RUÍNAS - 40 DEGRAUS

I want the freedom and I want the guile

I want the freedom and the guile

Oh, Life tends to come and go

As long as you know

Know know know know

Know know know know

I won't share you

I won't share you

I'll see you somewhere

I'll see you sometime

The Smiths

Quando tento olhar nos teus olhos e só vejo a parte branca, um olhar de maldade. Aconteceu de chegar aqui, os caminhos são tão escorregadios, as bifurcações e as nossas escolhas, estas sim podemos culpar com vontade, quem mandou ela me fazer escolher este caminho, e chegar neste castelo em ruínas, assim como as pessoas que aqui habitam. Minto quando digo todos, os com sorte conseguem fugir, partir, se aposentar. 40 degraus subo e desço todos os dias, antes com raiva, agora com prazer, com obrigação, é meu trabalho, e corro o risco de me tornar um velho sarado. Estas ruínas refletem o que querem transformar meu coração, minha mente, meu destino. Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mas deveríamos amar as pessoas como se não houvesse amanhã, diria Russo...mas é tão mais fácil criticar, fazer comentários maldosos (vide internet). E parece muito mais fácil odiar, e é o que as pessoas estão fazendo. Sinto o ódio naquele olhar de olhos brancos.

Ouvi esta frase e achei linda: “Eu me disponho a me perdoar... por acreditar que poderia oferecer alguma coisa a outros antes de oferecer a mim.”

Como perdoar de verdade, se já perdoei e nada adiantou, agora não oferecerei minha outra face, vou apenas dormir como se nunca dormiu na vida, um não belo adormecido, com camisa de força e muitos remédios que me impeçam de morrer ou de ficar acorrentado na masmorra deste castelo em ruínas.

Quero a liberdade e eu quero o dolo
Eu quero a liberdade e o dolo
Oh, a vida tende a ir e vir
Contanto que você sabe
Sabe, sabe
Sabe, sabe
Eu não vou te compartilhar
Eu não vou te compartilhar
Vejo você em algum lugar
Vejo você em algum momento

The Smiths

LÁ ESTÃO OS POEMAS QUE ESPERAM SER ESCRITOS

Procura da Poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.

Não há criação nem morte perante a poesia.

Diante dela, a vida é um sol estático,

não aquece nem ilumina.

As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.

Não faças poesia com o corpo,

esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro

são indiferentes.

Não me reveles teus sentimentos,

que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.

O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra

e seu poder de silêncio.

Não forces o poema a desprender-se do limbo.

Não colhas no chão o poema que se perdeu.

Não adules o poema. Aceita-o

como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada

no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.

Cada uma

tem mil faces secretas sob a face neutra

e te pergunta, sem interesse pela resposta,

pobre ou terrível que lhe deres:

Trouxeste a chave?

Repara:

ermas de melodia e conceito

elas se refugiaram na noite, as palavras.

Ainda úmidas e impregnadas de sono,

rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

by Carlos Drummond de Andrade

O LAGO O FOGO O SOL

"You cry out in your sleep
All my failings exposed
And there's taste in my mouth
As desperation takes hold
Just that something so good
Just can't function no more"

Joy Division

               49 anos, inevitável não iniciar a contagem regressiva para meio século, quando então será decretado meu fim, porque não se inicia a vida aos 50 anos, não eu. Esperava estar bem sucedido aos cinquenta, com meu próprio caixão já comprado ou um consórcio de cremação quitado. Não joguei o I CHING, não tenho moedas, apenas lembrei dele hoje ao acordar com uma dor no coração, pena não ter sido um ataque cardíaco fulminante, até antes de acordar, sem precisar levar pesos nos bolsos. Não precisaria água para me afogar. O hexagrama 49 do I CHING fala de duas contradições, fogo e água, o lago. O amor salva, mas o meu vai me destruir, sem ataques epiléticos, sem um banda inglesa para fazer minha trilha sonora.

               Nunca pensei que 49 pesasse tanto, que não falasse, mas mostrasse que não existe mais passos a serem dados, nem sonhos, nem beijos. A maldição da solidão e do fracasso mostram todo dia que eu errei, encontrei as pessoas erradas, as certas eu fugi, e agora estou encurralado sem saber para onde ir. Com os olhares que não descobri se é de curiosidade ou repulsa e ódio. Meu coração está partido, só resiste porque minha mãe vive e existe um mínimo de amor dentro dele.

               Falta-me remédio, falta-me paz, falta-me vida, falta-me vontade de estar aqui, que aos poucos descubro a pior cidade do mundo, contando com todas que estão em guerra, inclusive.

                Gosto do frio, entre o fogo e a água, a água onde terei menos de cinco minutos, menos que o final de um cigarro, para acabar com esta palhaçada infeliz, esta tristeza que corrói todo dia um pouco, deixando apenas a dor no osso e na alma. Não joguei o I CHING, apenas acordei aos 49 anos completo e uma lista gigante de fracassos, eu desisto, caminharei até em casa no almoço, talvez me jogue na frente de um caminhão. Não sei se morrendo assim, encontrarei as pessoas que tanto amo que que já partiram. 49 anos, que porcaria.

