sexta-feira, 23 de novembro de 2018

E VER OS PERIGOS NO MEIO DO MAR

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AZUL E AMARELO



Anjo bom, anjo mau, anjos existem
E são meus inimigos, e são amigos meus
E as fadas, as fadas também existem
São minhas namoradas, me beijam pela manhã

Gnomos existem e são minha escolta
Anjos, gnomos, amigos e amigos,
Tudo é possível outra vida futura, passada

Mas existem também drogas pra dormir
E ver os perigos no meio do mar
No sono pesado, tudo meio drogado
Existem pessoas turvas, pessoas que gostam

E eu tô de azul e amarelo
De azul e amarelo

Senhores deuses me protejam, de tanta mágoa
To pronto para ir ao teu encontro
Mas não quero, não vou, não quero
Não quero, não vou, não quero

Existem também drogas pra dormir
E ver os perigos no meio do mar
No sono pesado, tudo meio drogado
Existem pessoas turvas, pessoas que gostam

E eu tô de azul e amarelo
Amarelo, azul e amarelo

Senhores deuses me protejam, de tanta mágoa
To pronto para ir ao teu encontro
Mas não quero, não vou, não quero
Mas não quero, não vou, não quero
Mas não quero, não vou, não quero



by  CAZUZA

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

NA NOITE MAIS ESCURA E PROFUNDA


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APENAS RESPIRO


Todos os dias ao acordar, digo bom dia,
E antes de dormir, digo boa noite…
Durante o dia carrego alegria,
Durante a noite sofro asfixia
Assim corre meu tempo,
E não consigo ficar atento
Para o Sol nascer
E no final do dia, morrer
Na noite de dormir,
Minha insônia faz repetir
Os badalos dos sinos ao longe,
Anunciando a morte de alguém
Meu Deus porque não eu, ir ao teu encontro ?
Não me queres no céu ?
Resta-me o inferno
Todos os dias pedia à Deus alegria, saúde e amor
Estou saudável e alegre…
Na noite mais escura e profunda,
Não sonho, não durmo, apenas respiro a escuridão
Que já fez casa em meu coração…
Todos os dias ao acordar,
Eu não queria,
pois nunca é um bom dia.


(muito obrigado Augusto dos Anjos)


by Jair Machado Rodrigues
21/11/2018

terça-feira, 20 de novembro de 2018

SE NÃO CANTO PELO MENOS GRITO

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CANTO DOS PALMARES


Eu canto aos Palmares
sem inveja de Virgílio, de Homero e de Camões
porque o meu canto é o grito de uma raça
em plena luta pela liberdade!
 
Há batidos fortes
de bombos e atabaques em pleno sol
Há gemidos nas palmeiras
soprados pelos ventos
Há gritos nas selvas
invadidas pelos fugitivos...
 
Eu canto aos Palmares
odiando opressores
de todos os povos
de todas as raças
de mão fechada contra todas as tiranias!
 
Fecham minha boca
mas deixam abertos os meus olhos
Maltratam meu corpo
minha consciência se purifica
Eu fujo das mãos do maldito senhor!
Meu poema libertador
é cantado por todos, até pelo rio.
 
Meus irmãos que morreram
muitos filhos deixaram
e todos sabem plantar e manejar arcos
Muitas amadas morreram
mas muitas ficaram vivas,
dispostas a amar
seus ventres crescem e nascem novos seres.
 
O opressor convoca novas forças
vem de novo ao meu acampamento...
Nova luta.
As palmeiras ficam cheias de flechas,
os rios cheios de sangue,
matam meus irmãos, matam minhas amadas,
devastam os meus campos,
roubam as nossas reservas;
tudo isto para salvar a civilização e a fé...
 
Nosso sono é tranqüilo
mas o opressor não dorme,
seu sadismo se multiplica,
o escravagismo é o seu sonho
os inconscientes entram para seu exército...
 
Nossas plantações estão floridas,
Nossas crianças brincam à luz da lua,
nossos homens batem tambores,
canções pacíficas,
e as mulheres dançam essa música...
 
O opressor se dirige aos nossos campos,
seus soldados cantam marchas de sangue.
O opressor prepara outra investida,
confabula com ricos e senhores,
e marcha mais forte,
para o meu acampamento!
Mas eu os faço correr...
 
Ainda sou poeta
meu poema levanta os meus irmãos.
Minhas amadas se preparam para a luta,
os tambores não são mais pacíficos,
até as palmeiras têm amor à liberdade...
 
Os civilizados têm armas e dinheiro,
mas eu os faço correr...
Meu poema é para os meus irmãos mortos.
Minhas amadas cantam comigo,
enquanto os homens vigiam a terra.
 
O tempo passa
sem número e calendário,
o opressor volta com outros inconscientes,
com armas e dinheiro,
mas eu os faço correr...
Meu poema é simples,
como a própria vida.
Nascem flores nas covas de meus mortos
e as mulheres se enfeitam com elas
e fazem perfume com sua essência...
 
Meus canaviais ficam bonitos,
meus irmãos fazem mel,
minhas amadas fazem doce,
e as crianças lambuzam os seus rostos
e seus vestidos feitos de tecidos de algodão
tirados dos algodoais que nós plantamos.
 
