terça-feira, 1 de agosto de 2017

CARNE APUNHALADA


Resultado de imagem para ipes rosa na janela
Os punhais cravados nas costas, que não são largas Zélia Duncan, atravessaram meu corpo e atacaram meu coração que batia absorto a tudo e todos, me mantendo vivo. Sinto o sangue escorrer nas minhas costas, lembro de Cristo e no entanto não sinto a mesma passividfade, e não darei meu peito nem minha cara para ser esbofeteada, apenas ficarei assim, em silêncio, como estou a tanto tempo, enquanto meu sangue escorre corpo abaixo...Tenho medo dos remédios me confundirem a real realidade e me fazer sorrir junto de todos, mas não sou eu, não estou ali. Somos estranhos e egoístas, e juntos nos auto destruímos ou destruímos os outros. Eu sou os outros. Mesmo olhando pela janela e ver a cena que se repete nos últimos anos, uma árvore de ipê rosa. Cachopas de flores nas pontas de galhos secos, mas vivos e vitais no amparo da flor, na ponta. Por vezes percebo um leve sopro invisível, e uma flor flutuando se joga no vidro da janela, estendo a mão, mas não consigo pega-la, o vidro está fechado, como meu corpo apunhalado pelas costas. (eu só queria ser visto como os demais, que não subestimasse meu cérebro que está conectado ao meu coração, que sofre, sangra quieto dentro do meu peito, esperando o momento de parar ou partir para longe daqui, que é minha casa, que não é minha casa...) Talvez eu não derrame nenhuma lágrima, talvez troquemos olhares e olas durante o dia...mas de noite trancado no meu quarto, não quero fazer parte disso tudo que nos cerca, e na impossibilidade, afundo minha cabeça no travesseiro, tomando algumas gotas de rivotril, peço a Deus perdão, ajuda e cuidado, e Ele me faz adormecer, antes do desejo contido de morrer e não ser eu minha terra gotejada de sangue de minhas costas apunhaladas, meu finito latifúndio.