segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

TUDO PASSA




O ano passou. Talvez rápido demais ou talvez não tenha percebido, encolhido em meu casulo, distante de tudo, distante de todos. Como um estranho no ninho, não podendo ir embora, me afasto, me isolo, não ouço, não vejo, não falo...para minha proteção enquanto isso, o corpo de baile dança no palco, acima de nossas cabeças. A Morte do Cisne. A morte do dia em que cheguei aqui. O ano passou, mas não passou minha angústia, minha insonia e meu coração em pedaços. Sentado em meu canto, lutando com a cibernética instalada para eu trabalhar ou para me espionar...cortaram a música, tenho medo de perder meus dedos no teclado do computador, mas sigo adiante, dando meus dedos a tapa ou à guilhotina que Maria Antonieta perdeu a cabeça. O ano passa e estamos no Natal, aniversário de Cristo, mas ninguém lembra disso, apenas das festas dionisíacas, com muita bebida, comida e falta de fé. O ano passa, governos são derrubados, e os que tomam conta, se apresentam bem piores, mais sanguinários, mais cruéis e burgueses. E o povo ? O povo passa fome o ano inteiro e e´sacrificado como o aniversariante do Natal, o ano inteiro. O ano passa e todos me abandonaram a minha própria sorte ou azar. Os amigos distantes se ocupam com os seus e eu gostaria de estar no ventre de minha mãe, como um canguru, como um feto protegido pela placenta, sem pensar, sem sonhar. Pura proteção tenho certeza, minha mãe não me abortaria, não me abortou e estaremos juntos no Natal, abraçados, vendo o ano que passa, este ano que passou.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

TRISTE POSTAGEM

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Sempre achei triste postagem sem comentário. Depois li: faça um blogueiro feliz, comente. Hoje acostumei a viver só no mundo e na internet. Estamos ocupados demais com o que nos cerca. Está tudo muito veloz, embora a rotação do planeta não esteja. “Quem é o inimigo, quem é você ?” Enquanto isso em Alepo, um resto de cidade na Síria, continua matando seus moradores, destruindo o que ainda está de pé e desplantando os jardins que eram cultivados dentro de casa, por crianças inocentes. No Brasil a morte banalizou, pisamos em cadáveres na rua, falamos ao celular enquanto dirigimos, jogamos lixo em qualquer parte e não amamos, nem respeitamos o próximo. No meu mundo real a dor é real. No mundo virtual, recebemos o esquecimento rápido, face as novas e últimas novidades, que tem pressa, urgência para impactarem e desaparecerem como se nada fosse feito. Enquanto isso falamos de amor, dias felizes e memórias vagas. Falar no sentido metafórico, não nos falamos, apenas postamos e esperamos que alguém pare em nosso blog e diga olá, que belo, que bom...”mas as pessoas na sala de jantar São ocupadas em nascer e morrer” . Enquanto eu choro minha pitangas egocêntricas, Alepo caminha a passos largos para mais um genocídio e a destruição total.




DESCE O CREPÚSCULO

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 Cocktail Party


Não tenho vergonha de dizer que estou triste,
Não dessa tristeza ignominiosa dos que, em vez
de se matarem, fazem poemas:
Estou triste porque vocês são burros e feios
E não morrem nunca…
Minha alma assenta-se no cordão da calçada
E chora,
Olhando as poças barrentas que a chuva deixou.
Eu sigo adiante. Misturo-me a vocês. Acho vocês
uns amores.
Na minha cara há um vasto sorriso pintado a
vermelhão.
E trocamos brindes,
Acreditamos em tudo o que vem nos jornais.
Somos democratas e escravocratas.
Nossas almas? Sei lá!
Mas como são belos os filmes coloridos!
(Ainda mais os de assuntos bíblicos…)
Desce o crepúsculo
E, quando a primeira estrelinha ia refletir-se
em todas as poças d’água,
Acenderam-se de súbito os postes de iluminação!
 
by Mario Quintana

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

PÚBLICO E PRIVADO


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Segunda-feira de um dia no hemisfério Sul