"Você chora durante o sono
Todos os meus fracassos expostos
E há gosto na minha boca
Como o desespero toma conta
Só que algo tão bom
Só não pode funcionar mais"

Joy Division

ps. Estou triste demais, já tomei 15 gostas de rivotril e continuo angustiado, querendo não estar aqui, por isso este post muito particular meu, apesar de estar na internet, vou deixar sem comentários, os amigos que me conhecem sabem que não cometerei o suicídio, eu espero. Continuar assim, melhor morrer.

PEDRAS NOS BOLSOS

               Fiquei muito tempo sem pensar direito, sem saber que rumo tomar. Esquerda. Direita. Fechei os olhos e me deixei afundar nas águas barrentas daquele rio, deveria ter colocado pedras nos bolsos, como li naquele livro. Acordei e pela fresta da janela, sabia que haveria um lindo dia pela frente e que deveria enfrentá-lo, com sorrisos e brincadeiras com os elfos ao redor da casa, junto ao jardim. Pouco lembrei o rio lodoso em que morreria, as flores brotavam como estrelas em noite escura, brilhando assim, do nada. Eram flores coloridas, assim, do nada, na grama, no meu caminho.

               Diziam que fazia muito frio, mas nada me importava, queria aproveitar aquele dia, que talvez fosse o último, até eu começar a dormir novamente. Pensei ter visto olhos a me observar por entre a vegetação, era apenas o desejo de meu coração, que quer ser amado, encontrado, ninado, aquecido nestas noites frias, em que as flores se escondem e as estrelas brilham, e eu estou com pedras nos bolsos para ver se desta vez o rio lodoso me permite afundar, antes que eu acorde.

MAS TEM NO OUTONO UMA LUZ

Telhados de Paris

Venta
Ali se vê
Onde o arvoredo inventa um ballet
Enquanto invento aqui pra mim
Um silêncio sem fim
Deixando a rima assim
Sem mágoas, sem nada
Só uma janela em cruz
E uma paisagem tão comum
Telhados de Paris
Em casas velhas, mudas
Em blocos que o engano fez aqui
Mas tem no outono uma luz
Que acaricia essa dureza cor de giz
Que mora ao lado e mais parece outro país
Que me estranha mas não sabe se é feliz
E não entende quando eu grito

O tempo se foi
Há tempos que eu já desisti
Dos planos daquele assalto
E de versos retos, corretos
O resto da paixão, reguei
Vai servir pra nós
O doce da loucura é teu, é meu
Pra usar à sós
Eu tenho os olhos doidos, doidos, já vi
Meus olhos doidos, doidos, são doidos por ti

by Ney Lisboa

DIÁRIO 24 DE MAIO

            




             Eu agora aceito a ideia de que... aquilo que me incomoda nos outros são coisas que me incomodam em mim.

               

                 Veja as pessoas de sua família como de fato são: seres espirituais e uma jornada espiritual que nem sempre segue um caminho direto. Veja os membros de sua família como almas em uma jornada, tendo dificuldades com suas lições, exatamente como você. Veja-os como crianças vulneráveis e inocentes, com tanto medo de seus desafios quanto você tem dos seus. Tal como você, nem sempre eles fazem a coisa certa, da forma certa, pelas razões certas.  E há momentos em que eles precisam de uma segunda chance. Mesmo que seja a centésima vez em que eles precisam de uma segunda chance. Você já não esteve na mesma situação?

            Você lembra das vezes em que teve medo de se olhar? Lembra de ter medo de sentir culpa ou vergonha do que viu? Lembra de como tentou ocultar aquilo que classificou de ruim? Lembra como odiou ouvir as coisas que as pessoas lhe disseram quando descobriram o que você tentava esconder? Lembra das suas reações? Bem, deixe essas lembranças ajudarem você a entender que odeia nos outros aspectos que são reflexos do que você odeia em si. Olhe essas pessoas com compaixão e veja sua dor, suas feridas, suas tentativas fúteis de esconder sua verdade silenciosa.

Até hoje, você pode ter visto determinados membros de sua família com olhos recriminadores ou hostis. Agora você compreende que vê neles características suas. Hoje, olhe para seus parentes, sua comunidade e a família mundial com compaixão, dando-lhes o apoio e o amor de que eles precisam para desejarem melhorar.

Hoje, eu me dedico a ver todos os membros da minha família com os olhos repletos de compaixão e  amor.

                            
                                        by Dílson Gimba

DOR E FRIO

               Dor e frio, foi assim que me contaram, daqueles dias que a lua estava no céu ao meio dia e não havia Sol, só sua luz. Meu avô era um menino ainda, quando na estância em que morava, quebrou a perna em um acidente, o que só ficou sabendo no outro dia no hospital da cidade. Antes, naquele dia que não era noite, mas tinha lua no céu, meu avô chorava de dor, sentindo as paredes com o vento forte que soprava lá fora. Soube depois, era um vento chamado minuano, que esfriava mais o inverno, que já era frio naquelas bandas. Já alta madruga, com um leve vento soprando sobre o gelo que se acumulava sobre as casas, os campos, até pequenos riachos se rendiam aquele fenômeno que se instalava naquelas paragens. Meu avô não ouvia nada, nem um cão latia, apenas aquela dor, aquele frio. Foi então que num impulso de desespero, abriu a janela, estendeu um coberto e colocou a perna quebrada sobre o parapeito da janela, deixando assim que aquele frio da madrugada gelada tomasse conta daquela perna quebrada, o que meu avô não sabia ainda. E assim amanheceu aquele dia noite clara de lua, adormecido de dor e frio, quando vieram para levá-lo ao hospital.