Sim,
são os ipês amarelos que chegaram junto de setembro e tingiram esta
rua, de flores que voam das árvores com o vento. Observei
atentamente, existe um desinteresse coletivo por tudo que diga
respeito a realidade crua e nua do dia a dia. Não sei se mais alguém
observou estas árvores ontem carecas, cadavéricas e hoje com este
esplendor amarelo de suas flores. Os dias passam e nada nos dizem,
apenas se pode sentir o cheiro de sangue no ar. Mais flores, mais
cores, mais vida… amenizam o sofrimento da alma, diante de tanta
dor, morte, doença e fome no mundo. Existem jardins com as mais
diversas flores e cores, e existem pessoas que fogem de casa deixando
tudo para trás, pode ser fuga de guerras e também das catástrofes
naturais. A natureza fica nos mandando sinais com fenômenos ainda
suportáveis pelo ser humano. Também poderemos perder nossas casas
se uma bomba explodir o mundo. Me permito ficar próximo desta bela
árvore, que está sempre ali, mas hoje eu a vi por inteiro, via sua
alma, seus galhos secos e suas doces flores amarelas que se deixavam
quedar com a brisa que sopra, anunciando que logo teremos uma
primavera...
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
by Carlos DrumMond de Andrade
Olá, meu amigo Jair, presumo que o primeiro texto é teu! Um misto de indignação.
ResponderExcluir"Os dias passam e nada nos dizem, apenas se pode sentir o cheiro de sangue no ar."
É verdade, uma hora vemos coisas belas, alegria na natureza, e não leva muito para acordarmos com outro cenário que dá medo. E aí tudo se confunde. Também não sei de mais nada, ando confusa com tudo que está acontecendo e não sei no que isso vai virar. Está demais! Teu texto, como tantos que escreves, é duro e suave, mas vejo que no final dá uma agonia, que também sinto. Um medo como Drummond diz.
Mas vamos indo, amigo, avançando como dá. Com coragem, com garra.
Belo texto, quando você quer, coloca a alma para escrever... e tudo dá certo, pinta a realidade como ela é.
Grande abraço! Dias mais felizes pra nós todos.
Minha querida amiga Tais, o primeiro texto é meu...gosto muito de ipê amarelo e tento manter uma tradição no meu blog de colocar um ipê amarelo, junto com algum texto. A figura alegórica do ipê neste texto me confundiu, queria ver o belo, a beleza da flor, mas existe um cheiro de sangue no ar, no mundo, e isto tem me assustado, pois o mundo, os governantes estão trilhando um caminho de destruição, e talvez não tenha mais volta. E Drummond fala muito bem do meu medo neste poema, o medo de tudo que pode acabar com nossa paz, com nossas vidas. Sempre fico feliz com tua presença por aqui, adorei especialmente este comentário, pois me perdi um pouco quando escrevia, mas era isso que falaste no comentário meu objetivo. Existe o bem e o mal, escolho o bem; existe o belo e o feio, prefiro o belo, embora por vezes não podemos deixar de ver e sentir o feio. Obrigado querida amiga por se fazer presente em meus post solitários. OBRIGADO. Carinho respeito e abraço.
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