terça-feira, 9 de maio de 2017

NÃO SEI QUANTAS ALMAS TENHO

"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana.
Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso." by Fernando Pessoa
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Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu



by Fernando Pessoa

4 comentários:

  1. Digo eu:

    Não digo sequer que alguma alma me foi dada.
    Porquanto isto é matéria a ser dicutida
    Pois que, dizem, sem alma não existe vida
    Então, almas pra nós, é uma para cada.

    Porém, há certos homens, ditos desalmados
    Que vagando pelo Planeta, a gente vê
    É de se perguntar: como, quando e porquê
    Serão eles mais justos, ou amaldiçoados?

    Como acrerditar nela quando não a vejo?
    Porém, sem ela, continuo sendo eu?
    Ou serei então vítima de mero despejo?

    Como sinto este corpo sendo apenas meu
    Vivo nele tranquilo e feliz de sobejo
    E pouco ligo se minha'lma já morreu.

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    1. Meu querido amigo Jair Lopes, senhor de todas as palavras, sempre que tou dividido recorro ao mestre Fernando Pessoa, ele era tantos em um, daí faz com que eu procure o caminha da poesia para salvar minha vida dividida, aqueles outros eu, que brigam entre si, dentro de mim, me fazendo perder o rumo, me fazendo me perder de minha alma. Obrigado por teu comentário poético, sempre me encanto com tua poesia. Carinho respeito e abraço.

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  2. Caros amigos Jair Machado e Jair Lopes, Fernando Pessoa é um monumento da literatura portuguesa, quiçá universal.
    Um abração. Tenhas uma ótima tarde.

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    1. Meu bom amigo Dilmar, sempre muito agradecido por tua presença que tanta alegria me trás...Pessoa é universal, com respeito aos outros tantos poetas que amo e respeito. É preciso beber nesta fonte para fluir a inspiração. Minha alma ? Sei lá...Carinho respeito e abraço.

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