quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

NUVENS





NUVENS

para Helena Petkowicz, que vê nuvens pela janela comigo...


Tenho feito buscas de nuvens
as perdidas
as distantes
na memória, nos instantes
em que o tempo parou.
Tenho sonhado com nuvens
em que pulo de uma em uma
e olho do céu a terra
e vejo o menino deitado no chão,
olhando nuvens e sorrindo,
brincando com os caneiros do céu,
(que são as nuvens que pulo).
Tenho tentado as sombras das nuvens
abaixo do Sol escaldante,
para que eu siga
para que eu diga
que há uma nuvem guardada no fundo da memória, 
e nela está minha infância perdida.

by Jair Machado Rodrigues 


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

NATAL E MORTE



Acordei...passei o ano todo acordando, nem sempre na hora, nem sempre querendo, mas atravessei  mais um ano, eu acho, não acabou ainda. Todas as mágoas vieram à tona, minhas dores esquecidas, meu amor perdido, todos os seres humanos"maus"  estão na minha frente, sempre me desafiando, desafiando minha paciência, meu humor, até meu silêncio.
Faz algum tempo, este louco tempo, fica me dizendo que já passou e eu nada. Nada de vida, nada de morte, nada de amor, nada de ódio, nada... 
"Você não sabe
O quanto caminhei
Pra chegar até aqui
Percorri milhas e milhas
Antes de dormir"
(Cidade Negra)
Cúmulus  nimbus se aproximam lentamente, sobre mim, como a morte, que espero seja leve e indolor, pois cheguei no limite do não limite branco (Caio Fernando Abreu), do abismo de uma juventude perdida, como os poemas nunca escritos poe Augusto dos Anjos, nem por nenhum morto ou vivo ilustre...
Não cortarei meus pulsos, pode não dar tempo de morrer, e, nunca gostei de ver meu sangue, nem sentir dor... mas meu coração  sim, este sabe bem o que é dor, mas quem se importa ? Nem eu quero saber mais de mim, não quero mais saber de nada... Deus é tudo, Deus é nada. Eis-me aqui, meu próprio avatar sem rumo sem planeta sem futuro sem eu sem amor sem caminho sem desejo sem destino.
"Um pobre diabo é o que sou
Um girassol sem sol
Um navio sem direção
Apenas a lembrança do seu sermão"
(!Ira)
Pobre Natal, pobre Natal geme o sino...nunca tive os brinquedos     que desejei, nem as ceias que via pela televisão, muito menos a solidariedade que era muito falada, não mais hoje. Envelheci e não vi nada de bom nisso, não aprendi, não me conformo, poi sei que não sou o pior dos seres humanos, já vi e convivi com muitos, horríveis, monstros, cruéis, medíocres, e todos, todos se deram bem, gratificações, títulos, poder... mas o que fazer quando não se tem ambição ? Concluo que não pertenço a este mundo, que estou completamente equivocado... estou cansado, acho que nunca fui um menino bom, por isso Papai Noel nunca encontrou minha casa.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

DIAMBA, NELSON MANDELA, DIAMBA





Aprendi que 20 de novembro é uma data sagrada para nós negros, porque nos lembra um grande mártir, um irmão de pele negra, evoluído que se permitiu viver entre nós para nos ensinar a viver em paz e harmonia, todos, independente da cor da pele, apenas a raça humana, era Zumbi, o Rei de Palmares.
Minha amiga Ju já me chamou de seu melhor pior amigo, por esquecer datas importantes, como o aniversário dela, dia do amigo, etc...esqueci que uma grande amiga, Maria Helena, seria homenageada (como foi) no dia 20 de novembro, por todo o seu trabalho no ensino, as conquistas de uma mulher, minha amiga, negra.
No dia 20 postei uma situação que havia ocorrido comigo naquele dia, ao pegar uma condução coletiva, enfim...Estava pensando antes do dia 20 em prestar uma homenagem aqui no blog, pensei num poema que recitei há muito tempo, quando jovem ainda, no grupo amador de teatro Verso Explícito (até hoje gosto desse nome). Este grupo de teatro da juventude foi o último grupo que pertenci, última tribo que amava poemas, mas passou, ficou a boa lembrança. (Embora tenha sido calorosamente acolhido, em minha passagem por BlogsVille, ter feito amigos que serão para sempre, mas como o personagem Astronauta de Maurício de Souza, continuarei vagando pela blogosfera).

o poema:

DIAMBA
by Raul Bopp

Negro velho fuma diamba
para amassara memória
o que é bom fica lá longe...

os olhos vão-se embora para longe
o ouvido de repente parou
Com mais uma pitada
o chão perde o fundo
Negro escorregou
caiu no meio da África

Então apareceu no fundo da floresta
uma tropa de elefantes enormes
trotando
cinquenta elefantes
puxando uma lagoa

Para onde vão levar esta lagoa?
está derramando água no caminho

Água do caminho juntou
correu correu
fez o rio Congo

Águas tristes gemeram
e as estrelas choraram
Aquele navio veio buscar o rio Congo!
Então as florestas se reuniram
e emprestaram um pouco de sombra para o rio Congo dormir
os coqueiro debruçaram-se na praia
para dizer adeus.

Raul Bopp era um poeta gaúcho modernista, um dos fundadores da Revista Pau Brasil, coisas importantes que revolucionaram o país com a Semana de Arte Moderna, tenho o maior carinho e respeito pela obra do autor, Cobra Norato é um de seus livros de maior expressão.
A propósito, este poema chegou até meus sentidos através de meu amigo Jaca, pois sabia que procurava poemas que me identificasse no recital que o grupo de teatro montava, como todos, menos eu, eram e são brancos, precisava deste poema...

ps. DEDICO ESTE POST À NELSON MANDELA

ps.2. Meus queridos amigos  comentaristas do post anterior, OBRIGADO, mas voltarei para meu tradicional comentário do comentário...não o fiz por problemas técnicos, nesta peça atrás deste teclado. Minha compulsão por postar estava no limite...

