Os
punhais cravados nas costas, que não são largas Zélia
Duncan, atravessaram meu corpo e atacaram meu coração
que batia absorto a tudo e todos, me mantendo vivo. Sinto o sangue
escorrer nas minhas costas, lembro de Cristo e no entanto não
sinto a mesma passividfade, e não darei meu peito nem minha
cara para ser esbofeteada, apenas ficarei assim, em silêncio,
como estou a tanto tempo, enquanto meu sangue escorre corpo
abaixo...Tenho medo dos remédios me confundirem a real
realidade e me fazer sorrir junto de todos, mas não sou eu,
não estou ali. Somos estranhos e egoístas, e juntos nos
auto destruímos ou destruímos os outros. Eu sou os
outros. Mesmo olhando pela janela e ver a cena que se repete nos
últimos anos, uma árvore de ipê rosa. Cachopas de
flores nas pontas de galhos secos, mas vivos e vitais no amparo da
flor, na ponta. Por vezes percebo um leve sopro invisível,
e uma flor flutuando se joga no vidro da janela, estendo a mão,
mas não consigo pega-la, o vidro está fechado, como meu
corpo apunhalado pelas costas. (eu só queria ser visto como os
demais, que não subestimasse meu cérebro que está
conectado ao meu coração, que sofre, sangra quieto
dentro do meu peito, esperando o momento de parar ou partir para
longe daqui, que é minha casa, que não é minha
casa...) Talvez eu não derrame nenhuma lágrima, talvez
troquemos olhares e olas durante o dia...mas de noite trancado no
meu quarto, não quero fazer parte disso tudo que nos cerca, e
na impossibilidade, afundo minha cabeça no travesseiro,
tomando algumas gotas de rivotril, peço a Deus perdão,
ajuda e cuidado, e Ele me faz adormecer, antes do desejo contido de
morrer e não ser eu minha terra gotejada de sangue de minhas
costas apunhaladas, meu finito latifúndio.