Diante
da porta do consultório, ouviu seu nome sendo chamado, e
quando olha para trás, vê um menino num balanço
pendurado numa pequena árvore, absorto naquele balançar,
leve vertigem. É bom sentir o carinho do vento, parece que
pensa assim, fechando os olhos e seu rosto brilhar de prazer.
Pequenos prazeres que valem uma memória eterna e um sonho.
Saltar do balanço e correr desesperadamente feliz pelos
campos. Ouve um segundo chamado, a porta se abre e é convidado
a entrar. Fechada a porta deixando do lado de fora o livro que lia, o
medo, a ansiedade...Nunca saberemos quando vai acontecer, pode ser
serena como a de minha avó, que dormiu e não acordou
mais, em silencio. Ou confusa e dolorida como meu avô que nunca
conheci, apenas soube por meu pai, que encontrou o corpo dele
enforcado. Sentado na frente do médico, esperou até ele
ler os exames. Levanta os olhos, e o médico tem na frente não
mais aquele adulto que cumprimentou ao chegar, mas o olhar de um
menino assustado, com os perigos do mundo, as catástrofes,
atentados terroristas ou não...a morte dança solta neste
planeta azul solto no espaço. O mundo explodindo e o olhar
melancólico e infantil do paciente que espera uma resposta.
Inevitável. A carne vai ser cortada. O corpo estranho que
habita aquele corpo será caçado, partido, arrancado de
dentro dele. Nada de perigo, nada muito grandioso, uma cirurgia
simples. O médico então marca a data.