É
apenas uma pancada de chuva de verão, logo passa; pensei em
minha avó que costumava dizer da rapidez com que a chuva de
verão chega e vai embora. Agora, eu , aqui no meio do caminho
sinto as primeiras gotas de uma água gelada e logo estou
encharcado, com frio e feliz, pois longe do olhos de minha avó,
caminhava no meio fio, que formava uma corredeira. Outras crianças
apareceram de todos os lados, parecia que aquele meio fio era o rio
principal das brincadeiras. Como não gostei da companhia –
meu destino é andar só como o Kung Fu de David
Carradine – segui com meus passos molhados, observando as
árvores, que pareciam bem felizes, talvez porque o vento fosse
fraco e a chuva abundante. Pensei: É apenas uma pancada de
verão. Com os óculos embaçados tateava a cada
passo que dava, quando percebi a água estava em meus
joelhos, olhei em volta e estava ilhado, só eu e um mundo de
água. Pensei no dilúvio e nos cinco minutos que se
leva para morrer afogado. Embora a morte sempre estivesse junto de mim,
me seguindo, se esgueirando por entre paredes e postes e pessoas,
mas nunca me perdendo de vista. Eu não sabia, até
aquele momento em que a água ultrapassava meus joelhos, e eu
perdido sem saber para que lado seguir. Foi então que a vi
inteira pela primeira e talvez última vez. Não me
pareceu assustadora como sempre me pintaram, não tinha uma
foice, seu rosto não era uma caveira, e suas vestes não
eram negras. Pelo contrário, me pareceu gentil ao indicar um
caminho que não conseguia ver, face a água, que a
estas alturas passava de minha cintura. Quando cheguei perto, ela me
sorriu, pensei: o sorriso da morte. Não tive medo, nem a
sensação de enfraquecimento para a morte, pelo
contrário, me senti vivo e feliz, pois atravessei aquele mar
de água de verão na rua, como um cego, tateando o chão,
apenas atendi o chamado da morte, que desapareceu assim que estava
numa calçada seguro. Pensei em minha falecida avó,
então percebi que não era a morte, mas um anjo, com um largo sorriso, que me
trazia mais uma chance de viver e tentar ser feliz.
terça-feira, 17 de janeiro de 2017
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Acróstico
ResponderExcluirUm evento absoluto porém universal
Morremos todos quando chega o dia
Se fôssemos eternos, ô vida sem sal!
O fato da passagem dá à vida alegria.
Nem tanto a terra, nem tanto ao mar
Eventual e nada certo virá ela quando
Tudo que sabemos: é sempre regular
Onde estejamos ela está observando.
À ceifadeira ninguém dedica poemas
Morre-se e os poetas se calam então
Ou ela é ruim ou cheia de esquemas.
Realmente, um dia todos aqui estão
Totalmente alegres e sem problemas
E sem um aviso ela chega de roldão.
Meu bom amigo, meu escritor de cabeceira, senhor de todas as palavras, Jair Lopes. De novo eu as voltas com a morte, como inspiração para escrever...e novamente tu me reles em verso, um belo soneto, contando daquela que falo e me rendo, não esqueci, continuas a ver a entrelinhas de minhas pobres frases mal traçadas, do que tendo dizer, enquanto sinto, enquanto meu cérebro luta para encontrar palavras. Caro Jair Lopes bem sei dessa única verdade, um dia chegará nossa hora, mas enquanto isso, preciso falar dela, não ter medo, ter oportunidade de me reinventar, e de rir até, dos monstros de minha infância. Obrigado Jair Lopes, autor de um livro meu de cabeceira Crônicas Esparsas. Com teus versos, palavras, poemas...sempre enriquecerá este blog e este blogueiro que aprendeu a gostar de ti, este sentimento novo ainda, que sentimos virtualmente, mas tão forte quanto um sentimento real, com gratidão, amizade, bem querer, como os humanos devem ser, OBRIGADO. Carinho respeito e abraço.
ExcluirLindo reconhecer o sorriso da avó e isso só pode ser bom presságio! abraços praianos,chica
ResponderExcluirChica do Céu, minha adorável amiga, sempre maravilhosa tua presença de luz e amizade...quando pequeno morei com meus avós por um bom período e foi marcante, sinto saudade até hoje. Gosto de presságios, mais a palavra, mas gosto, esperança, fé...minha vó era evangélica, lia a Bíblia e eu também (até hoje), me ensinou a ter fé no invisível, enfim...muito bom te receber por aqui, gracias. Carinho respeito e abraço
ExcluirMeu amigo Jair, você não é o único a pensar... confesso que de vez em quando também penso 'nela', fico indignada, mil perguntas surgem: por quê? Qual é o sentido? Isso até hoje os filósofos trazem à tona. E sem resposta, por isso que ainda se esgoelam nas indagações. E não sei o porquê que sempre me vem à mente Mário Quintana. Talvez porque brincava com ela, chamava-a de 'minha doce prometida', lembras? Nosso mal é pensar. Mas os que nunca pensaram, conseguem ser alienados, que bom! (pelo mesmo nesse quesito levam vantagem).
ResponderExcluirEspero, no entanto, quando meu dia chegar, quando meu olhar tiver o brilho opaco da despedida, que eu tenha a doce ilusão de que 'ela' não me venha tão amarga, que me toque docemente e, sobretudo, com compaixão.
Grande abraço, meu amigo, fique bem.
Minha muito querida amiga Tais Mário Quintana pode ser a citação melhor que trás tais indagações, através daquele humor que nos trás em obras quase mágicas de tão irreais/reais para complemento do que tentamos pensar, tentamos saber. Já devo te dito em resposta de algum comentário para ti, mas lembro uma amiga, que por determinado tempo de nossas vidas andávamos muito juntos, e divagávamos por porque nossas preocupações com o mundo, com nossas eternas dúvidas que chegávamos invejar os idiotas e alienados que riam de tudo e não questionavam nada, mas logo percebíamos, que melhor era ter dúvidas, mas questionar, querer saber, manter a curiosidade da vida, mesmo que seja a morte, enquanto isso estamos vivos aqui escrevendo, falando questionando tudo e todos. Agradeço todo dia manter amigos assim, que ensinam, que me estendem a mão, trocamos palavras e gentilezas. Obrigado por ser esta pessoa e ser minha amiga. Carinho respeito e abraço.
ExcluirMe fez lembrar O Auto da Compadecida de Ariano Suassuna...
ResponderExcluir"Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre".
Mosaicos de uma vida, gosto desse nome, poderia servir para mim que monto minha vida como um quebra cabeça, enfim...fiquei lisonjeado e assustado ao mesmo tempo quando meu texto te faz lembrar Ariano Suassuna, que é um entidade praticamente da literatura brasileira...então busquei e lembrei mais do Auto, que fizeram até filme, daí eu vi também, com os olhos tortos, mas vi, a batalha da morte, que não perdoa ninguém, mas podemos vê-la de outra maneira menos fúnebre, podemos nos redimir neste momento que ninguém conseguirá fugir, fazer dela uma aliada e não a última inimiga sem piedade. Obrigado por este comentário e a citação de um grande da literatura brasileira como Ariano Suassuna. Carinho respeito e abraço.
Excluir