segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

O TEMPO SECO

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Arrastando um feixe de ossos, estrada a fora. Ossos catados na seca do nordeste, ossos de animais e alguns crânios humanos, muito pequenos. Eram de crianças mortas pela seca, pelo abuso, pela fome, pelo trabalho escravo infantil. Morrem muitas crianças neste país. O tempo seco, a terra esturricada, levanta poeira a cada passo dado. O Sol escaldante sobre a cabeça, que é ornamentada com um chapéu, velho, surrado, sujo pelo tempo. É um castigo, a pena eterna, vagar por estas terras secas e vazias de alma e de verde, pois tudo está seco, cadavérico e pequeno, como se os arbustos tentassem, mas o Sol que também dá vida, não permitia, seus raios impiedosamente atingiam as plantas, as sementes, as raízes...Vagando sem destino, arrastando ossos e remoendo dores e mágoas, medos e abandono e solidão. O dia se estende, os pés já não sabem mais, se pisam ou flutuam, as dores adormeceram os passos, que seguem, ad infinitum...Olhando para trás, o que ficou, não tem mais jeito. Águas passadas não movem moinhos, mesmo um Quixote iludido, assim seguia sua saga, sua sina. Arrastando os ossos no deserto de vidas, onde o passado deixou de assombrar, apenas os mortos continuam vivos em seu coração, que dilacerado e infeliz, teima em bater, levando sangue para o cérebro, para todo o corpo, que se sente morto. Se ao menos o coração parasse de bater, se juntaria aos mortos que tanto amava e que o deixaram assim, perdido, só, arrastando um feixe de ossos, estrada a fora.

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