Aos que tem um trabalho, cuidem bem dele, pois o exército de reserva, nunca esteve com tantos cidadãos, e nunca estivemos com uma percentagem de povo vivendo na linha da miséria, 30% de 200 e tantos milhões de brasileiros. E eu tenho meu trabalho e agradeço a Deus por isso... pois era uma segunda-feira de fim de primavera, expectativa para o verão. Será o mais quente dos últimos tempos ? Não sei, tudo indica, os Pólos estão derretendo. Estou chegando no trabalho, e começa o atendimento determinado horário, com algumas pessoas na frente do prédio esperando para ver suas coisas. Segunda-feira eu quase um zumbi chegando no prédio, absorto, em silêncio; eis que passando pelas gentes ouço meu nome sendo dito em voz alta e firme: Bom dia Jair, não se usa mais dizer bom dia ? Pausa Dramática. Paro e acordo, literalmente. Uma senhora que estava junto das pessoas que eu passei no meio está me olhando inquisitiva, falando em tom alto, como se eu não quisesse dar bom dia. Olho pra ela, e peço desculpa, não a vi, alias eu não estava vendo ninguém. Então acordo assim, como se estivesse cometendo um pecado ao não vê-la, me repreendendo, me chamando a atenção - ainda não lembro quem é esta senhora. Poderia lhe dar um milhão de explicações por meu ato falho, em não dar bom dia. Mostra meu lado mal educado também, completamente diferente do eu que atende as pessoas, as informa, e não se satisfaz em dizer não, procura sempre uma saída, um encaminhamento. Minha mãe me ensinou assim, quando alguém pede uma informação, devemos nos esforçar para dar o melhor da gente, pois poderíamos ser aquela pessoa perdida...fiquei um tanto constrangido, parado, e incrédulo, no portão, que permanecia fechado para eles, e não para os funcionários. Eu era um funcionário. Segui adiante, com aquele pensamento martelando durante todo o dia. Em compensação, não vi mais aquela senhora, ela não apareceu na minha sala e pude atender bem, como de costume, as pessoas que ali aportam.

"Nosso dia vai chegarTeremos nossa vez
Não é pedir demais:
Quero justiça
Quero trabalhar em paz
Não é muito o que lhe peço
Eu quero um trabalho honesto
Em vez de escravidão"
by Legião Urbana

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

DORINHA MEU AMOR...

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Na boca
Sempre tristíssimas essas cantigas de carnaval
Paixão
Ciúme
Dor daquilo que não se pode dizer

Felizmente existe o álcool na vida
E nos três dias de carnaval éter de lança-perfume
Quem me dera ser como o rapaz desvairado!
O ano passado ele parava diante das mulheres bonitas
E gritava pedindo o esguicho de cloretilo:
- Na boca!Na boca!
Umas davam-lhe as costas com repugnância
Outras porém faziam-lhe a vontade.

Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos viciados

Dorinha meu amor....
Se ela fosse bastante pura eu iria agora gritar-lhe como o outro:
- Na boca!Na boca!

 by  Manuel Bandeira

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

UM POETA DEIXOU O PLANETA

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Traduzir-se


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?


by Ferreira Gullar






sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ENTRE AS LÁPIDES


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Dentre todas as Almas já criadas -Uma - foi minha escolha -
Quando Alma e Essência - se esvaírem -
E a Mentira - se for -

Quando o que é - e o que já foi - ao lado -
Intrínsecos - ficarem -
E o Drama efêmero do corpo -
Como Areia - escoar -

Quando as Fidalgas Faces se mostrarem -
E a Neblina - fundir-se -
Eis - entre as lápides de Barro -
O Átomo que eu quis!

by Emily Dickinson
(Tradução: José Lira)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

NO CAMINHO A VIDA PULSA


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Esqueceu a terapia e dormiu até mais tarde, enquanto passava desenho animado na televisão, que ficou programada para ligar. No sono percorreu o caminho até a clínica onde mais cedo ou mais tarde, seria sua residência, ou não. Estava sonhando, estava caminhando entre as pessoas sem ser notado, estava realmente sonhando. Desde a última consulta, a troca de remédios, os dias não foram mais os mesmos. Tudo pode acontecer nos finais de ano, tragédias, muitas tragédias. Encontros. Desencontros. Festas. Todos procurando desesperadamente comemorar, forçando sorrisos e postando no face-book, deixando a comida esfriar, mas mostrando todos os dentes, alguns substituídos, mas a maioria era original. Rolou na cama, e abrindo um pouco o olho esquerdo pode ver o desenho do Pica-Pau, com sua crista vermelha e corpo azul. Voltou a procurar o sono ou tentar lembrar de algo que insistia em esquecer. Esqueceu e voltou a dormir. No caminho para a clínica ouviu uma música, que falava de sofrimento, que sempre sofremos, mas nem por isso se deve desistir.

When your day is long and the night
The night is yours alone
if you're sure you've had enough of this life
Well hang on
Don't let yourself go, 'cause everybody cries
and everybody hurts, sometimes ... (R.E.M.)

A balada ecoou nos tímpanos se perdendo na escuridão do sono e do quarto, onde ainda permanecia esquecido da vida, esquecido do terapeuta. Novos remédios, o corpo precisa se adaptar. Os olhos já entenderam e não lacrimejam mais, sente também uma secura na boca, e o coração palpitar ligeiro, como se tivesse medo de parar...virou para o outro lado na cama, sem acordar desta vez, apenas esqueceu de uma consulta, esqueceu o blog também, apenas sonhava que vivia num mudo virtual, agora poderia procurar os amigos que tinha na rede, e deixar comentários in loco nos posts...acorda com um raio de Sol que atravessou a janela, a cortina, parando nos olhos, vendo um belo brilho ao abri-los e perceber que a vida está ali, a sua espera, do outro lado da janela. Agora é só dar um passo, outro passo, mais outro e assim por diante, até chegar na rua e ver que a vida existe, basta querer, basta acordar, porque sofreremos do mesmo jeito, mas com chances de superar o medo e abraçar o dia e a vida, que pulsa, pulsa, pulsa....

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

TRAGÉDIA BRASILEIRA





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Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade,
Conheceu Maria Elvira na Lapa, – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura… Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos…
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de
inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.


by Manuel Bandeira )

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

RONDÓ DE EFEITO



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Olhei pra ela com toda a força.
Disse que ela era boa.
Que ela era gostosa,
Que ela era bonita pra burro:
Não fez efeito.
Virei pirata:
Dei em cima dela de todas as maneiras,
Utilizei o bonde, o automóvel, o passeio a pé,
Falei de macumba, ofereci pó...
À toa: não fez efeito.

Então banquei o sentimental:
Fiquei com olheiras,
Ajoelhei,
Chorei,
Me rasguei todo,
Fiz versinhos,
Cantei as modinhas mais tristes do repertório do Nôzinho.

Escrevi cartilhas e pra acertar a mão, li Elvira a Morta Virgem, romance primoroso e por tal forma comovente que ninguém pode lê-lo sem derramar copiosas lágrimas...

Perdi meu tempo: não fez efeito.
Meu Deus que mulher durinha!
Foi um buraco na minha vida.
Mas eu mato ela na cabeça:
Vou lhe mandar uma caixinha de Minorativas,
Pastilhas purgativas:
É impossível que não faça efeito!



by Manoel Bandeira



quarta-feira, 23 de novembro de 2016

VULGÍVAGA

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VULGÍVAGA
 
Não posso crer que se conceba
Do amor senão o gozo físico!
O meu amante morreu bêbado,
E meu marido morreu tísico!

Não sei entre que astutos dedos
Deixei a rosa da inocência.
Antes da minha pubescência
Sabia todos os segredos...

Fui de um... Fui de outro... Este era médico...
Um, poeta... Outro, nem sei mais!
Tive em meu leito enciclopédico
Todas as artes liberais.

Aos velhos dou o meu engulho.
Aos férvidos, o que os esfrie.
A artistas, a coquetterie
Que inspira... E aos tímidos
o orgulho.

