sexta-feira, 18 de março de 2016

RECADO AOS AMIGOS DISTANTES



Meus companheiros amados,
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.

Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando é dia.

Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso
e me dou tantos trabalhos.

Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.

Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança.

by Cecília Meireles, in 'Poemas (1951)

EXERCÍCIOS DE MORTE


Como um espectro ou um plasma, uma sombra invisível, um nada. Em silêncio, caminha assim, quieto, ao redor, impenetrável, um satélite, ao redor. Não sendo percebido, ou, ignorado, não fazendo parte do instante. Bons, são os silêncios pelos corredores desertos. Arrasta um peso de dor e infelicidade, decepção e arrependimento, quando ecoa pelos corredores e escadas torturantes, os gritos abafados provocados pela cólera, que envenenou o sangue. Mundos distintos os nossos...

Resultado de imagem para suicídio

Talvez eu cometa suicídio amanhã, quando finalmente o final de minha existência chegar, minhas mágoas transbordarem e não haver mais saída ou solução ou desejo ou amor...amanhã estarei livre, não verei Deus, ele não gosta de suicídio, mas não existe motivo para ficar aqui...


Resultado de imagem para gato amarelo comendo pássaro

Quase chorei e não sabia explicar porque, quando lembrei da cena, antes de chegar aqui. Um gato amarelo atravessa a rua correndo em direção à Igreja e voa sobre uns pássaros, ficando com um entre as garras e a boca. Instintivamente assustei o gato que deixou o pássaro, que ainda tonto foge de mim, num voo baixo e triste, ficando na sargenta, junto de uns pequenos arbustos. Olhei para trás e não vi o gato, o pássaro ficou ali, lambendo sua ferida, talvez agradecendo pela sua vida, que ainda corre perigo, ele está machucado e na vizinhança está cheia de gatos...



… o espectro de uma mulher vagando na neblina, na beira do mar, onde poemas são dissolvidos na areia, varridos pelos ventos, pisando na pulsação de um coração doente e fracassado que não aprendeu a amar.

segunda-feira, 14 de março de 2016

ALGO BOM


         
          Gostaria de escrever algo bom, algo belo, algo que inspirasse voos rasantes
e nas alturas. Algo que me tirasse desse estado vazio e me colocasse em campo para jogar. Uma bela música, um poema ou um sorriso apenas, mas que valesse a pena. O tempo é o mesmo de sempre, sempre passando, como um relógio maluco do coelho maluco de Alice. O céu está mais azul hoje, permitindo que o Sol se esparrame sobre mim e o mato e o caminho que poderá me levar para algo bom.    
          Então escreveria sobre a vida que pulsa nas rachaduras do asfalto ou da vida que brota da lava fria de um vulcão. Escreveria também sobre a alegria de um cão brincando no campo com seu dono, sendo que o dono não sente mais a concreta solidão.
          O que teria dentro de mim que vale a pena escrever ? Nada, só angústias, tristezas, dores, solidão. O que tem dentro de mim que vale a pena ? Meu coração ? Minha alma ? Minha fé ? Minha vontade desesperada de viver?




          Gostaria de escrever algo bom...

Legião Urbana é algo bom há 30 anos...



Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto


Quando o sol bater
Na janela do teu quarto
Lembra e vê
Que o caminho é um só
Por que esperar
Se podemos começar
Tudo de novo?
Agora mesmo

A humanidade é desumana
Mas ainda temos chance
O sol nasce pra todos
Só não sabe quem não quer

Quando o sol bater
Na janela do teu quarto
Lembra e vê
Que o caminho é um só
Até bem pouco tempo atrás
Poderíamos mudar o mundo
Quem roubou nossa coragem?

Tudo é dor
E toda dor vem do desejo
De não sentirmos dor
Quando o sol bater
Na janela do teu quarto
Lembra e vê
Que o caminho é um só

by Legião Urbana










quinta-feira, 10 de março de 2016

É O PASSAR DO TEMPO


 
Meu Vício Agora       
Não vou mais falar de amor
De dor, de coração, de ilusão
Não vou mais falar de sol
Do mar, da rua, da lua ou da solidão

Meu vício agora é a madrugada
Um anjo, um tigre e um gavião
Que desenho acordada
Contra o fundo azul da televisão

Meu vício agora...
É o passar do tempo
Meu vício agora...
Movimento, é o vento, é voar...é voar

Não vou mais verter
Lágrimas baratas sem nenhum porque
Não vou mais vender
Melôs manjadas de Karaokê

E mesmo assim fica interessante
Não ser o avesso do que eu era antes
De agora em diante ficarei assim...
Desedificante

