Uma
quase improvável lembrança, não fossem teus olhos negros, que
ainda me perseguem nos sonhos e
pesadelos que tive, depois de tua partida, há muitos anos atrás.
Não é saudade, já superei esta fase. A nostalgia faz parte de
minha personalidade, assim
como a melancolia, que se arrasta comigo estes anos todos de solidão.
Com o passar do tempo se acostuma a ser só, a viver só, estar só
em casa, acostumei. Não sinto teu toque há muitos anos e já
esqueci a temperatura dele, se tinha vertigem e prazer, não sei
mais como era...é só por hoje, e isso passa, como passa o mundo
diante de meus olhos atônitos com tanta violência e falta de amor,
o mesmo amor que já me inundou, hoje faz falta em minha vida e no
mundo. O tempo faz a memória falhar, até esquecer ou me esquecer de
mim com teu corpo ainda próximo...agora distante e pueril,
esquecível e invisível. As raras e perdidas lembranças se esvaem,
como teu amor por mim, que acabou, simplesmente. Me pego caminhando
até a janela de meu quarto e olhando o céu, as nuvens, o vento, o
tempo e os pequenos seres alados, sobrevoando minha cabeça, me
deixando tonto de alegria e esquecimento. Abrindo a possibilidade da
alegria em minha vida, da luz e da harmonia. Estar em paz, mesmo só,
mesmo caminhando distante de casa, da janela...subindo as montanhas
tentando me explicar esta necessidade de viver só. O Tarot veio em
meu socorro, o que explicou muita coisa em minha vida. O Eremita é
minha carta...uma quase improvável lembrança, não fossem os
pássaros em bandos cantarem sobre minha cabeça, me fazendo esquecer
e me encontrar feliz comigo mesmo.
sexta-feira, 24 de agosto de 2018
terça-feira, 21 de agosto de 2018
ESTAMOS VIVOS AINDA
NATÁLIA
Vamos falar de pesticidas
E de tragédias radioativas
De doenças incuráveis
Vamos falar de sua vida
Preste atenção ao que eles dizem
Ter esperança é hipocrisia
A felicidade é uma mentira
E a mentira é salvação
Beba desse sangue imundo
E você conseguirá dinheiro
E quando o circo pega fogo
Somos os animais na jaula
Mas você só quer algodão doce
Não confunda ética com éter
Quando penso em você eu tenho febre
E de tragédias radioativas
De doenças incuráveis
Vamos falar de sua vida
Preste atenção ao que eles dizem
Ter esperança é hipocrisia
A felicidade é uma mentira
E a mentira é salvação
Beba desse sangue imundo
E você conseguirá dinheiro
E quando o circo pega fogo
Somos os animais na jaula
Mas você só quer algodão doce
Não confunda ética com éter
Quando penso em você eu tenho febre
Mas quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
Quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
Uma canção pra você
Quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
É complicado estar só
Quem está sozinho que o diga
Quando a tristeza é sempre o ponto de partida
Quando tudo é solidão
É preciso acreditar num novo dia
Na nossa grande geração perdida
Nos meninos e meninas
Nos trevos de quatro folhas
A escuridão ainda é pior que essa luz cinza
Mas estamos vivos ainda
Quem está sozinho que o diga
Quando a tristeza é sempre o ponto de partida
Quando tudo é solidão
É preciso acreditar num novo dia
Na nossa grande geração perdida
Nos meninos e meninas
Nos trevos de quatro folhas
A escuridão ainda é pior que essa luz cinza
Mas estamos vivos ainda
E quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
Quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
Uma canção pra você
Quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
by Legião Urbana
terça-feira, 14 de agosto de 2018
MUSGO
Emily Dickinson |
Morri pela Beleza – mas mal eu
Na tumba me acomodara,
Um que pela Verdade então morrera
A meu lado se deitava.
Na tumba me acomodara,
Um que pela Verdade então morrera
A meu lado se deitava.
De manso perguntou por quem tombara…
– Pela Beleza – disse eu.
– A mim foi a Verdade. É a mesma Coisa.
Somos Irmãos – respondeu.
– Pela Beleza – disse eu.
– A mim foi a Verdade. É a mesma Coisa.
Somos Irmãos – respondeu.
E quais na Noite os que se encontram falam –
De Quarto a Quarto a gente conversou –
Até que o Musgo veio aos nossos lábios –
E os nossos nomes – tapou.
by Emily Dickinson
por Jorge de Sena
De Quarto a Quarto a gente conversou –
Até que o Musgo veio aos nossos lábios –
E os nossos nomes – tapou.
by Emily Dickinson
por Jorge de Sena
segunda-feira, 13 de agosto de 2018
RUMO
Navegando
por entre mares desconhecidos e silenciosos encontro meu eu mais
profundo e esquecido, tão sereno e feliz. Naõ havia Netuno, nem
sereias, nem fadas da água...apenas meu eu puro e profundo de mim.