Estes, caço-os e depeno-os:
A canga fez-se para o boi...
Meu claro ventre nunca foi
De sonhadores e de ingênuos!

E todavia se o primeiro
Que encontro, fere toda a lira,
Amanso. Tudo se me tira.
Dou tudo. E mesmo... dou dinheiro...

Se bate, então como estremeço!
Oh, a volúpia da pancada!
Dar-me entre lágrimas, quebrada
Do seu colérico arremesso...

E o cio atroz se me não leva
A valhacoutos de canalhas,
É porque temo pela treva
O fio fino das navalhas...

Não posso crer que se conceba
Do amor senão o gozo físico!
O meu amante morreu bêbado,
E meu marido morreu tísico!


by Manoel Bandeira






 
  

terça-feira, 22 de novembro de 2016

NÃO HAVIA MAIS NINGUÉM


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Não havia mais ninguém, a praça encontrava-se vazia, não houveram aplausos, nem pedidos de bis. Na madrugada que amanhecia, conseguia ver uma Lua que enfrentava um Sol nascente, não querendo ir embora...mas todos já desistiram, e a Lua desapareceu na luz solar. Restos de uma grande festa ou batalha, divide espaço com ele e o vazio da praça. Nem sempre os anjos da guarda estão de guarda, e é justo nestes instantes, que desorientados, nos entregamos a esta orgia desenfreada por sexo, dinheiro e poder. A ordem certa é o poder vir primeiro. Caminha tropego pelas calçadas inundas, pára na frente de uma loja em que os televisores estão ligados, e se fixa numa tela, que contava a história de um país distante, em que o povo vivia dentro de uma guerra, sem participar, apenas serviam de escudo humano. Uma fumaça negra que mudava ao sabor do vento, onde então podia-se ver crianças mostrando as mãos sujas de óleo ou petróleo ou sangue, e juntos mostravam dificuldade de respirar, e uma tosse de moribundo. Pensou, olhando aquela cena, e vendo a praça vazia e imunda, até gostou de ver o que via. Quando volta olhar a televisão, as crianças sumiram mais uma vez no meio da fumaça. Não havia mais ninguém.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O CASTELO E O AR


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Subir à tona para respirar, como fazem os mamíferos que dependem da água para sobreviver. Enquanto sobrevivo com as migalhas de palavras, gestos e sinais dentro do castelo. Toda minha rotina, todo o meu não ser, enquanto permaneço dentro do castelo de Kafka e permaneço na biblioteca, onde me torno uma traça que não come papel, mas lê. Da biblioteca vou atá a masmorra, pensando seriamente em me jogar no lago que cerca o castelo, cheio de crocodilos. Olho para a rua lá de cima e vejo o pasto verde, árvores floridas não conseguindo identificar, a não ser olhar, olhar. Poderia ser o pássaro que quase alcanço com a mão, mas ele foge, ele voa. Se eu pudesse voar, não estaria aqui, fugiria para as alturas, faria um ninho e criaria meus passarinhos, ou, meus filhos com asas. Mas o barulho estrondoso no porão, me chama a atenção. Não identifico, se é humano, ou um animal, ou uma máquina de tortura; mas quem estaria sendo torturado ? Melhor voltar para a biblioteca e entrar em algum livro, em que o cheiro me transportará para além das cercanias deste castelo, preto e branco. Não encontro mais o caminho de volta, muitas escadas a me confundir, salas, quartos e salões, deixam-me tonto e cansado. Sinto que desço, agora sem minha vontade, simplesmente desço, quase não conseguindo respirar...devo subir à tona ou acordar...

HEAVEN KNOWS I'M MISERABLE NOW





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Eu estava feliz no nevoeiro de uma hora embriagada
Mas o céu sabe o quanto estou arrasado agora
Eu estava procurando um emprego, e então eu achei um emprego
E o céu sabe o quanto estou arrasado agora


Na minha vida
Por que eu dou tempo precioso
Para pessoas que não se importam se estou vivo ou morto?