Meu vício agora...
É o passar do tempo
Meu vício agora...
Movimento, é o vento, é voar... é voar

by Kid Abelha


PENSAMENTOS DE AMOR E MORTE


rua de pedras - Rio Pardo RS

As dores da alma que carrego, de tão pesadas já não as sinto, fui perdendo pelo caminho torto que segui, onde mesmo assim encontrei Cristo. O vazio de meu coração, que após ferido perdeu todo o sangue, o vazio de meu coração. Lentamente, a passos muito lentos, me arrasto pela cidade do tempo do Império, com seus casarões e porões, que guardam o gemido de dor, as feridas do chicote ardendo ao sal, no sabor da escuridão, na falta de ar sob as paredes de pedra. Conta-se de tempos remotos, em que o respeito ao ser humano era questionável, sendo a cor uma forma de exclusão, a pele negra era escravidão. Esta cidade já existia e imprimia sua marca na história e no lombo do negro, objeto de exploração. Ouço quando caminho perto desse casarão os gemidos de dor, sinto as almas que tenho ou tive, saltarem de meus olhos em lágrimas....ao longe os badalos do sino que choram e choram por mim, pelo fim...

"O mistério do amor é maior que o mistério da morte." Oscar Wilde


...pensamentos de amor e morte poluem meu coração, menos amor e mais morte, a sombra, a ave do agouro se faz presente nas frestas de minhas fraquezas...pensamentos passam, vem e vão e eu não quero mais acordar aqui...quero viver longe, de ti, de mim, do Sol, catar os pedaços de meu coração vazio, quem sabe não guarda alguma lembrança de amor e pulse, não estando completamente morto. Quem sabe uma gota de sangue, uma gota de esperança.

NÃO SEI QUANTAS ALMAS TENHO






Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.
by Fernando Pessoa

sexta-feira, 4 de março de 2016

ESQUECÍVEL

          

Esquecível. Por vezes me vejo assim, ou não me vejo ?. Somos mais de 200 milhões, nos cruzamos por muitas vezes e não nos encontramos. Hoje podemos nos cruzar virtualmente. Mas não vivemos sós (embora eu tente), e forma-se a tal sociedade, passamos por escolas, Igrejas (fui de grupo de jovens, um ótimo greencard para a vida adulta, ou não). O fato é que esquecemos e  também somos esquecidos. Como tento viver só, sobra  um bom tempo para lembranças, embora sempre tenha o que se fazer, é só querer. Além do mais, tenho obrigações necessárias, que só acrescentam, enfim...
          Nunca fui uma pessoas de muitos amigos, não ao mesmo tempo, mas de muitos amigos    à medida que vivia, acontecia  por ter esta solidão intrínseca dentro de mim, sempre gostei dos amigos que fazia e gostavam de mim.  Tive muitos amigos de fé, irmãos e camaradas, diria uma amiga perdida neste turbilhão do tempo, chamado viver. Somos quase como folhas ao sabor do vento, e temos certeza que mandamos em nosso destino, que fizemos as escolhas certas, e por vezes até é a certa. Aprendi neste meu quase meio século de vida, nada é eterno, nada é tão sólido que não se desmanche com um simples sopro. Não sabemos. Sempre lembrarei Nádia, uma querida amiga, que me chamou a atenção ao dizer que  por trás da amizade sempre havia o interesse, concordei, mas falei da amizade verdadeira, ao que ela falou que era dessa amizade que falava também, que só o fato de querer a amizade verdadeira, como disse, já era um interesse. Isso mudou minha vida,. Brincadeira, mas foi um imenso aprendizado, desconstruindo uma imagem que tinha de amizade verdadeira. Isto hoje ajuda a escrever sobre ser esquecido ou esquecer.
          Comecei a pensar em fazer um post em conversa com um amigo, ótima pessoa, um pai de família exemplar, mas perguntei por um amigo dele que por vezes encontrava em sua casa quando visitava, daí me disse que esse 'amigo' esqueceu a amizade deles, e que não o procurava mais, pois já estivera em sua casa por duas vezes o convidando, recebendo como resposta a ausência dele em sua casa. Nos olhamos  e fomos ter as conversas que temos quando o visito. Será que somos esquecíveis, assim, fácil, por pessoas que até então vivam em nossas vidas ? Lembrei de pessoas que eu queria esquecer, e praticava não procurando ( não sou um anjo rs). 
          Acho que gostaríamos de formar nossa sociedade perfeita, onde cada qual formava a sua, com quem gostaria, ou imagina que iria gostar, mas isso não é possível, a não ser num livro, numa história inventada, uma ficção, enquanto isso     vamos vivendo com a parte que nos cabe desse latifúndio, com o tempo que temos, com a vida que temos, com os amigos que temos, graças à Deus.


ps. Estou nos últimos dias de calmaria em minha vida, aqui tenho internet gratuita, mas infelizmente o  sinal é péssimo, como o sinal de internet neste país, dizem que é o pior do mundo, por hora sou obrigado a concordar, digo isso porque não acabei os comentários dos comentários  do post anterior, o que farei, mas necessitei postar mais palavras no blog. Mas quero agradecer imensamente os comentários do post anterior, enriquecedores para mim.