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

PASSANDO


Enquanto alguns
dizem que o tempo 
corre aseu favor
outros reclamam
do peso do tempo
sobre às costas.
A toda hora tem alguém dissertando 
sobre
a brevidade do tempo.
ou sobre a elasticidade do mesmo.
by Dilmar Gomes


Sobre amanhã ainda nem pensei...clássico do pop gaúcho - DeFalla...mas ele, o tempo, sempre foi um mistério para mim, justamente por estar nele, viver correndo dele ou para ele, mas o que os é ofertado no final das contas do tempo, este senhor, é a morte, aluz no fim do túnel. Não o do Tempo, o Seriado, o do portal para alguns, o nada para outros, para mim, um espelho.
De qualquer forma não passo de um risco ilusório, um desvio de luz na imensidão escura, tateando, como um bebê no início da evolução...até descobrir que somos uma fagulha de luz na escuridão, um sopro de Deus, um nada nos Universos.
Gosto sim de colher flores. peguei este hábito quando uma sobrinha ainda niña pedia com seu olhar infantil que pegasse as que encontrasse pelo caminho, nossas caminhadas demoravam horas, mas o resultado final era sempre lindo e triste. Um buquê lindo e colorido de flores do campo, mortas.
Fiquei como Iberê, o Camargo, procurando por horas o relógio que por descuido deixei cair numa cova não muito rasa, num muito funda, mas com lama...e como ele me perdi no tempo e na lama que secou, dos farelos de terra,os torrões, por vezes parecia ver um número do relógio, mas não o encontrei, apenas mais uma vez o tempo fez sua experiência comigo, passando, passando, passando e transformando tudo ao meu redor e dentro de mim...Não sei do tempo das galáxias ou do tempo do fundo do mar ou seu peso cruel na minha cabeça deixando meus cabelos brancos, os que conseguem ficar na cabeça...
Mas o senhor tempo é médico, praticamente um remédio, curando males, quase todos, abrandando os incuráveis, especialista em coração partido e companheiro, sempre ali, espreitando, no espreitando, nos matando pouco à pouco, a cada centésimo de segundo. Passando passando passando passando passando passando passando passando passando passando passando passando passando passando passando passando


ps. Meus queridos amigos  comentaristas do post anterior, OBRIGADO, mas voltarei para meu tradicional comentário do comentário...não o fiz por problemas técnicos, nesta peça atrás deste teclado. Minha compulsão por postar estava no limite...

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

HUMORES



Não sei se consigo sonhar mais, ou é um excesso de sonhos...dou-me por mim entrando na primeira porta que se abre, nos coletivos que passam na rua onde fica minha casa. Existe uma que nunca faço questão de pegar, que são os piu-pius, pequenos ônibus amarelos, com motorista que odeiam o que fazem, só pode ser isso.


Continuando...sento-me na poltrona (fofa) e tento relaxar, se é que é possível estando atrasado uma hora para o trabalho. Nos devaneios daqueles minutos, passaram-se muitas coisas na cabeça, aliás, eu não sou o único, às vezes um segundo é suficiente para atravessarmos o mundo em batalhas, aventuras indescritíveis, pois é impossível descrever coisas que nem um piscar de olhos é tempo possível para darmos um passo, não neste tempo mecânico (já falei disso – às vezes sou muito repetitivo rs), mas enfim...

Pensei em uns amigos blogueiros e os efeitos de seus post em minha vida (isso tudo nestes breves minutos) lembrei do último post que li no blog da Tais Luso (cronista por excelência) em que ela falava das pessoas difíceis de conviver, dos boçais donos da verdade, dos absolutos, pessoas que a gente não é nada, além de um ouvido penico para eles – ri em pensamento e segui a aventura...pensei num blog que se chama Conto de Fadas, estou seguindo, mas é bem recente esta nova paixão, um post sobre a estupidez humana, escrita de uma forma que há pouco me atrevi a fazer meu primeiro comentário, um post estupendo, novos caminhos na blogosfera, novas, velhas, outras formas de dizer...

Neste delírio quase passei de meu ponto, então levantei fui até o senhor motorista e pedi para descer o mais próximo da rua que iríamos atravessar, estávamos agora na sinaleira, ele me olha e diz: porque não me avisou antes, agora não posso abrir a porta aqui. - Como estávamos na sinaleira falei para ele, tanto faz, desde que seja próximo dessa rua. Não satisfeito, ele continuou: - Ás vezes não é possível parar em qualquer lugar. Eu, na maior calma e pedindo a Deus, para que aquilo fosse só um insight surreal, ou uma pegadinha e começarmos a rir, disse: - Meu senhor, não importa, desde que o senhor pare para que possa voltar a esta rua, tudo bem (já com um leve sorriso irônico).

Abriu a sinaleira, ele seguiu e parou no outro lado, bem próximo da rua que havia pedido...como disse antes, se não disse estou dizendo agora, nunca faço questão de pegar estes pequenos ônibus, os motoristas são chatos mesmo. Agradeci, lhe disse rápido que nunca faço questão de pegar tal condução, sorri e caminhei para a farmácia ( eu não trabalho lá rs), comprei um medicamento e comentei com o atendente o que havia acabado de acontecer. Ele ficou meio incrédulo, e eu dizendo é verdade, e o bom foi que me mantive calmo, achando muito engraçado a reação infeliz do motorista. Não precisaríamos passar do Bom Dia.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

PRA ONDE VAI O MUNDO ?




Fiquei estarrecido ao ver na televisão um funcionário público da prefeitura de São Paulo falar ao telefone com outro conivente, algo assim: -...é difícil ser bandido, no meu patrimônio ninguém toca... - Através de um telefone grampeado de funcionários corruptos, que já se calculou meio bilhão roubado dos cofres públicos. Conclusão: GANÂNCIA.


Será que a inversão de valores é inerente ao homem de hoje, o desejo de ter as coisas vinculadas na mídia, como lei, deves ter...neste caso é muito usado para explicar roubois ou furtos de menores, como tênis de marca, camiseta, etc... O que dizer destes senhores, pais de família, até se descobrir isso, pessoas respeitadas na sociedade...este assunto é muito nojento, pra onde vai o mundo ?
 
 
Ele demora um ano rodando o sistema solar.
Ele demora um ano mas volta pro mesmo lugar.
Pra onde vai o mundo?
Pra onde vai o mundo?
Onde é que ele vai?
Onde é que ele vai?

Pra onde vai o mundo
vai todo mundo.
Pra onde vai o mundo
daqui a um segundo

Pra onde vai o mundo?
Pra onde vai o mundo?
Onde é que ele vai?
Onde é que ele vai?