Sentado no fundo desse mar azul olhando os peixes que por ali
circulavam. Antes de me afogar, acordo. É madrugada ainda, mas meu
sono não existe mais. Sou tomado por pensamentos, lembranças...Ainda
é escuro, o dia demora raiar, mas o frio faz com que fique na cama,
esperando o tempo passar, o dia surgir e a vida seguir seu rumo.
Espero ansioso a manhã de segunda-feira, para me ocupar no trabalho,
não pensar, não saber o que se passa no mundo. Pode ser alienação,
pode ser egoísmo meu, mas minha dor esta calada, e se ver o que
realmente acontece no mundo, minha dor gritará e não terei mais
paz, nem calma, nem felicidade, nem tempo, sem sono, como nesta
madrugada. Tentei ainda buscar o mar desconhecido que sonhava, mas
não fechei mais os olhos, esperando o amanhecer. Talvez seja o
antidepressivo que tomo todas as manhãs, que me traz esta sensação
de tranquilidade, talvez falsa...mas prefiro assim. Não suporto mais
chorar minha falta de amor, não suporto mais me queixar a falta de
grana, nem a fome que às vezes sinto. Prefiro assim, navegar neste
mar estranho e tranquilo, dormindo ou acordado...Ainda é escuro, o
dia demora raiar, mas o frio faz com que fique na cama, esperando o
tempo passar, o dia surgir e a vida seguir seu rumo.
quinta-feira, 9 de agosto de 2018
DEUS PROVERÁ
Meu
nome é Azulão, este é meu nome porque pareço um azulão, minhas
penas e penugens são tão pretas...Taí meu nome, aliás, no meu
bando, somos todos assim. O pavor dos arrozeiros, pois comer arroz na
casca, não tem nada melhor. Mas não é disso que falo agora. Desde
pequeno eu não sabia quem era, olhava, olhava e éramos todos
iguais. Pássaros azulões.
Mas decidi voar por outros ares, encontrar novos amigos. Voei, voei até encontrar meu primeiro amigo, e ele era verde e bicudo. Ele me ensinou muitas coisas, como saber que existem os pássaros, nós, e, os que comandam e destroem tudo, os seres humanos. Falei que voava a dias e não havia encontrado nenhuma lavoura de arroz, e estava com muita fome. Então numa bela revoada o papagaio gritou na língua dos homens: não te preocupes, vá com Deus, ele proverá. Quem é Deus ? perguntei. Ele já sumindo, ainda gritou: Ele tudo pode...Ele é tudo...Ele proverá. E sumiu na imensidão da casa. Foi então que percebi, estava na cidade, e com muita fome.
Amanhecia o dia e iniciei meu voo a esmo. Estava começando a sentir saudades daquele bando barulhento de azulões, que agora aqui, acho até engraçado. Opa, quase fui atropelado por um sabiá, e logo um sabiá ! Estava numa roleta russa de pássaros de todos os tipos: pardais, canários, periquitos, pombas...era uma gritaria, o que reforçou minha memória das saudades de minha família. Fui atrás e indaguei para onde iriam. E todos respondiam: Deus proverá, Deus proverá. Já seguindo eles lembrei do papagaio e de minha fome, porque se demorar muito não terei mais forças para bater as asas.
Quando dei por mim já estava em outro lugar, parecido com o local onde encontrei o papagaio, era um pátio, melhor, os fundos de um pátio. Todos assentaram-se nos galhos de uma grande figueira, que fica de frente para uma grande janela de vidro. Já haviam muitos pássaros, e todos repetindo: Deus proverá, Deus proverá...Estava já meio tonto, quando de repente vislumbro uma sombra, ninguém voou, mas o alvoroço era grande.
Era uma senhora alta, de óculos, roupão e um jornal debaixo do braço. Ligou a água para aquecer e veio se aproximando da janela, para delírio de alguns que já esboçavam voos em torno de si, na grande árvore, chegando perto da janela os mais ousados. Percebia um sorriso naquele rosto claro de mulher madura, satisfeita com sua rotina. Quando ela abriu a janela, a festa foi geral, todos gritavam: Deus proverá, Deus proverá...Então ela jogou vários tipos de sementes e outros alimentos, daí a festa foi geral.