Não queremos o ouro porque temos a vida!
E o tempo passa, sem número e calendário...
O opressor quer o corpo liberto,
mente ao mundo
e parte para prender-me novamente...
 
- É preciso salvar a civilização,
Diz o sádico opressor...
Eu ainda sou poeta e canto nas selvas
a grandeza da civilização
a Liberdade!
Minhas amadas cantam comigo,
meus irmãos batem com as mãos,
acompanhando o ritmo da minha voz....
 
- É preciso salvar a fé,
Diz o tratante opressor...
Eu ainda sou poeta e canto nas matas
a grandeza da fé  a Liberdade...
Minhas amadas cantam comigo,
meus irmãos batem com as mãos,
acompanhando o ritmo da minha voz....
 
Saravá! Saravá!
repete-se o canto do livramento,
já ninguém segura os meus braços...
Agora sou poeta,
meus irmãos vêm comigo,
eu trabalho, eu planto, eu construo
meus irmãos vêm ter comigo...
 
Minhas amadas me cercam,
sinto o cheiro do seu corpo,
e cantos místicos sublimizam meu espírito!
Minhas amadas dançam,
despertando o desejo em meus irmãos,
somos todos libertos, podemos amar!
Entre as palmeiras nascem
os frutos do amor dos meus irmãos,
nos alimentamos do fruto da terra,
nenhum homem explora outro homem...
 
E agora ouvimos um grito de guerra,
ao longe divisamos as tochas acesas,
é a civilização sanguinária que se aproxima.
Mas não mataram meu poema.
Mais forte que todas as forças é a Liberdade...
 
O opressor não pôde fechar minha boca,
nem maltratar meu corpo,
meu poema é cantado através dos séculos,
minha musa esclarece as consciências,
Zumbi foi redimido...

by Solano Trindade

ps.
"Neste dia 20 de novembro comemora-se novamente o Dia da Consciência Negra em todo o Brasil. Se bem que eu não sei se "comemorar" é a palavra certa. Atualmente, ouve-se das mais altas instâncias do poder que o ativismo não é mais visto com bons olhos – querem até mesmo que ele acabe. Por outro lado, isso só deverá valer a partir de janeiro – e, com isso, ainda não afeta a data comemorativa no final deste novembro.
Seja como for – a história do surgimento do Dia Nacional da Consciência Negra é extremamente interessante. Há 40 anos, no dia 4 de novembro de 1978, ativistas do Movimento Negro Unificado (MNU) se reuniram no ICBA em Salvador. Lá entraram em acordo para, a partir daquele momento, celebrar o Dia da Consciência Negra em 20 de novembro.
O dia da morte de Zumbi dos Palmares deveria lembrar que os escravos sequestrados e levados para o Brasil não aceitaram seus destinos calados, mas se rebelaram contra a dominação de seus corpos e almas por estranhos."

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

COMO NUM SONHO/PESADELO



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"Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo"

by Cazuza






                              Outro dia uma amiga me falou que as pessoas magoam e nem se dão conta, ou são tão dissimuladas que parece que não falaram ou não fizeram por mal, elas chegam, te destroem e seguem suas vidinhas, medíocres, mas vidinhas. E a gente que se vire com a ofensa, a mágoa, a palavra ríspida, ou aquele tom de desconsideração ao falar com alguém...esta minha amiga. Entendo o que ela me disse, demorou um pouco, mas entendi, ao ser magoado e quem fez, seguiu como se nada houvesse, enquanto que eu, em choque, parei, com vontade de chorar, me sentindo machucado, pequeno e triste.


                           Não tenho mais onde ir, onde ficar, onde dormir. O Eremita se faz presente e só, seguindo apenas o rastro de sua luz, e eu seguindo o rastro de minha solidão. Todos os caminhos são de pedra, de espinhos e cacos de vidro…como um faquir sigo adiante, sangrando os pés e misturando-me a massa disforme que se junta, antes do precipício sem fim. Já não entendo há muito tempo as batidas descompassadas de meu coração, e esta náusea quando respiro profundamente, como se fosse vomitar um alien, que devora pouco a pouco minha vida, de dentro pra fora. Se alimenta especialmente de meu coração, que já sangrava quando ele chegou, como um tubarão seguiu o cheiro de sangue, e como um zumbi chegará em meu cérebro.


                              Outro dia caminhava feliz no caminho das pedras, espinhos e cacos de vidro, e como Cristo flutuava, sem sangrar meus pés, e meu coração leve e inteiro...meus olhos brilhavam ao apreciar o verde das florestas e o colorido das flores, logo ali...como num sonho.


                              Outro dia, já nem sei mais...


