sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

PARA SEMPRE CAIO FERNANDO ABREU





                            UMA VESTE PROVAVELMENTE AZUL







 

Eu estava ali sem nenhum plano imediato quando vi dois homenzinhos verdes correndo sobre o tapete. Um deles retirou do bolso um minúsculo lenço e passou-o na testa. Pensei então que o lenço era eito de finíssimos fios e que eles deviam ser hábeis tecelões. Ao mesmo tempo lembrei também que necessitava de uma longa veste: uma muito longa veste provavelmente azul. Não foi dificil subjugá-los e obrigá-los a tecerem para mim. Trouxeram suas famílias e levaram milênios nesse trabalho. Catástrofes incríveis: emaranhavam-se nos fios, sufocavam no meio do pano, as agulhas os apunhalavam. Inúmeras gerações se sucederam. Nascendo, tecendo e morrendo. Enquanto isso, minha mão direita pousava ameaçadora sobre suas cabeças

                                            by Caio Fernando Abreu
 
 
ps.( um leve desbafo) Jejum de palavras, é o que preciso para sobreviver aqui, como forasteiro que sou, descubro que não tenho direito a palavra. Sou chato, gosto das coisas como devem ser, profissionalmente é claro, mas as coisas são  o que são com o tempo, e as pessoas que manipulam, que fazem, trabalham, tem este costume como lei. E um forasteiro como eu, que conheço o trabalho que faço hoje,  já fazia em outros lugares, então tudo o que disser será rechaçado, não tenho de dar opinião, nem reclamar, principalmente reclamar. De quem eu pensei ter sido bem recebido, descubro que sou um atraso, um incomodo, alguém que veio trazer novas-velhas formas de trabalhar, outros assuntos, enfim, realmente não sei o que faço aqui, mesmo tendo escolhido. Aguardarei sem silêncio, num jejum de palavras, que Deus me dê um sinal, para eu poder continuar em paz, a paz que descobri nesta cidade.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

QUANDO ESTOU EM PAZ




          Quando estou em paz, as estrelas brilham com mais intensidade, o céu está próximo e quase posso tocar as nuvens, como os brinquedos da infância que se desfazem na memória. Quando estou em paz tenho vontade  de chorar de alegria, pela conquista de alguém que lutou muito, toda uma vida, para construir uma casa. Quando estou em paz meu coração diz que quer amar, e ama, os pássaros, as árvores, as crianças órfãos de pai e mãe. Quando estou em paz meus passos são leves e silenciosos, levando-me por caminhos que me encantam e não me cansam. Quando estou em paz, minha mãe também está, e meu pai, lá no céu está em paz também. Quando estou em paz estou dentro de uma Igreja, estou dentro de mim, estou em Deus.




          Tenho o hábito da leitura, graças a Deus, nesta minha vida de mais de 40 anos já li um bom bocado, mas nunca é o suficiente, pretendo ler mais e mais. Uma grande amiga chamada Bianca, outra devoradora de livros, me emprestou alguns, bem na época que meu falecido pai estava muito doente, estava lendo cinco livros simultaneamente, uma grande confusão. Mas precisava para aliviar minha alma e ter forças para suportar o que eu e minha família tínhamos em mãos, nosso pai desacordado e de alta do hospital (a saúde pública neste país é vergonhosa), levamos para casa e por um período, antes dele partir, fazíamos rodízio para ficar e cuidar dele, e foi neste meio tempo que me vi as voltas com os cinco livros. Acabei terminando a leitura do livro A Trilha, do autor William P. Young, e dos cinco este era o que menos me interessava, por ser meio auto-ajuda, livros que tenho certo medo, por não ser um positivista, enfim. Mas ao devolver e comentar com minha amiga Bi, falei o quanto aquele livro foi bom para mim...passou um tempo, meu pai partiu...e num belo dia Bianca me presenteia com A Cabana, que seria o livro lançado primeiro que o que havia lido.
          Foi uma experiência ímpar, com Deus, através da literatura, pude apurar meus sentimentos com a religião, com Deus, com Jesus e com o Espírito Santo. É uma ótima leitura, uma história intrigante e instigante. Recomendo. No final do livro, após chorar um pouco, refletir, imaginar a cenas que havia lido, as palavras...bem no final falava-se em passar a palavra adiante, se o livro tocasse quem o lesse. O livro me tocou, profundamente. Como os profetas de Jesus que saíram pelo mundo pregando... mas o autor apenas pedia que a pessoa se manifestasse onde ela atuasse. Então estou usando minha página virtual, meu blog para deixar esta mensagem de paz, amor e tudo que Jesus pregou aqui na terra, e meu testemunho, de que só a fé pode nos salvar, deste mundo caótico e quase sem salvação. Por isso estou em paz hoje, pois cumpro com uma missão que não sou obrigado, mas me sinto feliz por fazê-lo.





