As
luzes brilham nos postes, e meus olhos brilham no escuro de uma
lágrima que se perde em minha roupa de cama. Sei que lá fora o
mundo continua, apesar de minha dor, de minha tristeza. Embaixo das
árvores de plástico, ainda se percebe o sussurro de um menino
triste, deitado no chão, brincando com uma formiguinha desorientada,
sem suas pequenas antenas. Ele tenta falar com ela, mas ela não
ouve, não entende, ele chora e uma lágrima afoga a pequena formiga.
As luzes ainda brilham forte, sob um céu escuro e sem estrelas, do
mar. São ciumentas, as luzes, e não permitem que as estrelas tirem
seu brilho. Aos poucos o sono e o cansaço vão vencendo a dor e a
angustia, deixando-me dormir em paz. Paz que logo acaba, com a
chegada dos pesadelos, iniciando a ronda noturna, torturando ao longo
da madruga...Agonia, Instante da vida que precede imediatamente o
momento da morte, este era meu estado naquela tarde de pouco Sol e
muitas nuvens e ventos, agonia. Não fosse o mal estar, era só se
deixar levar para aquele plano brilhante que tudo se transformou, um
pouco antes da náusea. Olhei para uma árvore e ela brilhava tanto
que parecia me cegar por instantes, me jogando num fundo escuro e
calmo e frio, mesmo assim, meu corpo suava, perdendo líquido,
memórias e saúde. Tentei contar quantos passos conseguia dar, mas
não saia do lugar, deixava de me comandar, envolto nos braços da
morte. E fiquei ali, me olhando, enquanto algumas mulheres tentavam
desesperadamente encontrar uma veia: traiçoeira, dizia uma delas,
depois não ouvi mais nada. Aos poucos retornei ao que era antes,
vivo. Algumas pessoas esperavam minha volta, só queria proteger
minha mãe, então não morri. Acordo assustado, sento na cama e
sinto que vivo, era um pesadelo...antes de pegar no sono, percebo que
pela janela ainda entra uma luz artificial e brilhante, dos postes de
iluminação.
by Jair Machado Rodrigues
(Muito obrigado Mário Quintana)