Será que ele vai estourar?
Será que ele vai poluir?
Até não pudermos respirar
Até não podermos existir

Enquanto o 3º mundo espera o juízo final
eu quero uma vaga no ônibus da corrida espacial


Pra onde vai o mundo?
pra onde vai o mundo?
Onde é que ele vai?
Onde é que ele vai?

Vai vai vai vai...





Verdadeira Corrida Espacial – Os Replicantes



quarta-feira, 6 de novembro de 2013

LIVROS PELA CIDADE






Fica difícil às vezes não correr para teus braços e dizer o quanto te odeio e amo, o quanto sofri com tua ausência, tua falta quase me destruiu, mas tua presença deixou marcas profundas de dor.


Outro dia me peguei pensando em nada, e quando percebi que minha cabeça estava vazia de ti e do mundo, acordei na certeza de que havia me curado, dos teus carinhos invisíveis, teus beijos técnicos, de tuas falas decoradas de um texto qualquer.

Muito tempo eu tive para te esquecer, pra te querer, te matar ou morrer, e nada fiz...Tomarei outros caminhos, quem sabe outras pessoas, outros espelhos ou outras dimensões.

Não me importa se falarás comigo, se vai se importar com o que digo, ou mesmo querer saber se eu existo de verdade....cheguei a pensar ser meu avatar...gosto desse mundo virtual...posso desaparecer a qualquer momento e posso manter as relações dentro disso, nem um milímetro a mais, somente no mundo virtual.

Mesmo assim, acho que te amarei para sempre, afinal, não é todo dia que encontro alguém que ame Smiths, adore poesia e as leia para o mar...e ame tanto os livros como eu.

Talvez nos encontremos na 59ª Feira do Livro em Porto Alegre, o maior evento a céu aberto da América, e talvez encontre um livro que possa servir de portal para o mundo da felicidade, o mundo da leitura, o mundo da aventura...

Enquanto isso quero me perder por entre Mário Quintana, Moacir Scliar, Caio Fernando Abreu, Lya Luft, Luiz Fernando Veríssimo, Ivo Bender, Jorge Luis Borges, Martha Medeiros, Josué Guimarães, Gabriel Garcia Marques, Charles Kiefer, Raul Bopp, Fernanda Young, Fernando Pessoa, Humberto Eco, Claríce Lispector... e Luis Augusto Fischer, o Patrono 2013.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

DO RISCO EM TEUS CÍLIOS





ALTOS E BAIXOS
ELIS REGINA


Foi, quem sabe, esse disco

Esse risco de sombra em teus cílios

Foi ou não meu poema no chão

Ou talvez nossos filhos

As sandálias de saltos tão altos

O relógio batendo, o sol posto, o relógio

As sandálias, e eu bantendo em teu rosto

E a queda dos saltos tão altos

Sobre os nossos filhos

Com um raio de sangue no chão

Do risco em teus cílios

Foram discos demais, desculpas demais

Já vão tarde essas tardes e mais tuas aulas

Meus táxis, whisky, Dietil, Diempax

Ah, mas há que se louvar entre altos e baixos

O amor quando traz tanta vida

Que até pra morrer leva tempo demais

 by Julia Rauta

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

CANTO PARA MINHA MORTE



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CANTO PARA MINHA MORTE



Eu sei que determinada rua que eu já passei

Não tornará a ouvir o som dos meus passos

Tem uma revista que eu guardo há muitos anos

E que nunca mais eu vou abrir

Cada vez que eu me despeço de uma pessoa

Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez

A morte, surda, caminha ao meu lado

E eu não sei em que esquina ela vai me beijar

Com que rosto ela virá?

Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?

Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque,

Na música que eu deixei para compor amanhã?

Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?

Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,

E que está em algum lugar me esperando

Embora eu ainda não a conheça?

Vou te encontrar Vestida de cetim

Pois em qualquer lugar

Esperas só por mim

E no teu beijo

Provar o gosto estranho

Que eu quero e não desejo

Mas tenho que encontrar

Vem Mas demore a chegar

Eu te detesto e amo

Morte, morte, morte que talvez

Seja o segredo desta vida

Qual será a forma da minha morte

Uma das tantas coisas que eu nao escolhi na vida

Existem tantas... um acidente de carro

O coração que se recusa a bater no próximo minuto

A anestesia mal-aplicada

A vida mal-vivida

A ferida mal curada

A dor já envelhecida

O câncer já espalhado e ainda escondido

Ou até, quem sabe,

O escorregão idiota num dia de sol

A cabeça no meio-fio Ó morte, tu que és tão forte

Que matas o gato, o rato e o homem

Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres

Me buscar

Que meu corpo seja cremado

E que minhas cinzas alimentem a erva

E que a erva alimente outro homem como eu

Porque eu continuarei neste homem

Nos meus filhos

Na palavra rude que eu disse para alguém

Que não gostava

E até no uísque que eu não terminei de beber / Aquela noite...


by RAUL SEIXAS






terça-feira, 29 de outubro de 2013

BOCA DO ESTÔMAGO





Não era o resgate do soldado Ryan, não era, agora tinha certeza, ou quase... não passava de mais um exercício desse primeiro ano de cadete... pensamentos esparsos, umas angústias, umas dores, umas fomes de dois dias.


Ainda lembrava a última tentativa de conversa com o pai, e se resignava pensando porque não levou adiante a conversa sobre vegetais comestíveis, preferiu voltar ao seu mundo virtual, a intimidade e liberdade do próprio quarto. Podia-se ver no seu olhar distante, algo que ultrapassou o cansaço e a fome “a gente não quer só comida comida comida” ...adormeceu..

Os frangos assados flutuantes que sobrevoam sua cabeça, distantes da boca, distante dos sonhos e pesadelos, distante de um estômago que reclama alto, implora. Era alta madrugada quando seu estômago começou a revirar-se, esta era a palavra que pensava enquanto a dor aparecia em tempos sincopados e lugares alternados, mas todos no estômago. Uma tempestade, pensou, as dores eram relâmpagos, e o movimento das nuvens negras com a ventania, seria o estômago no auge do temporal. Contorcia-se. Rolava na cama. Se enrolava no edredom. Agora eram socos na boca do estômago. Sempre achou estranho chamar “boca do estômago”, então esta boca deve ter comido algo que não podia. Mas não lembra de ter comido algo antes de dormir, antes de dois dias, aliás não lembra se dorme, se sente dor, se...acordou...

