segunda-feira, 19 de agosto de 2019

AUSENTE

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A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

 "Farewell". Rio de Janeiro: Editora Record, 1996.

4 comentários:

  1. La vida es así, las cosas suceden aunque alguna veces nos causen dolor.

    Abrazo.

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    1. Sim, meu amigo a vida é bem assim, só não sei se suportarei mais mudanças indesejadas em minha vida, gracias querido amigo Rafael aportar aqui, realmente estou me tornando ausente, mas da minha vida. Carinho respeito e abraço.

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  2. Caro Jair
    Quem há que nunca tenha sentido um pouquinho de saudade?! Mas o Poeta consegue ainda ter saudade de alguém de quem tem queixas... Ser poeta é ser sofredor. Abraço e bem estar. Dilita

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    1. Sinto tanta saudade do que não pude ter, ou viver, e pensar que o tempo se esvai e eu aqui, sentindo falta de algo que nunca tivei. Minha querida Dilita, obrigado por tua nobre presença em meus posts, enches meu coração de alegria...Carinho respeito e abraço.

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