"A CABANA" de William P. Young


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

LIVRO ABERTO

  • Essa cama imensa consumindo a noite
    Esse livro aberto como alegoria
    O abajur perdido em sua luz
    Essa água quieta desejando a sede
    O controle girando no ar
    A TV remota em sua fantasia
    Uma alegria que não vai passar
    Se você vier

    Esse teto frágil sustentando a lua
    Esse livro aberto como uma saída
    O tapete e seu plano de vôo
    O lençol revolto antecipando o gozo
    Essa velha casa de coral
    Essa concha muda que o meu sonho habita
    A paixão invicta que não vai passar
    Se você vier

    Esse rádio doido de olhos valvulados
    Esse livro aberto como uma sangria
    Esse poema novo sem papel
    O papel que cabe aos meus sapatos rotos
    O meu rosto que o espelho não vê
    A janela imóvel em seu desatino
    Esse meu destino que não vai passar
    Se você vier

    Esse quarto agindo à minha revelia
    Esse livro aberto como uma indecência
    O desejo é um naco de pão
    A ilusão exposta em tanto desalinho
    Uma tecla insiste em bater
    No relógio o tempo é uma saudade tensa
    E essa cama imensa que não vai passar
    Se você vier
  • by Vitor Ramil
  • quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

    SILÊNCIO


    “Escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível.
    Fixava vertigens.
    Criei todas as festas, todos os triunfos, todos os dramas.
    Tentei inventar novas flores, novos astros, novas carnes, novos idiomas.”





    O melhor é esquecer no silêncio, as palavras ditas e malditas que nem sequer escutou, descerei as escadas e ultrapassarei a linha do tempo, não sendo nada mais o passado, e o futuro talvez nem nada seja...agora vivo, sentindo o presente divino que é viver. De joelhos na Igreja lembro minha infância e minha vó, buscando o invisível na profundidade do coração, na fé que aprendi a ter...mesmo quando o tempo muda, tempestades de dor e desespero, como se um dilúvio se abatesse sobre a terra, náufragos...um mar de corpos boiando à deriva, a pena eterna...por isso o agora é mais importante, e esquecer no silêncio as mágoas, perdoar perdoar se perdoar perdoar. Olhando nos teus olhos quando possível, sou um enigma decifrado, frágil e bizarro, um anjo caído, um cão sem dono, uma estrela sem brilho, morta e fria, uma lápide de mármore no Pere Lachaise...

     

    quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

    PESCADOR DE ILUSÕES

     
     
    Se meus joelhos não doessem mais
    Diante de um bom motivo
    Que me traga fé, que me traga fé
    Se por alguns segundos eu observar
    E só observar
    A isca e o anzol, a isca e o anzol
    A isca e o anzol, a isca e o anzol
    Ainda assim estarei pronto pra comemorar
    Se eu me tornar menos faminto
    E curioso, e curioso
    O mar escuro, é, trará o medo lado a lado
    Com os corais mais coloridos
    Valeu a pena,
    Valeu a pena,
    Sou pescador de ilusões
    Sou pescador de ilusões
    Se eu ousar catar
    Na superfície de qualquer manhã
    As palavras de um livro sem final
    Sem final, sem final, sem final, final
    Valeu a pena,
    Valeu a pena,
    Sou pescador de ilusões

    by O Rappa

    terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

    ESTRANHEZA E SOLIDÃO


    "Uma parte de mim é multidão outra parte estranheza e solidão"
    by Ferreira Gullar


              Estranheza, indiferença e uma certa repulsa....quando não nos dignamos a olhar quem adentra é porque não temos nenhuma consideração, se eu fizer isso, provavelmente será por inveja de alguma coisa que esta pessoa tenha e eu não, então cobiço. Percebo que os mais espertos ou seriam inteligentes, vão embora, partem para outra bem melhor, sorrindo - recebo isso como um bálsamo da felicidade alheia -. O próximo passo é pisar em alguém, esmagar como um verme, mas é uma pessoa, e pessoas, podem ser vermes quando pisam no seu próximo.
              Stairway to heaven or hell, ainda não descobri, apenas sinto toda manhã as dores e o peso da idade, minha respiração ofegante a cada degrau que os pés alcançam. Um limão. Deixo minha vida sedentária e inicio longas caminhadas sob o Sol, como Joquim, o louco do chapéu azul. Azimov já me disse em sonho que preciso desenferrujar os ossos, a carne, a alma, os metais. Uma limonada, doce, doce, doce...
              Vejo dias felizes em uma manhã distante, corro contra o vento, medindo minha força e a dele. Perco. Sou levado como uma folha seca para longe, para longe...sobre os montes, os lagos, e teus olhos se perdem no infinito, me olhando de dentro do olho do furacão. Não desisto de lutar contra o vento, mas quem sou eu para desafiar a natureza, minha mãe e criadora, que por vezes parece que vem cobrar nossas faltas. Estranheza e solidão, caminhando pela mata virgem, pelos serros baixos do pampa, a pureza do ar que respiro... quando não nos dignamos a olhar quem se aproxima, podemos estar perdendo a única chance de conhecer uma pessoa confiável, raro hoje em dia.

    sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

    NÃO É QUESTÃO DE LIBERDADE...





    NÃO É QUESTÃO DE LIBERDADE E SIM DE EDUCAÇÃO!



              Muito discutiu-se, após a repercussão do atentado contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo, ocorrido no início de janeiro deste ano, sobre a liberdade de expressão, havendo comentários intrigantes. Assim, ressalto o do Papa Francisco, do qual entendia-se que a liberdade de expressão não pode ofender a fé alheia. Após tomar conhecimento deste, muito refleti sobre. Em poucos instantes, surgiram-me diversas indagações, e a principal delas, e motivadora do presente texto, é: há limites  para a liberdade de expressão?
             Afinal, não poderei ser totalmente livre para expor meus pensamentos e minha opinião se houver restrições, seria uma tamanha mentira dizermos que somos livres, então. A fim de averiguar  o outro lado da moeda - com intuito de não cometer o mesmo erro ora demonstrado, pensei como lidaria na condição de receptor de uma crítica, a qual certamente é auferida por alguém que é livre para expor seu posicionamento sobre um determinado assunto, evidente que não iria recebê-la alegremente de braços abertos, porém, ainda assim, acredito que deveria educadamente, é claro, entender que se eu não compartilho da mesma opinião, julgando ser esta incerta, devo persuardir com meus argumentos, ao invésde impor limites a liberdade de outrem.
             Neste mesmo sentido, creio ainda ser valoroso ressaltar que, para alguns, inclusive para mim, "fé", do latim  fides  - fidelidade, não se limita apenas a religiões, mas também a principios e a valores, e por esta razão, não poderia o jornal Charlie ter fé na liberdade ?  E, portanto, o comentário do Papa, não se aplicaria a ele próprio ?
             Portanto, lamentavelmente, entendo que o comentário realizado pelo Papa Francisco nem sequer é condizente, e para você?
     
    by DIOGO DE SOUZA, 19 anos, estudande do 6° semestre do Curso de Direito

    quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

    MAS E O MUNDO ?


    O Sol escaldante sobre a cabeça, o asfalto parece que evapora, o suor percorre o corpo, mas as passadas firmes continuam. Não poderia haver melhor lugar para se fazer uma caminhada, árvores de ambos os lados da estrada, alguns pássaros arriscavam um canto, sob o sol forte de fevereiro. Dizem que é o aquecimento global, o desmatamento da Amazônia, uma praga que se abate sobre o homem, que destrói a cada dia, um pouco mais o planeta. Caminhar, assim o fez, após aquela conversa com o médico.
    A estrada está vazia...seus passos não ecoam, sua pele arde, e o suor já percorre todas as partes do seu corpo. Mesmo assim, sentia uma paz como há muito não imaginava mais existir, desde quando abandonou a cidade grande, desde quando deixou de ler jornais, desde quando não ligou mais a televisão . Alienado, talvez os velhos amigos dissessem isso, ao ver sua nova vida.“Tem dias que tudo está em paz e agora os dias são iguais”, lembrou da canção...lembrou também do que pensar de seres que ateiam fogo em outro semelhante ? Por mais que estivesse em paz, que seus filhos estivessem sendo bem cuidados na escola, que no trabalho tudo funcionasse a contento, sorrisos, cumprimentos, lucro. O patrão vai gostar...Era uma nova vida saudável, longe do movimento brusco dos carros da capital, dos gritos nos prédios, das buzinas, das balas perdidas...ainda assim, caminhando em paz não conseguia não ver o corpo em chamas, e seu coração palpitava, e o suor escorria alegre pelo corpo, agora encharcado. Aqui tudo está em paz, mas e o mundo?


    "APRENDER A SE COLOCAR EM PRIMEIRO LUGAR NÃO É EGOÍSMO, NEM ORGULHO.
     É AMOR PRÓPRIO."   by Charles Chaplin
                       
     ...até quando ?