Não estava na cama e não tinha edredom, era lama, galhos, folhas secas, mas a história do frango não era só um sonho/pesadelo, estava ali na frente dele, com todo aquele aroma, aquela suculência, mas estava nas mãos do Capitão, que havia dito: - Quem pedir um pedaço, já sabe do castigo.





segunda-feira, 28 de outubro de 2013

EU ESCREVI UM POEMA TRISTE



O dia em que nada deu certo...


Acordei atrasado, tropeço, queima o chuveiro, perco o coletivo que só passará daqui uma hora, caminho esta uma hora até o trabalho. Chego.

É segunda-feira e começa a semana com todas as más notícias de sempre, mortes no oriente, fome na áfrica, assassinatos em massa no brasil, fome, dor, políticos ladrões, o caos, ou seja, uma segunda-feira normal.

Foram dois longos dias neste final de semana, o suficiente para chegar a grande e única solução: - A única solução é morrer. - Parece um tanto trágico, mas sou assim, depois de tanto tempo acreditando na possibilidade de viver em paz, de alguma coisa dar certo, de um amor surgir de um jardim pelo qual eu passo...frustração, este é meu nome. Equívoco, meu sobrenome.

Gostaria de ouvir Amália Rodrigues e chorar até não aguentar mais, quem sabe alivio a dor que carrego no peito e que não tem solução.

O dia se arrasta e...    


Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!


Mário Quintana

ps. Sabe aquele dia em que a intuição diz para não sair da cama, e não ouvimos a intuição e saímos ? Eu encontro esta segunda-feira.
Bem feito para mim.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

E A AMARGURA E O TEMPO

Agonia-2-Tania



Agonia


Oswaldo Montenegro





Se fosse resolver

Iria te dizer

Foi minha agonia



Se eu tentasse entender

Por mais que eu me esforçasse

Eu não conseguiria



E aqui no coração

Eu sei que vou morrer

Um pouco a cada dia



E sem que se perceba

A gente se encontra

Pra uma outra folia



Eu vou pensar que é festa

Vou dançar, cantar

É minha garantia



E vou contagiar

Diversos corações

Com minha euforia



E a amargura e o tempo

Vão deixar meu corpo

Minha alma vazia



E sem que se perceba

A gente se encontra

Pra uma outra folia





sexta-feira, 18 de outubro de 2013

SARAVÁ VINICÍUS DE MORAES




A rosa de Hiroxima


Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada





Quanta tristeza
Há nesta vida
Só incerteza
Só despedida

Amar é triste
O que é que existe?
O amor

Ama, canta
Sofre tanta
Tanta saudade
Do seu carinho
Quanta saudade

Amar sozinho
Ai de quem ama
Vive dizendo
Adeus, adeus





Nunca fui covarde
Mas agora é tarde
Amei tanto
Que agora nem sei mais chorar

Vivi te buscando
Vivi te encontrando
Vivi te perdendo
Ah, coração, infeliz até quando?
Para ser feliz
Tu vais morrer de dor

Amei tanto
Que agora nem sei mais chorar

Nunca fui covarde
Mas agora é tarde
É tarde demais enfim
A solidão é o fim de quem ama
A chama se esvai, a noite cai em mim




Amigo porteño si ves por la calle
Una chica morena
Con ojos ardientes
Y un aire de alguien
Que quiere volar
Parala y decile
Que existe un poeta
Que muere de celos
Y que ojos ajenos
Se Ilenan de sueños
Al verla pasar
Decile mi amigo
Tu que solo llevas
El tango en Ias venas
Decile porteño
Que yo simplemente
Ya no puedo mas

Busca convencerla
Que tengo mi pecho de amor tan herido
Que sin su mirada
Mi siento perdido
Que mucho le pido
Me vuelve a mirar
Gritale en la calle
Que existe un poeta
Que le hace un pedido
Que solo le pido
Que olvides el olvido
Porque quien lo busca
No puede olvidar



Que hei de fazer de mim,... (s/ título)

Que hei de fazer de mim, neste quarto sozinho
Apavorado, lancinado, corrompido
A solidão ardendo em meu corpo despido
E em volta apenas trevas e a imagem do carinho!

Defendido, a me encher como um rio contido
E eu só, e eu sempre só! ó miséria, ó pudor!
Vem, deita comigo, branco e rápido amor
Risca de estrelas cruéis meu céu perdido!

Lança uma virgem, se lança, sobre este quarto
Fá-la que monte no teu sórdido inimigo
E que o asfixie sob o seu púbis farto

Mas que prazer é o teu, pobre alma vazia
Que a um tempo ordenhas lágrimas contigo
E outras enxugas, fiéis lágrimas de agonia!



Solidão

Rio de Janeiro

Desesperança das desesperanças...
Última e triste luz de uma alma em treva...
- A vida é um sonho vão que a vida leva
Cheio de dores tristemente mansas.

- É mais belo o fulgor do céu que neva
Que os esplendores fortes das bonanças
Mais humano é o desejo que nos ceva
Que as gargalhadas claras das crianças.

Eu sigo o meu caminho incompreendido
Sem crença e sem amor, como um perdido
Na certeza cruel que nada importa.

Às vezes vem cantando um passarinho
Mas passa. E eu vou seguindo o meu caminho
Na tristeza sem fim de uma alma morta.



Soneto a quatro mãos

(com Paulo Mendes Campos)

Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

ENCAIXE






Já fazem alguns dias, acho que na verdade meses que não o vejo, que não lhe dou um abraço. Chego ao portão próximo do meio dia e vejo as crianças voltando da escola, correndo ao encontro dos braços de seus pais, e eu aqui, parada no portão, quase me arrastando para ter essa lembrança um pouco mais forte, como se fosse possível, pois foi a única coisa que restou. Meu filho não veio correndo para meus braços, ele não é mais um menino; nem me telefonou para saber se vivo ou morro. Me alegra o coração a gritaria dessas crianças, pena que nenhuma chegou aqui. Não tenho mais crianças. Ele cresceu e foi embora e nunca volta, nunca volta...


