Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
não fede
nem cheira.
by Ferreira Gullar
Gullar
ResponderExcluirQuando um poeta morre, uma estrela aparece
Fixa e transcendente no vasto firmamento
Será o cosmos reconhecendo no momento
Este bardo falecido que resplandece?
Então lá, Ferreira Gullar tomará assento
Onde por certo brilhará quando anoitece
Quando, na noite, vai colhendo sua messe
Espalhando poemas sujos pelo vento.
Porém o bardo fecundo não se vai, apenas
E deixa trabalho que pra todos cai bem
Os versos homéricos e as rimas pequenas.
Mensagens, todas obras de Gullar contém
Exaltadas umas, outras de feições serenas
Contudo, inspiradas e brilhantes também.
Obrigado meu estimado amigo e escritor, poeta e meu xará Jair Lopes, senhor de todas as palavras. É o poeta realista e sonhador, político e humano, que fica homenageado aqui com este belo poema. Obrigado sempre Meu amigo, por fazer parte importante em minha vida. Carinho respeito e abraço.
ExcluirBem ao estilo de Gullar! Esse poeta foi demais, falava das mazelas, do cotidiano. Sua poesia é fruto de uma sensibilidade erudita, lírica e social. Sua poética é capaz de traduzir, além das angústias do homem contemporâneo, os fecundos silêncios que alimentam seus próprios conflitos, inquietações, tristezas e alegrias. Pena, lastimo sua morte, muito. Era gente. Esse poema do teu perfil, Traduzir-se, adoro. Bela postagem meu amigo!
ResponderExcluirUma bela semana pra você, tranquila como água de poço...rs.
Abraços, meu amigo.
Minha querida amiga Tais, direi todos os obrigados por eu fazer parte de teus amigos virtuais/reais...disseste tudo, num belo resumo sobre a vida e obra deste imenso poeta que partiu. Obrigado sempre minha querida amiga Tais. Carinho respeito e abraço.
ExcluirFerreira Gullar... traduzia-se em seus versos... otimo poeta...
ResponderExcluirBeijos...
Ele nos traduzia também, um poeta perto do humano, do povo, realista e poético...obrigado Frida por se fazer presente. de algum modo, na minha voda. Carinho respeito e abraço.
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