Sobre
a ponte, olhava o rio e pensava na vida, no tempo que estou por
aqui...qual o próximo passo ? Eis que surge ao longe no rio,
algo flutuante; senti um pouco de inveja, não sei nadar, muito
menos boiar...gosto dos filmes bíblicos onde aparece Jesus
caminhando sobre as águas. Continuei a observar aquele corpo
estranho, não corpo humano, mas um tronco de árvore
talvez, até mesmo um pequeno barco à deriva. Como se
fosse permitido um rio carregar um corpo humano, boiando em suas
águas...foi o que vi, quando aquele corpo inchado passou sob a
ponte. Fiquei pensando da vez que corri até a ponte em um rio
que passava pela cidade em que morei na infância...queria
morrer, me jogar, ir para o fundo e depois de cinco minutos, subir à
tona e boiar ao sabor do rio, esquecendo de tudo, família,
amor abortado, jardins que não floresceram, embora eu me
empenhasse com os cuidados, quando a cama me deixava sair dela,
quando conseguia me arrastar até a porta dos fundos e
pegar o regador. Absorto nestes pensamentos, quase esqueci que um
corpo morto boiando passou sob a ponte, sob meus pés...iniciou
um burburinho, cochichos, e fofocas, pois aquele corpo chegou na
prainha do lugar, e da ponte pude perceber a aglomeração
em volta ao corpo, que há pouco tempo deslizava pelo rio,
assim, como me perdia em pensamentos. Sobre a ponte pude ver o
cadáver boiante encontrar um porto seguro, nas areias daquela
prainha. E eu ? O faço aqui ? Senti uma necessidade urgente de
ver aquele morto. Pelo acostamento, fui descendo até as
areias brancas da prainha, e logo já me misturava com a
multidão aglomerada envolta do corpo. Ali. Estático.
Mudo. Parado. Morto. Era negro e tinha um pequeno bigode, podia se
ver no rosto inchado, assim como o resto do corpo, que era
jovem...respirei aliviado, apesar de quase achar que era eu, daqui do
alto da ponte.
quarta-feira, 15 de março de 2017
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Gostei! Um texto surreal quanto ao final, mas repleto de angústias, indagações próprias dos humanos. E o triste, mas é vero, que tais coisas acontecem e passam pelas cabeças das crianças...
ResponderExcluirAbraços, meu amigo! Está de férias ainda? E sua mãe? Espero que ela esteja bem melhor! Deve estar, com tantos mimos!!rs
Minha querida amiga Tais, não tenho como medir o grau de felicidade quando hoje, te encontro aqui, neste post, neste conto meio mórbido (eu sou meio mórbido rs).... Acabaram minhas férias e já estou a trabalhar, e, quando cheguei no trabalho, duas colegas estavam preocupadas comigo, pois souberam de um corpo encontrado boiando no rio Jacuí, que passa aqui em Rio Pardo, que vem de minha cidade natal e era negro e tinha um bigode, estas eram os únicos dados dele (aproveitei o momento rs). Mas me pego pensando, divagando sobre isso e muito mais coisas que passam, parece que a cabeça nunca para de pensar rs. Então parti para mais um exercício de ficção...o final surreal, como que dizes, saiu assim, acho que já escrevi um personagem que morre e não sabe rs, mas este não, não era ele, embora o final crie este impasse. Teu olhar observador demonstra teu respeito pelos escritos alheios, e eu, por minha vez fico feliz demais por teu gesto. Pensei nisso quando li pela última vez antes de postar, o personagem vai até a prainha, vê o corpo e já está na ponte olhando novamente, daí deixei assim, meio surreal. Obrigado minha amiga querida por trazer estas lindas palavras para este post. Fiquei toda minhas férias com minha mãe e o Teimoso por perto, consultei minha mãe com um especialista dos olhos, fizemos exames e é possível reverter a catarata, então estou focado nisso, quero que ela me veja, e também é tudo particular, um custo alto, mas é minha mãe, eu não conseguiria seguir adiante, se não fizesse algo por ela, o amor de minha vida...no mais, de volta ao trabalho, e continuar exercitando meus “continhos”. Obrigado, muito obrigado. Carinho respeito e abraço.
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