A rosa de Hiroxima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
Quanta tristeza
Há nesta vida
Só incerteza
Só despedida
Amar é triste
O que é que existe?
O amor
Ama, canta
Sofre tanta
Tanta saudade
Do seu carinho
Quanta saudade
Amar sozinho
Ai de quem ama
Vive dizendo
Adeus, adeus
Nunca fui covarde
Mas agora é tarde
Amei tanto
Que agora nem sei mais chorar
Vivi te buscando
Vivi te encontrando
Vivi te perdendo
Ah, coração, infeliz até quando?
Para ser feliz
Tu vais morrer de dor
Amei tanto
Que agora nem sei mais chorar
Nunca fui covarde
Mas agora é tarde
É tarde demais enfim
A solidão é o fim de quem ama
A chama se esvai, a noite cai em mim
Amigo porteño si ves por la calle
Una chica morena
Con ojos ardientes
Y un aire de alguien
Que quiere volar
Parala y decile
Que existe un poeta
Que muere de celos
Y que ojos ajenos
Se Ilenan de sueños
Al verla pasar
Decile mi amigo
Tu que solo llevas
El tango en Ias venas
Decile porteño
Que yo simplemente
Ya no puedo mas
Busca convencerla
Que tengo mi pecho de amor tan herido
Que sin su mirada
Mi siento perdido
Que mucho le pido
Me vuelve a mirar
Gritale en la calle
Que existe un poeta
Que le hace un pedido
Que solo le pido
Que olvides el olvido
Porque quien lo busca
No puede olvidar
Que hei de fazer de mim,... (s/ título)
Que hei de fazer de mim, neste quarto sozinho
Apavorado, lancinado, corrompido
A solidão ardendo em meu corpo despido
E em volta apenas trevas e a imagem do carinho!
Defendido, a me encher como um rio contido
E eu só, e eu sempre só! ó miséria, ó pudor!
Vem, deita comigo, branco e rápido amor
Risca de estrelas cruéis meu céu perdido!
Lança uma virgem, se lança, sobre este quarto
Fá-la que monte no teu sórdido inimigo
E que o asfixie sob o seu púbis farto
Mas que prazer é o teu, pobre alma vazia
Que a um tempo ordenhas lágrimas contigo
E outras enxugas, fiéis lágrimas de agonia!
Solidão
Rio de Janeiro
Desesperança das desesperanças...
Última e triste luz de uma alma em treva...
- A vida é um sonho vão que a vida leva
Cheio de dores tristemente mansas.
- É mais belo o fulgor do céu que neva
Que os esplendores fortes das bonanças
Mais humano é o desejo que nos ceva
Que as gargalhadas claras das crianças.
Eu sigo o meu caminho incompreendido
Sem crença e sem amor, como um perdido
Na certeza cruel que nada importa.
Às vezes vem cantando um passarinho
Mas passa. E eu vou seguindo o meu caminho
Na tristeza sem fim de uma alma morta.
Soneto a quatro mãos
(com Paulo Mendes Campos)
Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.
Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.
Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.
Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano