quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

RETRATO EM BRANCO E PRETO

Jack Kerouac


Retrato em branco e preto


Já conheço os passos dessa estrada

Sei que não vai dar em nada

Seus segredos sei de cor

Já conheço as pedras do caminho

E sei também que ali sozinho

Eu vou ficar, tanto pior

O que é que eu posso contra o encanto

Desse amor que eu nego tanto

Evito tantoE que no entanto

Volta sempre a enfeitiçar

Com seus mesmos tristes velhos fatos

Que num álbum de retratosEu teimo em colecionar


Lá vou eu de novo como um tolo

Procurar o desconsolo

Que cansei de conhecer

Novos dias tristes, noites claras

Versos, cartas, minha cara

Ainda volto a lhe escrever

Pra lhe dizer que isso é pecado

Eu trago o peito tão marcado

De lembranças do passado

E você sabe a razão

Vou colecionar mais um soneto

Outro retrato em branco e preto

A maltratar meu coração


Tom Jobim - Chico Buarque / 1968

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

DESTRUIÇÃO E GUERRA X FUTEBOL


O que é justo, o que é legal , o que é natural. Pobre Haiti, e seu povo, amaldiçoado ? Tem sido a coisa mais triste até então, neste ano que se inicia, as cenas protagonizadas no Haiti, após o terremoto...morte, destruição, dor, fome, medo, violência...o fim do mundo caminha a passos largos ? Mas ontem, quedei na frente da tv assistindo a um telejornal, quando vejo um repórter procurando água, no meio dos escrombos, do que restou de Porto Príncipe, até que encontrou um homem vendendo uma espécie de bixiguinha de água, ao que ele comprou, mas tinha dúvidas da procedência e se a água estaria ou não potável... o que se segue é uma cena muito triste e bizarra, ele acaba distribuindo a água comprada com pessoas e crianças que o rodeiam, como zumbis, famintos, com sede, com nada...os que conseguem bebem sofregamente aquela água, então pensei, realmente a água pode acabar... logo em seguida mostra uma automóvel sendo filmado sua revista, acho que era no Iraque, então os guardas que o revistavam saem correndo, e o carro explode ali, na minha frente, então pensei, eles se explodem e explodem os outros mesmo. Não sou uma alienado, pelo contrário, sofro muito com esta suposta lucidez. ( Quando mais jovem, eu e uma amiga, a Carmemn1, chegamos a pensar que se fossemos alienados, como parecia a maioria daquelas pessoas que conhecíamos, seríamos mais felizes, estúpidos, mas felizes...mas sempre concluíamos que mesmo não conseguindo aquele grau de felicidade que víamos nos outros, preferíamos menos alegria, mas sabendo a merda que nos rodeava...). Para um começo de ano, este está bem hard-core...eis que como Fenix ele ressurge (confesso que para mim ele sempre foi o melhor), Ronaldinho, o Gaúcho, que atualmente joga no Milan. Sempre gostei de futebol, assisto a jogos de futebol desde sempre, mas quando conheci Ronaldinho, realmente me encantei de como a bola era íntima dele, como ela corria feliz a seus comando com os pés, e como eu sorria com seu sorriso, era como na infância, aqueles jogos regados a gritos e risadas, puro divertimento. Ele é meu Rei, quer dizer o Rei é o Pelé, mas o Ronaldinho, o Gaúcho será sempre o meu Rei, o cara que existe agora, no meu tempo, e que voltou a brilhar para o mundo, nos campos de futebol. Eu amo esse cara. O dom dele só será revelado junto de sua alegria, e ele está alegre, então vamos nos divertir assistindo-o jogar. Quero vê-lo na Copa do Mundo de Futebol, defendendo o Brasil.



ps. meu último post era um poema de Mário Quintana que para minha alegria recebeu um comentário...a poesia , eu também acho, simples e concreta, é daqueles poemas que nunca esqueço, traduz minha alma assassinada e atormentada, mas que naõ desiste nunca, embora às vezes chegue ao limite... Obrigado blasblog.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

DA VEZ PRIMEIRA QUE ME ASSASSINARAM


Da vez primeira que me assassinaram

Perdi um jeito de sorrir que tinha

Depois a cada vez que me mataram

Foram levando qualquer coisa minha



Hoje, dos meus cadáveres eu sou

O mais desnudo, o que não tem mais nada.

Arde um toco de vela amarelada

Como único bem que me ficou.



Vinde! corvos, chacais, ladrões da estrada

Pois dessa mão avaramente adunca

Não haverão de aarrancar a luz sagrada


Aves da noite, asas do horror, voejais

Que a luz tremula e triste como um ai,

Aluz de um morto não se apaga nunca.


MARIO QUINTANA, nascido no Alegrete em 1906, morreu em Porto Alegre nos anos 90...

ps. "A morte é libertação total: A morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos". Mario Quintana.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

NINGUÉM ASSISTIU AO FORMIDÁVEL ENTERRO


VERSOS ÍNTIMOS
Vês?! Ninguém assistiu ao fortmidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo,é a véspera do escarro,
A mão que afaga é amesma que apedreja.
Se alguém caudsa ainda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
AUGUSTO DOS ANJOS
(1884 - 1914)