Eram
tardes abafadas, escaldante o Sol, mas caminhar é preciso,
viver não. Atravesso o campo de futebol e lá do outro
lado a casa de meu amigo Jaca, parecia um Oásis depois desta
longa caminhada. E não deixava de ser um Oásis,
para mim pelo menos, eles tinha muitos discos, livros e frequentava a
classe média e os cabeças pensantes da quela
cidadezinha pedida no Rio Grande do Sul. Adentro o pátio, e
vou pelas sombra das árvores para a parte dos fundos, a
cozinha. Chegando tem uma janela que olho e ele está lá,
com seus mesmos velhos óculos, aquele sorriso de canto da
boca, sempre na véspera de uma tirada irônica ou
sarcástica. Vejo que examina um mapa, el e me mostra e sorri.
Era o mapa do Saara. Comecei a rir, este é meu amigo Jaca.
Bebíamos muita água, a geladeira quase não dá
conta. Uma tarde de conversas e músicas, mas o tempo virou,
armou-se uma tempestade para os lados do Uruguai e começou a
correr uma estranha e deliciosa brisa, misturada ao vento e ao calor.
Dá janela fiz um de meus passatempos favoritos, olhar as
nuvens no céu, um céu há pouco azul, agora
turvo, algumas nuvens apressadas, outras que se chegavam, como se
estivessem combinado de esconder o azul do céu. Meu amigo
havia dito que precisava me mostrar algo, neste ínterim, ele
apenas me diz: ouve. E de seu toca disco, era um vinil pequeno de
apenas uma música, começo a tocar a mais bela canção
que meu coração já sentiu, tomado pela melodia e
aquela voz que dizia e sofria e cantava com uma verdade jamais
sentida por mim...”the boy with the thorn in his side, behind th
hatred there lies, a muderous desire for love, how can they look into
my eyes, and still they don't belive me?...até então
não sabia o que cantava, mas sentia que era pra mim e olhando
céu, agora tomada das nuvens negras, as cumulus nimbus, quando
caíram os primeiros pingos de chuva, eu já estava
tomado por um pranto sem fim, sem recado e sem porque...como se a
música fosse minha penitencia, e após estaria
completamente limpo, livre e inocente. Um garoto eternamente
atormentado, por pecados que nem sequer havia cometido, ali naquela
cozinha, o único amigo testemunha deste pranto, que logo
saberia porque. Assim foi meu encontro com The Smiths.
O garoto eternamente atormentado
Por trás do ódio jaz
Um desejo homicida por amor
Como podem olhar nos meus olhos
E ainda não acreditarem em mim?
Como podem me ouvir dizer essas palavras
E ainda não acreditarem em mim?
E se não acreditam em mim agora
Algum dia acreditarão?
E se não acreditam em mim agora
Algum dia, algum dia acreditarão?
Oh
O garoto eternamente atormentado
Por trás do ódio jaz
Um desejo saqueador... por amor
Como podem ver o Amor em nossos olhos
E ainda não acreditar em nós?
E depois de todo esse tempo
Eles não querem acreditar em nós
E se não acreditam agora
Algum dia acreditarão?
E quando você quer viver
Como você começa, onde você vai?
Quem você precisa conhecer?
by The Smiths