdadeiras loterias; quem conseguirá chegar a ser adulto íntegro, quem sobreviverá ! Triste o rastro no meio do mato, na selva, revoada de pássaros assustados, tendo de sair voando na noite, pois o galho que dormiam, virou estatística, é árvore caída, é mata desmatada. Mais um rombo nas contas públicas, quer coisa mais triste que isso, bilhões desviados por senhores bem assalariados, senhores sem escrúpulos, senhores, senhores. Que triste. Desligo a televisão, mas não desligo minha vida. Rezar um Pai Nosso e sair para a rua e tentar ver o céu e tentar sorrir para o Sol, sentir o tempo que acaba de deixar de ser. Sentir os passos, seguir em frente, descobrindo aos poucos o sentido de tudo isso, o sentido de minha vida. Os sentidos.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

PEQUENOS DESAFIOS

 



Quando acordei já era tarde demais, as águas subiram e inundaram tudo, estávamos ilhados...acordei com batidas fortes na porta, quando chego, é meu vizinho apavorado, pedido para passar pela minha área, pois a chuva havia sido demais e havia entupido uma calha. Disse que sim, e voltei para a cama. Sinto relâmpagos e ouço trovoadas. Papai do céu está bravo, ouço o eco de minha avó dizendo ao meu ouvido, me cobrindo para não sentir frio. Fecho os olhos e estou lá, pequeno, inocente, dormindo na cama de meus avós, entre eles. A melhor noite dormida da minha vida...mas passou, acabei de perder o sono e não vou tomar outro remédio a estas horas da madrugada, corro o risco de não acordar para o trabalho. Então perco de vez o sono. Trinta dias longe, trinta dias esquecido de tudo e de todos, quase uma hibernação. Como um Garfield louco gritarei pela manhã: me atinja segunda-feira, abra as portas da vida para eu passar, para eu viver. Aos poucos visualizo minha saída cheia de tristeza e melancolia, meus passos apressados para fugir dali, esquecer, e quase consegui, não fosse a volta. Nas longas horas sob o Sol, lendo Ivo Bender, Caio Fernando Abreu e Lya Luft, redescobri as palavras que sumiam na minha garganta, antes de chegar a boca, antes de correrem por meus dedos e encontrar um papel em branco. Mas precisava me recolher, me retirar deste imenso ódio que conheci, e me jogar no amor, nos braços de minha mãe, foi o que fiz, e mais uma vez ela me salvou.




ps. Queridos amigos, no dia do amigo rs, voltarei ao post anterior para comentar os comentários (eu gosto), precisava postar algo, pra ver se conseguia escrever, também sentia um vazio, que esta postagem ajudará a me preencher. Passo por um momento interessante de minha vida, onde as escolhas se mostraram erradas, embora eu mesmo tenha decidido, mas como toda escolha tem uma consequência, estou correndo este risco, tentando me refazer, e principalmente estar em paz comigo.
     

quarta-feira, 1 de julho de 2015

A UM OBJETIVO NUM INSTANTE





METAMORFOSE AMBULANTE

Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Eu quero dizer
Agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
Eu vou desdizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha velha velha velha velha
Opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

by Raul Seixas