Arrastando
um feixe de ossos, estrada a fora. Ossos catados na seca do
nordeste, ossos de animais e alguns crânios humanos, muito pequenos.
Eram de crianças mortas pela seca, pelo abuso, pela fome, pelo
trabalho escravo infantil. Morrem muitas crianças neste país. O
tempo seco, a terra esturricada, levanta poeira a cada passo dado. O
Sol escaldante sobre a cabeça, que é ornamentada com um chapéu,
velho, surrado, sujo pelo tempo. É um castigo, a pena eterna, vagar
por estas terras secas e vazias de alma e de verde, pois tudo está
seco, cadavérico e pequeno, como se os arbustos tentassem, mas o Sol
que também dá vida, não permitia, seus raios impiedosamente
atingiam as plantas, as sementes, as raízes...Vagando sem destino,
arrastando ossos e remoendo dores e mágoas, medos e abandono e
solidão. O dia se estende, os pés já não sabem mais, se pisam ou
flutuam, as dores adormeceram os passos, que seguem, ad
infinitum...Olhando para trás, o que ficou, não tem mais jeito.
Águas passadas não movem moinhos, mesmo um Quixote iludido, assim
seguia sua saga, sua sina. Arrastando os ossos no deserto de vidas,
onde o passado deixou de assombrar, apenas os mortos continuam vivos
em seu coração, que dilacerado e infeliz, teima em bater, levando
sangue para o cérebro, para todo o corpo, que se sente morto. Se ao
menos o coração parasse de bater, se juntaria aos mortos que tanto
amava e que o deixaram assim, perdido, só, arrastando um feixe de
ossos, estrada a fora.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
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