segunda-feira, 31 de julho de 2017

QUERO UMA CANÇÃO

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parece fácil voar, olhando os pássaros



Fácil



Tudo é tão bom e azul
E calmo como sempre
Os olhos piscaram de repente
Um sonho
As coisas são assim
Quando se está amando
As bocas não se deixam
E um segundo não tem fim
Um dia feliz
Às vezes é muito raro
Falar é complicado
Quero uma canção
Fácil, extremamente fácil
Pra você, e eu e todo mundo cantar junto
Fácil, extremamente fácil
Pra você, e eu e todo mundo cantar junto
Tudo se torna claro
Pateticamente pálido
Meu coração dispara
Se eu vejo o teu carro
A vida é tão simples
Mas dá medo de tocar
As mãos se procuram sós
Como a gente mesmo quis
Um dia feliz
Às vezes é muito raro
Falar é complicado
Quero uma canção
Fácil, extremamente fácil
Pra você, e eu e todo mundo cantar junto
Fácil, extremamente fácil
Pra você, e eu e todo mundo cantar junto









ps. Fácil porque não parece difícil, e viver é simples, não fosse a complexidade das emoções, o labirinto que o coração por vezes percorre, e se perde e sangra e dói...mas viver vale pena, mesmo que o pão seja caro e a liberdade pequena, já dizia o poeta. Nos idos anos 90, quando cursava ainda a faculdade de direito, acordo um dia pela manhã e ligo o rádio e vou para o banho quando começa os acordes de uma música que me chamou a atenção, era Fácil do Jota Quest, pensei comigo, isso é um hit, e foi . Hoje ao acordar a primeira música que me veio a mente, como trilha sonoro do dia, foi justamente esta. As coisas são fáceis, quando não as complicamos. E assim segue a vida...

terça-feira, 25 de julho de 2017

CARNE CORTADA


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Diante da porta do consultório, ouviu seu nome sendo chamado, e quando olha para trás, vê um menino num balanço pendurado numa pequena árvore, absorto naquele balançar, leve vertigem. É bom sentir o carinho do vento, parece que pensa assim, fechando os olhos e seu rosto brilhar de prazer. Pequenos prazeres que valem uma memória eterna e um sonho. Saltar do balanço e correr desesperadamente feliz pelos campos. Ouve um segundo chamado, a porta se abre e é convidado a entrar. Fechada a porta deixando do lado de fora o livro que lia, o medo, a ansiedade...Nunca saberemos quando vai acontecer, pode ser serena como a de minha avó, que dormiu e não acordou mais, em silencio. Ou confusa e dolorida como meu avô que nunca conheci, apenas soube por meu pai, que encontrou o corpo dele enforcado. Sentado na frente do médico, esperou até ele ler os exames. Levanta os olhos, e o médico tem na frente não mais aquele adulto que cumprimentou ao chegar, mas o olhar de um menino assustado, com os perigos do mundo, as catástrofes, atentados terroristas ou não...a morte dança solta neste planeta azul solto no espaço. O mundo explodindo e o olhar melancólico e infantil do paciente que espera uma resposta. Inevitável. A carne vai ser cortada. O corpo estranho que habita aquele corpo será caçado, partido, arrancado de dentro dele. Nada de perigo, nada muito grandioso, uma cirurgia simples. O médico então marca a data.









quinta-feira, 20 de julho de 2017

UM SORRISO DE DEUS


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Sobretudo preto e pesado, a cabeça careca, uma manta enrola o pescoço, os passos são firmes. Pisando com suas botinas de velhos tempos e guerras, que sobrevive graças ao conhecimento de sapataria. Esta botina é para sempre, ele pensava. O inverno pousa e cobre com suas asas geladas a vida. Sob sua cabeça careca um céu azul claro anil cintilante, com um Sol esparramado, livre de tudo e de todas as nuvens. É preciso cortar a carne, arrancar o mal que brotou de nosso próprio sangue, de nosso próprio destino. Os passos rápidos, logo se confundem com uma respiração ofegante, e uma taquicardia...sempre pensa da possibilidade da morte. A qualquer momento ou instante, condenado ou não por alguma doença. Vivemos para morrer, pensou em um pequeno delírio, enquanto desacelerava o passo. Sente o pulsar de seu coração. Agora parado e olhando o céu sem fim, sem fim ele pensou, eternizado no céu ou no blog que será corroído pelos cupins virtuais do tempo. O sobretudo pesado, jaz no chão. Deitado, não conseguia não olhar para cima, como se procurasse salvação ou um sorriso de Deus, e nuvens em forma de carneirinhos, deixando assim, de tomar os barbitúricos. O Sol, o Céu, o frio invernal, tudo se mistura no seu olhar que se perde no infinito. Talvez rezando um Pai Nosso...”perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. E não nos deixai cair em tentação, mas livrai-nos do mal”...talvez conseguisse levantar-se e seguir firme com suas botinas reformadas, seu sobretudo pesado e seu coração suave e livre para quem sabe amar novamente.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

MANIFESTO DADAÍSTA


 




[...] Todo produto da aversão suscetível de se tornar uma negação da família é dadá; protesto com toda a sua força em ação destrutiva: DADÁ; conhecimento de todos os meios rejeitados até agora pelo sexo pudico do compromisso cômodo e da polidez: DADÁ; abolição da lógica, dança dos incapazes de criação: DADÁ; de toda hierarquia e equação social estabelecidas pelos valores por nossos criados: DADÁ; cada objeto, todos os objetos, os sentimentos e as obscuridades, as aparições e o choque preciso de linhas paralelas, são meios para o combate: DADÁ; abolição da memória: DADÁ; abolição da arqueologia: DADÁ; abolição dos profetas: DADÁ; abolição do futuro: DADÁ; crença absoluta indiscutível em cada deus produto imediato da espontaneidade: DADÁ; salto elegante e sem preconceito de uma harmonia para outra esfera; trajetória de uma palavra atirada como um disco sonoro grito; respeitar todas as individualidades na sua loucura do momento: séria, temerosa, tímida, ardente, vigorosa, decidida ou entusiasmada; despojar sua igreja de todos os acessórios inúteis e pesados; cuspir como uma cascata luminosa o pensamento desagradável ou amoroso, ou acalentá-lo — com a viva satisfação de que tudo é igual — com a mesma intensidade na moita, livre de insetos para o sangue bem-nascido, e dourado com corpos de arcanjos, com sua própria alma. Liberdade: DADÁ DADÁ DADÁ, alarido de dores crispadas, entrelaçamento dos contrários e de todas as contradições, dos grotescos, das inconsequências: A VIDA.


ps, eu, a Renata e o Mauro, nos idos anos 80 quando fazíamos parte do grupo de teatro Verso Explícito. Foto tirada  após a estreia do espetáculo no já extinto Bar Chaplin, um pub dos velhos tempos e memoráveis de Cachoeira do Sul. A Renata recitava um poema Dadaísta de Tristan Tzara, eu e o Mauro éramos o eco das palavras deste poema, algo como: bebam água, comam chocolate...das poucas vezes que participei de um coletivo, mais prazeroso do que o coletivo do curso de Direito por cinco anos.