quarta-feira, 27 de abril de 2016

UM POEMA DE SEPARAÇÃO












Sentado naquela velha poltrona de frente para a janela, onde observa o por do Sol, deixando um rastro de penumbra dentro do apartamento no quinto andar. Do outro lado da janela, além do por do Sol, vê pequenas pessoas que se emaranham nas ruas do centro da cidade e seguem caminhos opostos, alguns pássaros, talvez desavisados que ali é uma cidade...por dentro da janela, além do trapo humano sentado, atirado naquela poltrona, vinha um lamento triste, uma voz bêbada cantando errado, não sabendo para que lado seguir, era Amy, a última vítima da síndrome dos 27 anos no rock and rol. Já não conseguia sair daquela poltrona nas últimas 24 horas. Amy cantava desde então. Em sua mão ainda esta a carta que recebeu 24 horas antes, onde ficou sabendo da quase morte de seu grande ex-amor. Percebeu a quase morte do amor que sentia, que não estava morto, mas quieto para que ele pudesse seguir com sua vida, que descobrisse uma forma de sobreviver a dor que se sente ao ser abandonado, ao se perceber não amado. Em tempos ultra rápidos de internet, tinha em mãos algo praticamente obsoleto: uma carta. E dentro da carta algo também em extinção: um poema de separação, como se o tempo que estava longe não fosse o suficiente para entender do fim, e que o fim não chegou com o acidente de ônibus...



Soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
by Vinicius de Moraes

16 comentários:

  1. Lindo esse poema ...Tudo acontece de repente, não mais do que de repente! Bela introdução fizeste! abraços,chica

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Chica do Céu, minha adorável amiga, sempre me fazendo feliz com tua iluminada presença...tenho lido tantos posts sobre o amor, e tou me sentindo intimidado para comentar, afinal, minha vida amorosa é um redondo fracasso, então Vinícius de Moraes me inspirou a falar um pouco do amor que tenho em mim, embora triste falo do amor ou ex-amor rs. Tenho ouvido muito Amy Winehouse, como se fosse um livro de cabeceira, tenho uma estranha saudade dela e sinto também uma estranha saudade desse ex-amor. Carinho respeito e abraço.

      Excluir
  2. O grande Vinícius de Morais!! Que bom você trazê-lo. Junto com o Soneto da Separação, adoro o Soneto da Fidelidade e o Soneto a quatro mãos. Todos provocam em nós sentimentos de piedade, de frustrações, enganos, desenganos, amores e desamores. Não tem como não reconhecer os versos de Vinicius!
    Gostei muito de seu texto, sensível como sempre...à procura de algo.
    Abraços, meu amigo!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Minha querida amiga Tais, sempre precisa em suas palavras, ao que fico muito agradecido. O grande, nada menos que isso, Vinícius de Moraes. Um momento emblemático na minha caminhada na blogosfera, como disse para Chica, tenho lido muito sobre o amor nos blogs que visito ou encontro, tenho minha paixão, o Teimoso, parte importante de minha vida, inclusive amorosa, com ele descobri que ainda posso amar, mas não acontece e fico desistindo de qualquer possibilidade, desejando não querer, eu acho estranho. Tem também a Amy, que ouço insistentemente todos os dias nos últimos tempos, é um dvd que ela canta bem bêbada, mas mágico mesmo assim, e ela teve a vida destruída senão completamente, boa parte por seu ex-amor. A coisa mais próxima que tenho do amor é um ex-amor, pra ver como a cosia tá feia pra mim rs. Quando procurava um poema lembrei Neruda , mas encontrei Vinícius no meio do caminho e os poemas que tu te referes no comentário, entre encontrar o poema para escolher, fiquei lendo só por pelo prazer de lê-los. Obrigado querida amiga por se fazer presente em minha vida. Carinho respeito e abraço.

      Excluir
    2. Querido amigo, você tem nas mãos algo que é raro hoje em dia, e acho que não percebeu: você tem um carinho e uma gratidão pelos seus amigos que é meio difícil de encontrarmos hoje em dia. Eu é que agradeço pelas palavras sempre gentis e educadas e gratas com que sou recebida em seu blog. Aliás, acho que os outros amigos também notam isso.
      Fique bem.

      Excluir
  3. Soneto pastiche inspirado no de Vinicius

    Então, de repente, desfez-se o pranto
    De silencioso tornou-se coisa nenhuma
    E daquela boca sorriso e risos em ruma
    E dessa alma liberta, suspiros um tanto.

    E, de repente, nada mais seria espanto
    Um espírito tão leve como aquela pluma
    Como fumaça dum cigarro de quem fuma
    Pois do horizonte subiu alegre um canto.

