Sobretudo
preto e pesado, a cabeça careca, uma manta enrola o pescoço,
os passos são firmes. Pisando com suas botinas de velhos
tempos e guerras, que sobrevive graças ao conhecimento de
sapataria. Esta botina é para sempre, ele pensava. O inverno
pousa e cobre com suas asas geladas a vida. Sob sua cabeça
careca um céu azul claro anil cintilante, com um Sol
esparramado, livre de tudo e de todas as nuvens. É preciso
cortar a carne, arrancar o mal que brotou de nosso próprio
sangue, de nosso próprio destino. Os passos rápidos,
logo se confundem com uma respiração ofegante, e uma
taquicardia...sempre pensa da possibilidade da morte. A qualquer
momento ou instante, condenado ou não por alguma doença.
Vivemos para morrer, pensou em um pequeno delírio, enquanto
desacelerava o passo. Sente o pulsar de seu coração.
Agora parado e olhando o céu sem fim, sem fim ele pensou,
eternizado no céu ou no blog que será corroído
pelos cupins virtuais do tempo. O sobretudo pesado, jaz no chão.
Deitado, não conseguia não olhar para cima, como se
procurasse salvação ou um sorriso de Deus, e nuvens em
forma de carneirinhos, deixando assim, de tomar os barbitúricos.
O Sol, o Céu, o frio invernal, tudo se mistura no seu olhar
que se perde no infinito. Talvez rezando um Pai Nosso...”perdoai as
nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido. E não nos deixai cair em tentação, mas
livrai-nos do mal”...talvez conseguisse levantar-se e seguir firme
com suas botinas reformadas, seu sobretudo pesado e seu coração
suave e livre para quem sabe amar novamente.