Olhei pra ela com toda a força.
Disse que ela era boa.
Que ela era gostosa,
Que ela era bonita pra burro:
Não fez efeito.
Virei pirata:
Dei em cima dela de todas as maneiras,
Utilizei o bonde, o automóvel, o passeio a pé,
Falei de macumba, ofereci pó...
À toa: não fez efeito.
Então banquei o sentimental:
Fiquei com olheiras,
Ajoelhei,
Chorei,
Me rasguei todo,
Fiz versinhos,
Cantei as modinhas mais tristes do repertório do Nôzinho.
Escrevi cartilhas e pra acertar a mão, li Elvira a Morta Virgem, romance primoroso e por tal forma comovente que ninguém pode lê-lo sem derramar copiosas lágrimas...
Perdi meu tempo: não fez efeito.
Meu Deus que mulher durinha!
Foi um buraco na minha vida.
Mas eu mato ela na cabeça:
Vou lhe mandar uma caixinha de Minorativas,
Pastilhas purgativas:
É impossível que não faça efeito!
by Manoel Bandeira
kkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirGenial o poeta né ? Obrigado pela sempre surpreendente presença. Carinho respeito e abraço
ResponderExcluirA Manuel Bandeira
ResponderExcluirA Manoel Bandeira
Porquanto Manoel faz os versos sem peias
Versos de desamor, versos de desencanto,
Mas se dor e lirismo lhe corre pelas veias
Nem tudo é desespero, nem tudo é pranto.
Embora verso de sangue, amor ele semeia
Tristeza presente, porém diluída um quanto
Dói-me essa dor desmedida, dói-me, creia
Porque dor de Manuel é minha dor, garanto.
Mas, nestes versos de angústia existe vida
Uma vida que não abandona essa alegria
A qual está a nossa volta, as vezes diluída.
Ele faz os versos amargosos com ousadia
Com a consciência de quem está de partida
E que como Midas, tudo que faz vira poesia.
Um soneto a altura do poema postado...meu querido amigo e poeta Jair Lopes, senhor de todas as palavras, a poesia me salva, estava triste então encontrei estes poemas, que remontam minha juventude quando participei de um grupo de teatro e recitávamos poemas, algo bem dramático e teatral, este texto carregado de significados, onde buscava também o humor atrás dos fatos, transformados em poesia pelo magistral poeta Manoel Bandeira, e este é de um humor contagiante, inteligente e engraçado. Sempre muito feliz com tua nobre presença amigo Jair. Carinho respeito e abraço.
ExcluirTambém gostei muito do poema, uma história bem contada, detalhada... e com final inesperado!! rs
ResponderExcluirO poema do nosso amigo Jair lembrou-me Florbela Espanca! E também gostei.
Grande abraço, meu amigo Jair.
Minha querida amiga Tais, gosto muito também deste poeta, ondo um tanto entristecido (sob controle rs) e a poesia me ajuda, me veio Manoel Bandeira, que me trás um frescor da juventude perdida ou passada...acho que são pequenos grãos que podem render uma árvore, ou, lembrança que inspira, me vieram estes poemas, que fiz parte de um grupo de teatro , e um dos trabalhos foi um recital...Este poema e o anterior Vulgívaga, eram interpretados por duas amigas daquela época. tem ironia, esta coisa de aprendermos a rir de nós mesmos. Achei muito delicado teu ultimo post, o cuco rs...nosso amigo Jair Lopes é um poeta, é maravilhoso a maneira como ele lida com as palavras, inspirador...Florbela também pegava pesado no drama da vida amorosa dela, e consequentemente estendendo toda sua obra, ou boa parte dela. Feliz demais por tua sempre adorável presença minha querida amiga Tais. Carinho respeito e abraço.
ExcluirExatamente, ela pegava pesado, mas de tão triste chega a ser comovente e absurdamente lindo! Que coisa... absurdamente lindo - não sei de onde tirei isso. Mas já que tá, fica! rs
ExcluirAbraço, amigo!