...Toca o telefone, e muito devagar ela se encaminha para atendê-lo, quando ouve a voz sumida há muito tempo, do outro lado:

Oi mãe, tá bem ? - ela não acreditou, era ele, já não fazia idéia do tempo que não o via, desde, desde há muito tempo. Continuou – mãe, nasceu teu neto, mas como foi de cesariana acabamos nos ocupando muito, é trabalho, a vida, a senhora sabe...depois nos mudamos... - do outro lado do telefone, ela ouvia aquela voz quase perdida, nunca esquecida, e agora, ali, ela ouvia sofrega, bebendo cada sílaba das palavras pronunciadas pelo filho distante, a espera do convite, do chamado, então ele diz:

Mãe, eu estava pensando, já faz algum tempo que não nos vemos, eu sinto saudade, então achei um tempo para te encaixar, daí vou te buscar e poderás conhecer teu neto, e depois te levo de volta.

Ela quase não acreditou no que ouviu, que seu filho que não via há muito tempo, aparece, por telefone e diz na sua cara que vai achar uma buraco e encaixá-la, o que não está muito distante do enxotá-la, ser usada e descartada pelo próprio filho, aquele que mamou até os três anos nos meus seios, que não dormia sem a minha presença, que eu dei todo o meu amor incondicionalmente, deixei de sair, viver, dormir, para cuidar com todo o meu carinho e na primeira oportunidade, desaparece, agora que precisava de alguém, um apoio, um sorriso, ele só quer me encaixar e depois desencaixar e jogar lá no fundo do baú, caso algum dia lembre e de vontade de sentir um amor incondicional.

AMOR E MORTE





Amor e Morte
Julio Reny

Você me fala dessas coisas de amor e luar
Você não tem muita chance
Você que manda flores
E diz que o seu negócio é romance

Você tem olhos perfeitos
Garra bonita, coxas iguais
Você tem quase tudo
Para ser considerado um belo rapaz

Mas no seu beijo falta corte
Mas no seu beijo falta corte
Dispense a lua baby e me dê
E me dê amor e morte

Amor e morte
Amor e morte
Amor e morte

Você diz que o amor
Só pode rolar a toda velocidade
E que uma gata tem que andar muito ligada
Por esse pique de cidade

Você às vezes parece James Dean
E realmente a gente
Sente vontade de roçar
Nesse blue jeans
Mas no seu beijo falta corte
Mas no seu beijo falta corte
Venha com tudo baby
E me dê amor e morte

Amor e morte
Amor e morte
Amor e morte



quinta-feira, 10 de outubro de 2013

AMOR E VIOLÊNCIA







Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
By Carlos Drummond de Andrade



Sim, meu coração está seco, não ama ninguém que eu quisesse devorar...até já amou um dia quando achava que era feliz e que o mundo era bom e não violento... Apesar da tarde arrastada, da falta de tempo para o trabalho, para a vida, aguarda-se ansioso o deslindar do processo de aumento de salário. A votação talvez demore, todos estão lá na frente da instituição que votará, menos eu, que aproveitei a saída de todos de casa para vir ao sótão e ficar sentado como estou agora, em posição de lótus, como se fosse meditar e apenas pego uma caixa empoeirada embaixo de alguns papéis soltos...abro a caixa e encontro uma carta, logo percebo que foi a última que recebi de um amor perdido, após dizer que não amava, embora existisse um sentimento muito puro entre nós, mas eu não queria seu corpo como querias o meu. Abrindo a carta para reler mais uma vez, recebo uma mensagem dizendo da possibilidade de não votarem meu aumento...


...blackblock – pensei neles quando soube que não votaram o mínimo reajuste que dariam para meu salário, não passa de 7% em 3 vezes, pensei neles, de quanto eu gostaria que eles estivessem lá, na votação, e com a negativa, uma manifestação em que eles atuariam, jogando o grande tijolo que senti vontade de jogar na instituição que não votou meu salário...quase entendi a necessidade da destruição para o renascimento, quanto ao anarquismo, não sei se eles falam em renascimento, eu só consigo ver a destruição total, por um motivo qualquer, e se tiver platéia, melhor será a atuação. Assim foi com os professores no RJ, ou qualquer outra manifestação que junte mais de 10 pessoas, tem um blackblock para incitar e praticar baderna, quebra-quebra, ou atitudes anarquistas, como preferem alguns. A violência não leva a nada, a não ser a mais violência, e agora voltaram a usar balas de borracha em manifestantes, logo serão balas de verdade, metralhadoras, fuzis, invasão de casas, pessoas sendo arrastadas para um local desconhecido, e provavelmente não voltarão nunca mais...

a carta:



Olá, espero que esta missiva te encontre bem, tão bem quanto me encontro, ou tento, agora que me sinto livre de ti. Meu coração deu sinais de salvação, não sangra mais, levemente dolorido. Mas agora começa a cicatrização, logo estarei melhor ainda........................Cansei de esperar o inesperado. Cansei de sonhar contigo e acordar chorando. Cancei de chorar...estou seco. Estou com raiva de mim. Tanto tempo perdido. Tanto amor desperdiçado. Não tenho mais esperança, ela foi....................Achava graça de todas tuas piadas sem graça, te protegia enquanto todos riam de ti...estive ao teu lado na tua mais profunda depressão.......................Perdi tanto tempo te olhando, admirando, te querendo, te esperando. Andava leve, quase flutuava, me sentia feliz (eu achava, eu achava)...................Os anos verdes foram negros, mas eu não conseguia ver, estava encantado com teus olhos. Tuas falas que ouvia como poesia, eram maldições, pragas e mal agouros. As migalhas que recebia, quando recebia, prar mim eram banquetes. Te esperava feliz, enquanto rias com os outros.......................Outro dia assistindo ao vídeo de nossa formatura, flagrei nosso abraço de comemoração, o brilho nos meus olhos eram lágrimas, um misto de felicidade e tristeza. Felicidade pela formatura e tristeza, porque não teria mais motivo para estar próximo de ti, embora naquele tempo já nem nos falávamos mais...anos e anos de isolamento do mundo e de todos, remoendo minha dor, meu fracasso de não conseguir te conquistar......................











quarta-feira, 9 de outubro de 2013

SINAIS DE FOGO





Sinais de Fogo
by Preta Gil, Ana Carolina Antonio Villeroy

Quando você me vê eu vejo acender
Outra vez aquela chama
Então pra que se esconder você deve saber
O quanto me ama...