Dois amantes abraçados passam por mim
E o céu sabe o quanto estou arrasado agora
Eu estava procurando um emprego, e então eu achei um emprego
E o céu sabe o quanto estou arrasado agora


Na minha vida
Por que eu dou tempo precioso
Para pessoas que não se importam se estou vivo ou morto?


O que ela me perguntou ao final do dia
Calígula teria se envergonhado
"Você tem estado nesta casa há tempo demais", ela disse
E eu (naturalmente) fugi


Na minha vida
Por que eu sorrio
Para pessoas que eu preferiria chutar no olho?


Eu estava feliz no nevoeiro de uma hora embriagada
Mas o céu sabe o quanto estou arrasado agora
"Você tem estado nesta casa há tempo demais", ela disse


by The Smiths

ps. The Smiths e Legião Urbana são as bandas que mais falaram da minha vida, deveria processá-los, mas me vingo publicando aqui no bloguinho...quando se descobre que o mar calmo que se navega, enfrenta    uma tempestade (Tempestade - o disco da Legião que me traduz ), de um dia para outro, de uma falha até a outra, de um pedido de clemência até a forca. Mas não desta vez. Agora entendo  o que meu terapeuta tenta me dizer, que meu psiquiatra sabe os remédios que eu devo tomar. Então ouvi esta música, continua linda para mim, mas eu chutaria um olho ou diria para Calígula que ele é um matador de criancinhas, se precisasse. Apenas vou me recolher dentro de minha escrivaninha de trabalho e trabalhar em silêncio, pois estou há muito pouco tempo por aqui, e eu cansei de minha vida nômade.  
ps2. será sem comentários, pois é só um desabafo para meus remédios, e já me sinto muito bem.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

NÃO PENSO TER A VIDA INTEIRA


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FOGUEIRA


Por que queimar minha fogueira
E destruir a companheira
Por que sangrar o meu amor assim
Não penses ter a vida inteira
Para esconder teu coração
Mais breve que o tempo passa
Vem de galope o meu perdão

Por que temer a minha fêmea
Se a possuis como ninguém
A cada bem, do mal, do amor em mim
Não penses ter a vida inteira
Para roubar meu coração
Cada vez é a primeira
Do teu também serás ladrão

Deixa eu cantar
Aquela velha estória, amor
Deixa eu penar
A liberdade está na dor

Eu vivo a vida a vida inteira
A descobrir o que é o amor
Leve pulsar do sol a me queimar
Não penso ter a vida inteira
Para guiar meu coração
Sei que a vida é passageira
Mas o amor que eu tenho não

Quero ofertar
A minha outra face à dor
Deixa eu sonhar
Com a tua outra face, amor

Não penso ter a vida inteira
Para guiar meu coração
Sei que a vida é passageira
Mas o amor que eu tenho não

Quero ofertar
A minha outra face à dor
Deixa eu sonhar
Com a tua outra face, amor

by Angela Rô Rô

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

SEGREDO



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Poderia guardar todos os meus segredos nesta página internética, mas não restou nenhum que desperte algum interesse. Aquelas pílulas estão enchendo meu estomago e não sei se são digeridas ou só se acumulam dentro da gente mutando nossas vontades e pensamentos, nossos quereres, citando Caetano. Tento vasculhar bem no fundo de mim, se encontro algo esquecido e que valesse a pena contar, mas não. Esta tudo vazio ou parado. As pílulas vão se armazenando entre os órgãos, mas todas fogem do coração. Na autópsia de um grande astro encontram elas, as pílulas inteiras dentro dele, mas já sem vida, sem sentido. Voltando aos segredos, tenho de confessar, contei ao vento o último, que se encarregou de espalhar ou terminar, como quando jogamos restos mortais em pó no oceano ou do alto de um penhasco. Melhor virar para o lado e tentar dormir e não sonhar, esta é a regra das pílulas, não sonhar. Adormeço e nas trevas da madrugada sinto o beijo de minha mãe e suas mãos puxando o cobertor, para que eu fique mais aquecido.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

