quinta-feira, 5 de julho de 2018

NÓ DE GRAVATA


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Um nó na garganta, um aperto no peito e os olhos molhados, lacrimejavam como se não fossem lágrimas, mas gritos líquidos. Precisava de um pouco de açúcar no chá, adoçar aquele dia tão sem sabor, numa leve tendência ao amargo. À medida que os ponteiros do relógio na parede do corredor andavam, sempre com um pequeno clic, mas audível, o tempo soprava e se arrastava pela casa, na esperança de encontrar uma porta aberta, até uma janela. Mas tem a casa fechada, como seu corpo. Nada poderá me atingir, pensava na canção sobre São Jorge. Salve Jorge. *'We only said goodbye with words I died a hundred times You go back to her And I go back to black' Ouviu as últimas palavras da música, arrepiou-se, pensou em Amy, morta. Escorreu uma lágrima gritando, e o nó na garganta só conseguia assumir que voltária para a escuridão. Percebeu a escuridão dentro da casa, por isso a dificuldade de encontrar uma saída. Completamente só dentro, fechado dentro...é só abrir os olhos, os dá alma, para ver através da cegueira da ignorância que provocamos em nós mesmos. Ele sabia da sua porcentagem de culpa. O isolamento parecia uma boa saída, ou sumida dos olhos e aos poucos do coração de quem gostava, gosta. O mesmo nó na garganta de quando olhava para trás e via a antiga cidade sumindo dos olhos, o amor também. **'Arde um toco de vela amarelada', pensou no poema. Seria seu único bem que sobrou, o corredor escuro e a solidão ? O nó na garganta, como uma gravata amaldiçoada, inicia o estrangulamento, assim que ele abriu a janela, chegando a ver o Sol lá.


*
Nós apenas dissemos adeus com palavras
Eu morri umas cem vezes
Você volta para ela
E eu volto para a escuridão

 by Amy Winehouse (Back to black)

**
Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
 Foram levando qualquer coisa minha.


Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
 Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.


Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
 Não haverão de arrancar a luz sagrada!


Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca


 by Mário Quintana


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