Que distancia vai guardar nossa saudade
Que lugar vou te encontrar de novo
Fazer sinais de fogo
Pra você me ver...

Quando eu te vi, que te conheci
Não quis acreditar na solidão
E nem demais em nós dois
Pra não encanar...

Eu me arrumo, eu me enfeito, eu me ajeito
Eu interrogo meu espelho
Espelho que eu me olho
Pra você me ver...

Porque você não olha cara a cara
Fica nesse passa não passa
O que falta é coragem...
Foi atrás de mim na Guanabara
Eu te procurando pela Lapa
Nós perdemos a viagem...

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

MONÓLOGOS DA SOLIDÃO: PRIMAVERA


vulcão



*É sempre na sombra da madrugada

que bate a fome da palavra

é sempre ali no meio,

quase final da noite

quando impera

a solidão

é a hora dos gritos

é a hora da assombração...





Não é um canto de desesperança, palavra não tão bela quanto esperança, mas o signo temporal que atravessa segundas, fundindo-as nas sextas. É um canto de desamor, porque este como bem disse um poeta, é o que resta nos farelos de humanidade, que ainda existe no coração do homem moderno, bem, o moderno dele era 1776...deixei meus pudores e medos e vergonhas e caminhei por caminhos verdes, azuis e amarelos, encontrei amigos e inimigos, um longo aprendizado, não só com o que se diz, mas com o que nos chega, o que procuro ?

Como um Azimov às avessas, (...ás avessas é o nome de um blog que sigo), removo das entranhas de meus sonhos e pesadelos, e retorno antes e através do espelho, remontando as cavernas que hibernaram seres de antes de eu existir. Os que me brindaram com esta herança arquetípica, enraizada não só no sangue, mas no sangue do sangue, ou antes do sangue também. Só sei que não quero as modernices, nem partir daqui, apenas, quem sabe, por pena de um anjo caído, talvez...

*Eu perco a chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos, eu estou ao meio
Onde será que você está agora ?

...saí cantarolando como se dissesse adeus, vencido, mais uma perda, mas se não fosse Lya Lutf, com certeza seria bem pior, assim como essa música que cantarolo ao mesmo tempo que escrevo, tentando repetir um feito que para as mulheres é natural, fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo, e bem. As mulheres, os pássaros e as árvores, são os seres mais poderosos que conheço, elas dão à luz a novos seres, eles voam, que é um poder muito poderoso, e as árvores podem crescer, crescer...

Mas estou em casa novamente, poderei trancar a porta e mergulhar no mundo que é só meu, onde eu tenho o poder supremo, onde respiro meu ar, como minha comida, tenho meu prazer e minha angústia, minha vida, minha morte. Meu blog do jair ou histórias de músicas e pessoas.




*by Anais – do blog Sozinha na Madrugada

**by Adriana Calcanhoto

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

ADEUS PRIMAVERA






DIZENDO ADEUS


Estou sempre dizendo adeus:
Também ao desencontro e do
desencanto.

Estou sempre me despedindo
Do ponto de partida que me lança de si,
Do ponto de chegada que nunca é
aqui.

Estou sempre dando adeus:
Até a Deus,
Para o reencontro em outra esquina
De adeuses.

Estarei sempre de partida,
Até o momento de sermos deuses:
Quando me fizeres dar adeus à solidão
e à sombra.

by Lya Luft


Embora nunca tenha planejado, conscientemente, algo para esta caminhada virtual, meu inconsciente me prega peças...e  a última não consigo me perdoar, então como um menino mal, devo ser castigado. Autoflagelo ? Talvez.  Adoro postar, quando acredito que seja algo legal, interessante ou supostamente criado por mim. Semana passada na pressa de postar um poema que encontrei e me apaixonei, e uma imagem encontrada no google imagens. Postei, e logo um comentário tipo: - já olhou o meu blog, fiz algo mais profundo que esta cópia. Já viu o filme?   já leu o livro ? - e foi isso " oi jair, esse poema é muito bom mesmo! viu o filme? comentei sobre ele no blog. aliás, obrigado pela visita ao raileronline! volte sempre!" - este o verdadeiro comentário.  Pode acreditar eu me odeio por isso, então passarei um mês sem postar no meu blog, 30 dias para refletir, ser açoitado também, me sinto um creep - verme.  Desculpem-me as pessoas muito legais que frequentam e passam por aqui.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

CREEP






Creep




When you were here before,

Couldn't look you in the eye.

You're just like an angel,

Your skin makes me cry.

You float like a feather,

In a beautiful world

I wish I was special,

You're so fucking special.



But I'm a creep, I'm a weirdo.

What the hell am I doing here?

I don't belong here.



I don't care if it hurts,

I wanna have control.

I want a perfect body,

I want a perfect soul.

I want you to notice,

When I'm not around.

You're so fucking special,

I wish I was special.



But I'm a creep, I'm a weirdo.

What the hell am I doing here?

I don't belong here



She's running out again,

She's running,

She run, run, run, run, run.



Whatever makes you happy,

Whatever you want.

You're so fucking special,

I wish I was special,



But I'm a creep, I'm a weirdo.

What the hell am I doing here?

I don't belong here,

I don't belong here

A ARTE DE PERDER







A arte de perder não é nenhum mistério
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um  império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudades deles. Mas não é nada sério.

- Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça muito sério."

by Elizabeth Bishop

traduzida por: Paulo Hneriques Britto



quarta-feira, 4 de setembro de 2013

ENFIM, SETEMBRO...








 Precisei urgentemente escrever outro post, trazer um pouco de leveza a este blog tão pesado, como disse um amigo meu, depois de ler meu primeiro ano de blog, 'depois da leitura, só o suicídio', disse ele brincando, eu ri, minha alma não.


Já li e até comentei em alguns blogs o tema 'setembro', que lembra primavera, acasalamento (rs palavra engraçada, eu acho), pássaros cantando mais, pois onde eu moro eles cantam o ano inteiro – para quem gosta é um prato cheio, eu que tenho dificuldade para dormir, é um suplício. Mas assim como tenho um respeito maior pelas mulheres e seu poder de parir, eu respeito os pássaros, com seu poder de voar.