UM ESQUECIMENTO, UM ECO, UM NADA

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Jorge Luis Borges


Sou


 Sou o que sabe não ser menos vão
 Que o vão observador que frente ao mudo
Vidro do espelho segue o mais agudo
Reflexo ou o corpo do irmão.
Sou, tácitos amigos, o que sabe
Que a única vingança ou o perdão
É o esquecimento. Um deus quis dar então
Ao ódio humano essa curiosa chave.
Sou o que, apesar de tão ilustres modos
De errar, não decifrou o labirinto
Singular e plural, árduo e distinto,
Do tempo, que é de um só e é de todos.
Sou o que é ninguém, o que não foi a espada
Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada.

by Jorge Luis Borges


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

AMOR INCONDICIONAL


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IPÊ ROSA - OUTUBRO ROSA

Estava eu atrasado, como de costume, mas cheguei há tempo na rodoviária para embarcar no ônibus que me levaria até minha mãe, que não estava passando muito bem. Minha poltrona é ao lado de uma simpática senhora, que me sorri quando peço permissão para sentar ao lado dela. Era setembro, em plena floração dos ipês, árvore que gosto muito, principalmente os ipês amarelos. O ônibus parte, meu coração apertado, ansioso para ver minha mãe. Acabo por adormecer, me acordando com um movimento brusco do ônibus. A senhora do meu lado sorri. Devolvo o sorriso e brinco dizendo que sonhava com aquelas árvores que se estendiam como um imenso túnel de ipês amarelos. Ainda em meio ao sorriso olho para a rua, e me encanto com o que vejo, um túnel de ipês amarelos, meus favoritos. Falo com a senhora admirando os ipês, mas percebo que ela nem liga. Não consigo me conformar, que alguém não ache bonito esta árvore (se bem que gosto é gosto, não se discute). Ela se vira para meu lado, e vendo minha decepção por não concordar comigo e o resto do mundo, começa a me contar seu trauma com ipês... ela me contou que tem filhos, e a caçula na época do ocorrido era bem pequena e sofria de alergia, e na quadra dela, na rua, todos se orgulhavam desta bela árvore que no final de agosto já começa a parecer. Já em setembro, olhando do meio da rua percebe-se uma bela perspectiva, afinal era primavera, a estação das flores, dos amores. Mas sua filha sofria muito com a árvore de ipê na frente sua casa, e crescia para dento do pátio chegando até a janela do quarto da menina, que era chamada de rena do nariz vermelho pelos irmãos. Ela não aguentando ver o sofrimento da filha, pediu ao marido que cortasse aquela árvore na frente de sua casa. Ele já havia feito várias solicitações para ser autorizado para cortar árvore. Bem, estamos no Brasil, onde a máquina pública, até funciona, mas numa lenta, quase parada burocracia. Não aguentando mais ver o sofrimento da filha, resolveu por conta própria cortar as dita árvore. A essas alturas eu já estava quase chorando de pena da pobre árvore, que estava com seus dias contados. Contratou um senhor que fazia o serviço e possuía uma condução, combinou com ele uma manhã bem cedo e cortou a árvore, já colocando seus restos mortais no carro do lenhador, que com uma pequena serra elétrica fez o serviço e deu sumiço na árvore...ela disse que sofria varrendo a calçada, e se chovia ficava perigoso, podendo resvalar nas flores coladas no chão. Eu já quase chorava pela árvore agora morta e sumida. A vizinhança não percebeu, o marido não acreditou, aliás nem havia percebido quando chegou em casa. A viagem continuou, ela pegou no sono e eu ali, pensando, sofrendo por uma árvore que nem conheci. Mas tirei uma grande lição, uma mãe é capaz de tudo para proteger e criar com segurança e saúde seus filhos. Como ninguém percebeu, a rua continuou florindo seus ipês todo final de agosto, menos na frente daquela casa, da menina do nariz vermelho, que não ficava mais vermelho entre agosto e setembro.

ps. Este amor que a pessoa/personagem tem  pela filha é incondicional, nada poderia fazer sua filha sofrer, o que me leva a pensar em minha mãe, único amor verdadeiro em minha vida. Esqueci do Teimoso (meu   cão que adotei) que está me ensinando a amar de novo, que é possível meu coração ainda bater forte e descompassado como dos apaixonados.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

NAS MANHÃS DE SETEMBRO

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Manhãs de Setembro

Fui eu quem se fechou no muro e se guardou la fora
Fui eu que num esforço se guardou na indiferença.
Fui eu que numa tarde se fez tarde de tristeza
Fui eu que consegui ficar e ir embora.