Estava imóvel no galho, quando percebi que ela olhava-me fixamente, com aquele olhar que só Deus possui, e ela poderia ser Deus, pois estendeu-me a mão. Sim, era para mim.........estava com muita fome, cansado, fraco, então lancei-me num voo cego. Talvez fosse meu último voo. Acho que desmaiei, acordo em suas mãos, segurava-me com uma e acariciava-me com a outra, e para meu espanto sobre a mesa já com seu café preparado, muito arroz com casca. Eu e Deus tomamos nosso desjejum.
Mas decidi voar por outros ares, encontrar novos amigos. Voei, voei até encontrar meu primeiro amigo, e ele era verde e bicudo. Ele me ensinou muitas coisas, como saber que existem os pássaros, nós, e, os que comandam e destroem tudo, os seres humanos. Falei que voava a dias e não havia encontrado nenhuma lavoura de arroz, e estava com muita fome. Então numa bela revoada o papagaio gritou na língua dos homens: não te preocupes, vá com Deus, ele proverá. Quem é Deus ? perguntei. Ele já sumindo, ainda gritou: Ele tudo pode...Ele é tudo...Ele proverá. E sumiu na imensidão da casa. Foi então que percebi, estava na cidade, e com muita fome.
Amanhecia o dia e iniciei meu voo a esmo. Estava começando a sentir saudades daquele bando barulhento de azulões, que agora aqui, acho até engraçado. Opa, quase fui atropelado por um sabiá, e logo um sabiá ! Estava numa roleta russa de pássaros de todos os tipos: pardais, canários, periquitos, pombas...era uma gritaria, o que reforçou minha memória das saudades de minha família. Fui atrás e indaguei para onde iriam. E todos respondiam: Deus proverá, Deus proverá. Já seguindo eles lembrei do papagaio e de minha fome, porque se demorar muito não terei mais forças para bater as asas.
Quando dei por mim já estava em outro lugar, parecido com o local onde encontrei o papagaio, era um pátio, melhor, os fundos de um pátio. Todos assentaram-se nos galhos de uma grande figueira, que fica de frente para uma grande janela de vidro. Já haviam muitos pássaros, e todos repetindo: Deus proverá, Deus proverá...Estava já meio tonto, quando de repente vislumbro uma sombra, ninguém voou, mas o alvoroço era grande.
Era uma senhora alta, de óculos, roupão e um jornal debaixo do braço. Ligou a água para aquecer e veio se aproximando da janela, para delírio de alguns que já esboçavam voos em torno de si, na grande árvore, chegando perto da janela os mais ousados. Percebia um sorriso naquele rosto claro de mulher madura, satisfeita com sua rotina. Quando ela abriu a janela, a festa foi geral, todos gritavam: Deus proverá, Deus proverá...Então ela jogou vários tipos de sementes e outros alimentos, daí a festa foi geral.
Estava imóvel no galho, quando percebi que ela olhava-me fixamente, com aquele olhar que só Deus possui, e ela poderia ser Deus, pois estendeu-me a mão. Sim, era para mim.........estava com muita fome, cansado, fraco, então lancei-me num voo cego. Talvez fosse meu último voo. Acho que desmaiei, acordo em suas mãos, segurava-me com uma e acariciava-me com a outra, e para meu espanto sobre a mesa já com seu café preparado, muito arroz com casca. Eu e Deus tomamos nosso desjejum.
quarta-feira, 8 de agosto de 2018
PÁSSARO-PALAVRA
Amada vida.
Que essa garra de ferro
Imensa
Que apunhala a palavra
Se afaste
Da boca dos poetas
PÁSSARO-PALAVRA
LIVRE
VOLÚPIA DE SER ASA
NA MINHA BOCA.
Que essa garra de ferro
Imensa
Que me dilacera
Desapareça
Do ensolarado roteiro
Do poeta
PÁSSARO-PALAVRA
LIVRE
VOLÚPIA DE SER ASA
NA MINHA BOCA
Que essa garra de ferro
Calcinada
Se desfaça
Diante da luz
Intensa palavra
PALAVRA-LIVRE
Volúpia de ser pássaro
Amada vertiginosa
Asa
by Hilda Hilst
OBRIGADO: Tais Luso dr Pedro Luso Rui Pires Brisonmatos Dilmar Gomes Cleber Eldridge Dilita
quarta-feira, 1 de agosto de 2018
PALAVRAS E RESÍDUOS
Hilda Hilst |
SOMBRIO
Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veemente dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo um desejo
Sem dono, um adorar-te vivido mas libre
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura
Crueldade.
by Hilda Hilst
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