O aroma, setembro tem um aroma diferenciado, mesmo nesta cidade quase industrial, atravessada por uma BR. Senti hoje dentro do urbano, poderia ser um desses perfumes de flor ou fruta, muito na moda, mas vinha da janela aberta. Olhei mas não vi flores, somente aquele aroma embriagador da manhã, quase tive memórias, quase encarnei Proust, mas não haviam flores, somente árvores, verdes, belas, fortes, menos depois, quando já caminhando, passo onde havia uma mata, e hoje uma imensa construção de um condomínio. Sinal dos tempos, não, apenas mais uma construção, apenas mais uma mata destruída, apenas.

É urgente, que eu escreva um post, afinal é setembro, e setembro tem o dia da árvore, e setembro, tradicionalmente neste blog, se publica uma foto de minha árvore favorita de setembro e outros meses, o IPÊ AMARELO.  

terça-feira, 3 de setembro de 2013

DESCONHECIDOS





Ser humano, este desconhecido...


Acho que me equivoco a algum tempo ao achar que o ser humano é mal, face as influências dos telejornais que tanto gosto, e telejornal é sinal de sangue escorrendo da televisão para o chão da sala... o ser humano é um desconhecido dele mesmo. Falo por mim, pois vivo tentando ser melhor enquanto ser humano, mas falho, pelo único fato de não me conhecer, sou um desconhecido de mim mesmo.

Tanto é que quando nascemos, só algum tempo depois tomamos consciência de que existimos, segundo a teoria Junguiana, começamos a existir quando acordamos, ou seja, quando sei o que quero independente de quem me criou e me influenciou, acho que é aquela máxima filosófica: penso, logo existo. Não posso simplesmente negar o breu da infância, pois Freud se reviraria na tumba, onde sofremos overdoses de influência da família, isso inclui mimos, preconceitos, gostos...e segundo este mesmo Freud a infância é o começo da sua psicoterapia, prefiro Jung, pois gosto de saber que existo e lutar contra meus próprios fantasmas, meus próprios preconceitos, minhas dúvidas e encontre meu eu perdido dentro de mim e consequentemente desconhecido, pois quando encontrar o que mais terei eu de conhecer ?

Já passei noites em claro buscando dentro de mim esse desconhecido, mas eu só conseguia uma insônia e sono durante o dia seguinte rs.

Partindo de minha vivência empírica descubro o quão desconhecido é o ser humano, nunca se conhece um ser por inteiro, e a convivência nos prova, me prova, pois nunca consigo me sentir a vontade, quando penso que as palavras trocadas são sinais de entrosamento, recebo uma bomba fria que me desconserta e me joga a margem; pois automaticamente me recolho e sinto muito medo, por mim e por quem provocou tal situação. Percebo o quão desconhecidos somos...



Faz algum tempo que tento escrever este 'ensaio', que surgiu das minhas dúvidas comigo mesmo, deste ser desconhecido de mim mesmo que sou. Está meio confuso até para mim que tou escrevendo rs, mas preciso postar...um texto inacabado é a cara do meu blog, é a minha cara, pois enquanto for desconhecido de mim mesmo, serei sempre um ser humano inacabado, carecendo de mais informação ( o que graças a Deus meus amigos blogueiros tem me ajudado muito, pois são pessoas interessantes, inteligentes e originais que sempre me acrescentam algo mais ).

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

BRUTUS E O MOTORISTA






BRUTUS...


Hoje ele me acordou, arranhando levemente a porta da cozinha, após um breve silêncio, me dou conta que o dia amanheceu, o relógio despertou, muitos pássaros cantam sem parar, ouço carros passando a toda velocidade na rua, e um silêncio e um suspiro do cachorrinho Brutus, meu afilhado do coração...

Como hoje não precisei sair correndo pela quadra atrás de Brutus, que insiste em correr pela manhã...sei que é saudável, mas tenho de ir trabalhar, enfim...

Chego na esquina e o urbano já está a caminho, meia quadra até a parada, normalmente os motorista dessa empresa são queridos e param para que eu ou outra pessoa qualquer fora do ponto, correndo atrás do ônibus, mas este motorista era diferente, além de não parar no meio do caminho para mim (isso ele não é obrigado), quando subi no ônibus dei bom dia ao que ele me respondeu que da próxima vez não esperaria, porque quando ele parou, subiu uma senhora que corria na minha frente, então caminhei até o ônibus, paguei a passagem e fui até ele dizer que ele não precisa me esperar, passei a roleta e me sentei.

Na parada seguinte após subirem várias pessoas, ouço uma voz que fica dizendo: sobe, mais rápido, o cartão amarelo tem de ser renovado, explicava para as pessoas idosas isentas de pagamento trazerem o cartão, assim elas passariam para trás e não ficariam ocupando espaço na frente do ônibus. Tudo bem, informações úteis, mas quem deveria dar era o cobrador, e não o motorista que não parava de falar. Isso me irritou um pouco, mas como a manhã estava agradável, com um Sol lindo, comentei com a moça sentada do meu lado, que ele não parava de falar e não cuidava a direção, ela me disse, além de não parar de falar fica repetindo a mesma ladainha, rimos e ficamos novamente em silêncio.

Próximo de minha parada tem uma sinaleira, que estava fechada, então puxei o sinal e ligou aquela plaquinha que diz – parada solicitada. Abriu o sinal e o ônibus seguiu sem para onde havia solicitado, rapidamente cheguei perto do cobrador e gritei (educadamente rs): sr. motorista, eu sinalizei para parar. Ele, então percebendo que não prestou atenção no trabalho dele para ficar falando, falando, falando...me diz: opa, já estamos parando.

Não precisa dizer que fiquei com a alma lavada, ainda puder dizer, ao invés de ficar falando, presta atenção no que estás fazendo. Mas ele não ouviu, pois já estava descendo um pouco além da parada.