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quarta-feira, 14 de novembro de 2018

ANGÚSTIA DAS PEQUENAS COISAS RIDÍCULAS


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Poema em Linha Reta




Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.



 by Fernando Pessoa




ps.
O mundo me dá vontade de chorar, ao ver crianças mortas em guerras, mortas de fome, caminhando errante com seus pais pelo mundo a procura de abrigo, que não existe mais. Quase chorei no último capítulo de uma novela, o amor correspondido me faz chorar de alegria, não o amor que tive, só eu o tinha, só eu amava e sofria, só eu...mesmo amando o que não me amava, eu chorava. Não se escolhe. Mas o que são poucas lágrimas comparadas ao pranto das mães que perdem seus filhos pela violência, pela intolerância, pelo tráfico… Mas não consigo chorar por mim, que morre um pouco mais a cada dia, a cada noite insone. O mundo, este que está aí, não é o mundo que escolhi, mas o mundo onde nasci e passei a viver, até aqui. Minhas dúvidas, meu coração partido e seco, minha vida, minha morte...a cada aniversário mais próximo me sinto dela, mais envolvido. Angústia por coisas tão pequenas, diante de toda a humanidade, é nada.


terça-feira, 13 de novembro de 2018

MELODICAMENTE LIMPO


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Deus

deus não existe.
mas se ele existisse,
ele viveria no céu acima de mim,
em uma nuvem grande e gorda lá em cima.
ele é mais branco que o branco e mais limpo que o limpo.
ele quer me alcançar.

deus não existe
mas se ele existisse eu sempre o notaria.
se preparando em seu quarto aéreo.
ele está escolhendo suas luvas tão brutalmente.
ele quer me tocar.
estou andando humildemente por uma rua estreita.
puxando meu colarinho que cresce.
eu o conheci uma vez.
realmente me surpreendeu.
ele me colocou em uma banheira.
me deixou melodicamente limpo. realmente limpo.

para criar um universo você precisa
provar o fruto proibido.
ele disse oi. eu disse oi. eu continuei limpo.

Deus não existe.
mas se ele existisse ele gostaria de descer daquela nuvem.
primeiro dedos de marzipan do que mãos de mármore.
mais silencioso do que o silencio e mais lento que a lentidão.
mergulhando em minha direção. meu colarinho é sala imensa para duas mãos,
elas começam no peito e se movem lentamente para baixo.
eu pensei que já tinha visto de tudo.
ele não era branco e fofo.
ele tinha costeletas.
ele tinha costeletas. e um topete.
ele disse oi. eu disse oi. eu continuei limpo. eu estava melodicamente limpo.
eu estava surpreso.
do mesmo jeito que você iria ficar.

deus deus. ele não existe. deus deus.


Deus (tradução)

The Sugarcubes

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ps.
Stan Lee morreu e com ele foi uma parte perdida de mim, o melhor que poderia guardar, poder, força, vida…..agora 'meus heróis morreram de overdose'. Nunca mais voar sobre as nuvens ou mergulhar no mais profundo mar do meu inconsciente e sobreviver a minha loucura. Já não caio e nem ralo o joelho como outrora, na 'minha infância querida que os anos não trazem mais'. Stan lee morreu e o que fazer com todos este gibis de anos e anos, sonhando ser meu próprio super herói, fazendo minha própria salvação e do mundo. Mas o mundo é muito grande, e eu sou tão pequeno, mesmo herói, muito pequeno e feito de papel colorido, agora dentro de caixas de papelão, esperando a incineração.


sexta-feira, 9 de novembro de 2018

CHÁS


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CAMOMILA
Capim-cidreira, camomila, melissa, hortelã e funcho...esta mistura de chás é uma boa fórmula para acalmar, mesmo o mais revolto dos mares de pensamentos, abrandar a mais feroz das tempestades e domar até o vento Minuano nos pampas do Sul. Como não existem mais cartas, recebi um e-mail ou um pombo correio caiu do meu teto, em minhas mãos. A luz difusa entra pela janela, os vidros, formando diversos arco-íris em volta da xícara de chá, sobre a mesa, que me aguarda, me acalma, me...antes de entrar, fui colher as ervas do campo para fazer o chá, que me aguarda sobre a mesa. Não havia ninguém caminhando, nem na pequena floresta do final da rua, onde encontrei todos os tipos de ervas, de chás e flores do campo, de paz e harmonia e um silêncio que não condizia com o local, apenas o leve barulho do vento lambendo as folhas verdes das árvores. Enquanto minha alma submerge num mundo que não escolhi, recebendo todos os olhos malditos e agouros e pragas...não sei se choro ou me jogo no chão, se grito ou enfio a cabeça debaixo de um travesseiro. Quando nasci, com certeza era folga dos anjos da guarda e fiquei sem nenhum. Agora entre a cruz e a espada, entre o céu e o inferno, entre o amor e o ódio, entre partir ou chegar...a vida não é fácil, assim como numa propaganda de margarina, assumimos compromissos depois de adultos. A liberdade que se pensava na infância, de que adulto tudo poderia, quanta ilusão...agora adulto, percebo que tudo não passou de uma grande mentira, um imbróglio do tempo, nos confundindo em nossas mentes que não dá mais tempo, não há mais salvação…quando não se tem amigos que pertencem a nossa mesma família de espíritos, mas quando se tem, tudo é normal e equilibrado...então sigo lentamente até a mesa, e sento na cadeira e fico observando o vapor que emana da xícara de chá de capim-cidreira, camomila, melissa, hortelã e funcho...
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HORTELÃ