    De repente, e não mais que de repente
    Fez-se a existência em leveza e alegria
    E aquela dor dolorida não mais se sente.

    Fez-se muita luz na noite como fosse dia
    Fez-se luz de intensidade surpreendente
    Algo que por muitas décadas não se via.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. "De repente, e não mais que de repente
      Fez-se a existência em leveza e alegria
      E aquela dor dolorida não mais se sente."
      Meu bom amigo Jair Lopes, senhor de todas as palavras, fizeste um belo trabalho, são poemas inspiradores, Vinícius como os grandes poetas tem este poder de nos levar, embriagar, flutuar, viajar, refletir, pensar no sentido de amar. Caro Jair Lopes as palavras andam junto a ti como sombra, teu domínio é tanto que fazes delas o que quiser, sempre com maestria e sentimento, como transformar uma obra prima em outra com a mesma intensidade poética. Obrigado sempre pela consideração e o carinho de tuas visitas. Carinho respeito e abraço.

      Excluir
  4. ....em tudo toda segredo.

    "Amy cantava desde então"


    abç

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rainha Margot que prazer em recebe-la novamente, tenho acesso ao teu blog #DoAmor que está desatualizado, mas não consegui chegar no Fiapos de Sonhos que é um dos mais surreais que já li, teu texto dinâmico, quase indecifrável, o que muito me atrai nos teus blogs. Este escrito nasceu de uma frase que acabou sendo esta no meio do texto – uma voz bêbada cantando errado – todo o canto amoroso e sofrido de Amy, aquele amor suicida com Blake, e eu realmente gostava dela, gosto, a obra está viva. Meu ex-amor não foi assim tão profundo e louco, quase nem existiu, ou só de minha parte, o que é mais cruel ainda. Já faz tempo que exorcizo ele de minha vida, este post é mais uma tentativa de acabar com isso, mas estranhamente sinto saudade, devo ser masoquista e não sei rs. Carinho respeito e abraço.

      Excluir
  5. Respostas
    1. Meu dias são abençoados com tua iluminada presença, obrigado. Carinho respeito e abraço.

      Excluir
  6. Caro amigo Jair Machado, não sei porque ainda chamam o Vinicius de o "poetinha"?
    Um abração, meu amigo.
    Tenhas uma boa noite.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vinícius é tão grande que não cabe em si...só pode ser um apelido carinhoso. Meu querido amigo Dilmar, sinto sempre honrado com tua presença, obrigado. Carinho respeito e abraço.

      Excluir
  7. Olá,querido Jair,boa noite,
    Bela introdução ...síndrome dos 27 anos... grande Amy,grande Vinícius ,que tanto tive que estudar, para aprender sobre as anáforas... uma ação acabada que incorpora à quem está intimamente vinculada como um simples reflexo... o drama da separação de um casal que enquanto estão juntos, tudo está equilibrado e estável e quando a separação acontece traz a surpresa, o desequilíbrio e a incerteza.Circunstâncias que nos desviam do caminho seguro da felicidade, caminho em que não podemos nos perder, pois todos temos dificuldades e separações ,mas não podemos fazer disso um fim e sim o meio onde possamos partir em busca do que é inalienável : a nossa escalada de aprendizado e conhecimento, sem nunca nos desviar de nós mesmos!...
    Obrigado pelo carinho de sempre, belos dias,abraços!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Meu querido amigo Felisberto, lendo em teu blog me dei conta que não consigo mais falar de amor, não consigo sentir e nem comentar quando leio algo que gosto nos blogs que visito ou encontro...tu escreve com uma segurança sobre o amor, situações de amor e ficam tão lindos os teus textos, sem falar na precisão das palavras, das imagens construídas, da narrativa, mas não conseguia comentar porque me acho meio incapacitado para falar de amor, logo eu, um fracassado nesta área. Encontrei este poema de Vinícius e veio algo ao contrário, não consigo falar de amor, mas de ex-amor, desamor eu consigo, resultou neste post. “Caminho seguro da felicidade”, fiquei com medo que estivesse falando no sentido de felicidade igual ter um amor, a quem amar ou ser amado...mas não era isso, não assim...logo entendi que o que devemos é sermos honestos conosco, um caminho seguro de aprendizado e conhecimento. Fico tão feliz com tua presença, admiro demais teus textos redondos e bem escritos. Acredito que agora terei coragem de comentar os teus textos que falam de amor. Obrigado querido amigo por palavras tão gentis. Conto com estes belos dias. Carinho respeito e abraço.

      Excluir
  8. Olá, Jair!
    Lendo Vinicius e adicionando suas linhas sobre a embriaguez de Amy, arrisco uma sentença, abusiva talvez: Seria a Amy a Julieta na era da Internet?
    Respeitoso abraço e boa semana!

    ResponderExcluir