Lembrei do Brutus, que a cada ônibus que passa em frente de casa, ele fica desesperado latindo e pulando na grade da frente, e depois me olha e volta resmungando para o local de onde saiu para latir contra o ônibus.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

SOMBRAS DE TEUS GRITOS








Tu Queres Sono: Despede-te dos Ruídos


Ana Cristina Cesar





Tu queres sono: despe-te dos ruídos, e

dos restos do dia, tira da tua boca

o punhal e o trânsito, sombras de

teus gritos, e roupas, choros, cordas e



também as faces que assomam sobre a

tua sonora forma de dar, e os outros corpos

que se deitam e se pisam, e as moscas

que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor (não ouças)



que se prepara para carpir tua vigília, e os cantos que

esqueceram teus braços e tantos movimentos

que perdem teus silêncios, o os ventos altos



que não dormem, que te olham da janela

e em tua porta penetram como loucos

pois nada te abandona nem tu ao sono.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

AFASTADOS II








Durante muito tempo acreditei no ser humano, acreditei nos amigos que a vida me impunha, pessoas que caminhavam meu caminho por determinados dias, pouco tempo alguns, outros mais, e outros, apenas instantes. Muitos deixaram suas marcas, aliás todos, mas costumo ficar com a lembrança dos que tive encontros bons, aprendizados, reciprocidade; uma minoria deixou sua marca ruim em mim, que guardo em uma gaveta bem no fim do corredor de arquivos do cérebro, para que eu nunca repita isso com outro ser humano.

Outro dia brinquei com os afastados do sistema de todas as galáxias, nós rs...mas passado este breve tempo, assaltou minha mente algo que não é tão brincadeira assim, os afastados pelo sistema, por nós, pela política destruidora que nos assola, afastados pelo preconceito que sentimos, e isto é real. Sou negro, e sei como ninguém o que é ser discriminado, ser afastado, mas nem vou entrar no mérito da cor, pois raça é uma só, acredito, a humana.

Mas o que se passa no cérebro humano, ninguém sabe, a não ser o próprio, como costumo dizer, de minha dor sei eu, enfim...

Mas no que ou em quem acreditar após ver pela tv um médico dessas ambulâncias de socorro dizer como resposta de um pedido de atendimento para alguém caído nas ruas de Porto Alegre, e este profissional diz, com uma voz metálica e indiferente, até um pouco indignada por ser perturbado, diz que não há ambulância, não tem como socorrer, não há ambulância e pronto. Eu não estou dizendo que me disseram, eu vi e ouvi a matéria, embora o canal não tenha tanta credibilidade assim rs, mas isto foi real e muito, muito cruel. O senhor de 70 anos que estava precisando desse socorro veio a falecer. Então, quando deixamos de ser e pensar e agir como seres humanos ? Estaríamos nós de-evoluindo ?

É mais uma prova que percebo o quão difícil é tratar com o homem, porque ninguém é melhor que ninguém, mas parece que estamos numa competição para saber quem é o melhor do melhor, quem tem mais, quem manda mais, quem tem mais poder sobre o outro, e estamos esquecendo de ser.

Enquanto isso, quero que meu coração fique poluído de amor, fé e esperança num novo dia, num novo homem.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

E A CANÇÃO É TUDO






Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.


by Cecilia Meireles



quinta-feira, 15 de agosto de 2013

BOMBAS NA EMBAIXADA II




Bombas na Embaixada...foi quando me impressionei com um homem atirando pedras na divisa entre Palestina e Israel, e um menininho que mal iniciava a andar, também jogava pedrinhas; talvez isso tenha ajudado a entender um pouco a chamada 'guerra santa', que de santa não tem nada, é sangrenta mesmo. É algo quase que hereditário, acredito, uma espécie de arquétipo, sei lá, mas o fato que desde aquela cena que vi há muito tempo, pensei que entendia um pouco mais tal situação.


Mas não, não consigo aceitar ou entender a violência, a dor, o sangue, que um ser humano provoca no outro, independente do motivo, para mim nada justifica a violência, ou então, devemos perder o status de 'ser humano'.

Não é de hoje, as guerras continuam, silenciosas para os noticiários, que por sua vez não chegam a nós, em nossas vidas tão perfeitas, tão facebookeanas. Não sabemos mais se no Continente Africano as crianças passam fome, não sabemos das guerras civis, não sabemos das minas e granadas, de um povo que marcha estrada afora, na seca, no Sol, indo a lugar nenhum...

O mesmo noticiário que me ilude com notícias manipuladas diz que o lugar que mais gostei na minha infância, quando começava descobrir o mundo pela leitura, nas aulas de história. Conheci um país fascinante, mesmo país que hoje não se falam em pirâmides , mas em centenas de mortos civis, e esta ao norte do Continente Africano.

Minha luta aqui é contra o frio do tempo, de minha alma, do meu amor, dos meus sentidos, das dores que a falta nos traz, a falta dos que amamos e partiram para sempre...

Bombas na Embaixada... Então desconheço a cidade Maravilhosa e a Avenida Paulista da maior cidade da América do Sul, neste momento histórico em que um povo conhecido por sua 'covardia', digo, passividade, históricamente vinha sendo vilipendiado, e acorda um dia, e quando se pensa que se criará uma consciência, iniciar um processo de melhora na saúde, educação, agricultura (para mim básico), uma nova ala surge, com seus rostos cobertos e a anarquia como base política, só que a anarquia não tem base, muito menos política. É anarquia pela anarquia.

Eu lamento, lamento muito e peço a Deus que tenha piedade de nós.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

DIAS SOMBRIOS






A máscara de hoje com seu vasto sorriso, brilho nos olhos que querem ver mais e mais, uma bochecha saudável, o semblante necessário para uma vida nem sempre necessária, talvez pueril e terrivelmente quente, como só naqueles dias de verão. Caminhando entre a porta da rua e a cama, não esquece o que viveu na noite que a pouco acabou. Com a sorte das crianças e bêbados escapou da serpente com pouco veneno, mas que fere e a dor é insuportável, não mais que um coração ferido, mas insuportável. Os dias sombrios do passado, como pássaros agourentos, corujas, urubus (pobres pássaros, belos na sua beleza, e poderosos com suas asas voadoras), mesmo sentado a sombra de um vulcão ou dormindo a beira de um precipício, usarei mesmo assim esta máscara, com um vasto sorriso, com o semblante necessário. Os dias sombrios...




"Tira, a máscara que cobre o seu rosto

Se mostre e eu descubro se eu gosto

Do seu verdadeiro jeito de ser"

by Pitty