Uma leve
dança de vidro, que se quebra quando cai. Mesmo que flutuasse
numa loja de cristais, a falsa brisa não sustentará no
ar nenhuma arrogância ou indiferença dos teus olhos que
me desconhecem, me ignoram. Os estilhaços do carro capotado,
formavam montes de vidros, falsos cristais, falsos diamantes, que
dona Elvira não resistiu seu brilho e pensou no túmulo
de sua adorada irmã morta, desde sempre morta no ventre de sua
mãe. Elvira a gêmea que sobreviveu. Ofélia, o
feto morto. Todos correram para ver o acidente...Fui o primeiro a ver
um filete de sangue que saia lentamente de dentro do carro capotado,
apontei e quanto mais se olhava mais sangue surgia, agora aos
borbotões, jorrando nas pessoas que começaram a se
afastar horrorizadas. Volto para casa e continuo minha caça as
palavras, agora junto mais uma: A - c - i - d - e - n - t - e, e mais outra: S - a - n - g - u -e sangue. Da
janela vejo a pessoas passarem apressadas comentando apavoradas, que
não havia corpo dentro do carro...quando um último
grupo passou, pude ouvir: dona Elvira ficou lá, catando
pedaços de vidro que não haviam sidos manchados pelo
sangue, para enfeitar o túmulo de sua irmã. Vidro,
pensei e cacei mais uma palavra. V – i – d – r – o, repeti
para mim, era realmente uma bela palavra, para aprisionar no papel ou
na canção.
“Vidro
O cristal
Um vitrô azul
A louça chinesa
Que nunca quebrou”
O cristal
Um vitrô azul
A louça chinesa
Que nunca quebrou”
by Vitor
Ramil
Um texto dramaticamente interessante!
ResponderExcluirInteressante partilha Jair!
Abraço
Meu caríssimo fotógrafo Rui, amigo de além mar, descobriste uma forte característica que carrego comigo, sou muito dramático rs, herança do teatro na minha juventude. O personagem é um colecionador de palavras, tá meio tosco mas pretendo explorar esta característica dele, escrevendo sequencia ou outra coisa, ou não. Muito obrigado meu caro pela sempre bem vinda visita, e palavras tão estimulantes. Carinho respeito e abraço.
ExcluirDramático, intenso, mas verdadeiro. Bem ao estilo de Ramil.
ResponderExcluirMeu rei, meu adorado amigo Bratz, hoje quando li este post fiquei meio chocado e decepcionado ao mesmo tempo, e fui salvo por Márioo Quintana. Pois no delírio, escrevendo isso, comecei a ver Vitor Ramil, acho a obra dele densa também, uma amiga dizia que era uma música deliciosamente depressiva (no bom sentido ela dizia rs), mas não é uma obra fácil, mas ao mesmo tempo ele é lírico, e ele trás uma coisa que me fascina, a música a serviço da palavra, ele é um colecionador de palavras rs. Meu rei, lembro do Fael, porque sou dramático,e isso lembra novela (daí o Fael), e novela dramática é mexicana, fiz uma salada rs...Obrigado meu amigo, tua presença me faz bem, me faz sentir uma mão estendida, um abraço, carinho...Não tem preço tua presença aqui, obrigado por ser este homem maravilhoso que és e me fazer sentir feliz, um blogueiro feliz.Carinho respeito e abraço.
Excluir