E fui esquecida
Fui eu
Fui eu que em noite fria se sentia bem
E na solidão sem ter ninguém fui eu
Fui eu que em primavera só não viu as flores
e o sol
Nas manhãs de setembro.

Eu quero sair
Eu quero falar
Eu quero ensinar o vizinho a cantar
Eu quero sair
Eu quero falar
Eu quero ensinar o vizinho a cantar
Nas manhãs de setembro
Nas manhãs de setembro
Nas manhãs de setembro
Nas Manhãs...

by Vanusa

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

PONTES DE VIDRO SUBTERRÂNEAS


Os subterrâneos da ponte de vidro. Uma ponte que tenho de atravessar todas as manhãs e olho através do vidro o penhasco que me espera lá embaixo, cheio de pontas e pedras. Sempre rezo antes de atravessar a ponte de vidro, sigo lentamente vendo meu fim lá embaixo, caso um passo em falso trinque o vidro que partirá em mil pedaços. Nos subterrâneos abaixo da ponte de vidro, as rochas que me escondo até amanhecer e ter de atravessar a ponte. Um risco de vida todo o dia...já fechei os olhos atravessando, mas sentia a espada de um pirata nas costas, e a ponte de vidro que não via, transformou-se em uma tábua rumo ao mar, onde agitados tubarões com fome, até parece que sorriem ao abrirem as imensas bocas, cheias de dentes, esperam ansiosos para me devorar. Há perigo sempre, até no olhar que não me quer aqui ou ali. Há perigo no amor que morre, que mata, que sangra manchando meus passos sobre a ponte de vidro.

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Lançando-me lentamente ao espaço, deixando a gravidade fazer seu trabalho. Não há milagres para esperar, meu corpo é um nada na imensidão do nada e que meus subterrâneos sempre estiveram ali, dentro de mim, mesmo quando olhava para dento não conseguia ver. Agora é muito claro, ou escuro e vejo os vasos sanguíneos na terra, no subsolo de minha pele. Enquanto a gravidade faz seu trabalho vejo a ponte de vidro estilhaçando e vindo em minha direção, mas agora é tarde para me cortar, secou o sangue, e a Terra irá me engolir.


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quinta-feira, 8 de setembro de 2016

CAMINHAR E PENSAR


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Caminhar e pensar, esquece o cansaço e olha muito as calçadas por onde pisa, os jardins dos casarões perdem seu ar sombrio em setembro, as flores brotam e saem daquelas paredes, daquele chão, em que cheguei a não acreditar que veria margaridas outra vez na vida. Vi. Acho a flor mais enigmática, linda, ela me atrai, me chama, como se falasse comigo. Então vi minha primeira margarida no jardim daquele casarão. Travei. Parei, ela desabrochava...vontade de ficar ali só para ter o prazer de vê-la se abrir para o Sol, para meus olhos, mas não tenho muito tempo. Caminhar e pensar. Outros apressados como eu caminham, outros em seus carros, e mesmo assim apressados. O tempo é pouco ou desperdiçado na rotina obrigatória de sobrevivência. Mas como sofrer, com um Sol lindo na cabeça. Alguns parecendo eufóricos, outros discutem seriamente em conversa baixa, alguns ostentam bandeiras com números, poucos. Atmosfera perigosa no ar, sempre que houver eleições neste país, estarei desconfiando das palavras da própria sombra. Quero ter o poder de me surpreender na minha escolha, sem ranços, sem repetecos, quem sabe não é momento de algo arriscado e novo ? Penso nisso com certa melancolia. Caminhar e pensar. Retornarei pelo mesmo caminho, preciso ver aquela margarida ainda hoje...