Diamba
Negro velho fuma diamba
para amassar a memória
para amassar a memória
O que é bom fica lá longe...
Os olhos vão-se embora pra longe
O ouvido de repente parou
Com mais uma pitada
o chão perdeu o fundo
Negro escorregou
Caiu no meio da África
O ouvido de repente parou
Com mais uma pitada
o chão perdeu o fundo
Negro escorregou
Caiu no meio da África
Então apareceu do fundo da floresta
uma tropa de elefantes enormes
trotando
Cinqüenta elefantes
puxando uma lagoa
uma tropa de elefantes enormes
trotando
Cinqüenta elefantes
puxando uma lagoa
– Para onde vão levar esta lagoa?
Está derramando água no caminho
Está derramando água no caminho
A água no caminho juntou
correu correu
fez o rio Congo
Águas tristes gemeram
e as estrelas choraram
correu correu
fez o rio Congo
Águas tristes gemeram
e as estrelas choraram
– Aquele navio veio buscar o rio Congo!
Então as florestas se reuniram
e emprestaram um pouco de sombras pro rio Congo dormir
Então as florestas se reuniram
e emprestaram um pouco de sombras pro rio Congo dormir
Os coqueiros debruçaram-se na praia
para dizer adeus
para dizer adeus
by Raul Bopp
ps."Em 1932, Bopp publicou o livro Urucungo – poemas negros, coleção de poesias que buscam retratar a história dos negros no Brasil, desde o sequestro na África até os primeiros anos após a abolição da escravatura. "
Triste e lindo!
ResponderExcluirParabéns pela escolha,meu amigo.
Abraços.
Querido amigo Xaverico, quanta gentileza, fico muito, muito feliz com tua presença, confesso que não espero ninguém por aqui, não tenho visitado quase ninguém e também uma caminhada iniciada e me parece que não terá volta...este poeta era gaúcho e participou da Semana de Arte Moderna e este poema recitei quando fazia teatro, nos idos anos 80, foi o poema que mais me representou dos que eu recitei, era minha maneiras de colocar o "ser negro", no caso eu o ator e negro falando algo que me fazia muito sentido e ainda faz. é realmente triste e lindo, as memórias surrealista de um negro escravo afastado de seu povo, revisitando a mãe África na memória e na saudade. Obrigado gentil amigo por não me deixar isolado para sempre (gosto dessas palavras grandes, sempre, nunca, enfim). Me digo introspecto e isolado. Obrigado querido amigo, por estar aqui. Carinho respeito e abraço.
ExcluirOlá, amigo Jair!!! rsss, estou com o livro Poesia Completa de Raul Bopp - organização e notas de Augusto Massi! Essa linda poesia está na página 235. Maravilha! 390 páginas. Fiquei feliz de você ter postado.
ResponderExcluirMeu amigo Jair, apareça! A gente sente tua falta!! Acredito que todos os amigo, também.
Grande abraço, amigo, fique bem!
Todos diferentes, todos iguais!
ResponderExcluirBoa semana.
Abraço