segunda-feira, 28 de abril de 2014

QUASE UM POEMA DE AMOR

by Rosana Souza - SC


Quase um poema de amor

I


Lembro  ainda tuas primeiras palavras em minha direção,
então sorri por dentro,
como se alguém estivesse perdido no deserto,
com muita sede,
e de repente  alguém lhe dá um copo cheio de palavras, que bebo ávido, 
como se o mundo fosse acabar...
adora assim,
mudos entre as paredes que nos prendem
e o ar nos separa.
Silêncio.
Alguns sorrisos involuntários selavam nosso companheirismo acidental,
mas eu já gostava antes.
Abismo.
Quando tentei tocar tua mão, 
senti calafrios...
quando busquei teu olhar,
paralisei.
Tua voz ecoava nos meus ouvidos e na minha alma,
mesmo quando não estavas mais presente, 
e eu sorria
no escuro de meu quarto,
embaixo dos cobertores...

II


Mas não resisto tuas costas,
eu olho e desejo e sonho,
mas não cruzarei mais meu olhar com o teu,
pois pertencemos a tribos distintas.
Sei que mato este amor,
mesmo antes de nascer,
aborto também minha vontade de amar e ser amado,
pois nossos mundos
pertencem a dimensões diferentes
e caminhamos parta lados opostos
onde estaria uma suposta
felicidade a dois.

by Jair Machado Rodrigues  




quinta-feira, 17 de abril de 2014

MILAGRE






A vida sempre negou minhas vontades e desejos, também negou a felicidade, mas colocou algumas pessoas no meu caminho, para que eu aprendesse a viver em sociedade, que eu parasse de achar que a vida é culpada de minha derrota existencial. O lado cruel de Deus, nos faz aprender com a ador, que nós mesmos nos provocamos, que eu me provoco. Deus é meu pai e parece que não me entende bem, ou eu novamente, do alto do meu egoísmo achando que eu não mereço ou que eu mereço mais  do que tenho, mas não tenho nada. Mais do nada. Deus sabe o que faz, eu sei, por isso ficarei em silêncio, jejuando palavras, numa oração silenciosa, pedindo para ser afastado de onde estou, que abra as portas da estrada e me leve para perto de quem me ama, onde haja Sol e campo e árvores e rios e pessoas simples que vivem de agricultura e sorriem e dão bom dia quando avistam outro se humano, que poderia ser eu. Silenciosamente cumprirei meus afazeres, andarei em meio a pessoas que não me olham, mas estarei em silêncio e calmo e em oração. Aprendi com minha avó a clamar ao Deus invisível, que não tem cor, nem dinheiro, nem interesse em me adestrar, apenas abre meu coração e alivia o peso de minha alma e diz que eu espere por um milagre...só acho que meu tempo passa e nada, não me canso  de orar, mas não sei se ainda  quero um milagre, ou se milagre existe. 


Nossas armas estão na rua

É um milagre
Elas não matam ninguém



A fome está em toda parte
Mas a gente come
Levando a vida na arte



Todos choram
Mas só há alegria
Me perguntam
O que é que eu faço?
E eu respondo:
"Milagres, milagres"



As crianças brincam
Com a violência
Nesse cinema sem tela
Que passa na cidade



Que tempo mais vagabundo
Esse agora
Que escolheram pra gente viver



Todos choram
Mas só há alegria
Me perguntam
O que é que eu faço
E eu respondo:
"Milagres, milagres"


by Cazuz/Frejat/Denise





ps. Páscoa é um tempo em que percorrendo os telejornais acompanho matérias, em especial uma ala no nordeste brasileiro que vai pra caatingas se autoflagelar em nome de alguma religião, enfim, gosto do ato, de ver, sei lá se sou sadomasoquista com relação a isto, 
mas eu gosto, acho que simbolicamente deve fazer algum efeito ou sentido que necessita minha religiosidade - tentando uma explicação junguiana rs...- mas é a ressurreição de Cristo, para quem segure o Cristianismo, como eu, quer dizer, minha necessidade teológica vai além disso, necessito símbolos, não imagens, embora eu também goste, mas como disse uma amiga, quero o bom de cada religião...mas é um momento forte espiritualmente para mim, um momento único para eu fazer o que venho fazendo, mas com chances de dar certo, que é tentar; tentar ser feliz, tentar ser bom, tentar ser mais humano, tentar amar ao próximo, como a mim mesmo, renascer como uma fênix para uma vida melhor, mais sorriso e menos lágrimas, mais amor, mais vida. Menos silencio em minha vida, em meus ouvidos, mas barulhinho bom com Marisa Monte,palavras doces de carinho, sussurros de amor, mas sem ilusões, apenas fé, que é o que me resta, que me mantém vivo e tentando.

terça-feira, 15 de abril de 2014

CRIANÇAS







Tenho medo de crianças, sim, de crianças...eu fui uma criança, e lembro que nada me escapava aos olhos, mas sempre havia algum adulto que percebia minha consciência do que acontecia, eme reprimia, ou tirava-me do local, ou até era repreendido, mas as pessoas não levavam em consideração minha participação, apenas me olhavam com olhos reprovadores. Por isso tenho medo delas, com suas perguntas desconcertantes, suas criticas alucinadas, e sem falar que elas vivem dentro da suposta verdade que os olhos veem.
Hoje fujo delas, até meus sobrinhos me causam medo, talvez mais medo por estarem tão próximas, mesmo distantes. Se eles não gostam da pessoa, não fazem questão de estar com ela e nem dão atenção, olham desconfiadas, e se grudam no pescoço ou nas pernas dos pais.Mas se eles gostam, pode ser uma festa, existem crianças realmente iluminadas e carinhosas, espécie em extinção...tenho sorte com minhas crianças, digo, da minha família.
Eis que surgem outras espécies de crianças, as índigo e já existem as cristais, acho que são estas crianças queridas que naturalmente encontramos, , geralmente elas se comunicam bem para o tamanho e a idade, tem uma sensibilidade mais apurada, e até bizarro para criança, mas são seres do bem, eu espero.
O mais terrível disso tudo, é que elas precisam dos adultos, dos pais geralmente, senão não sobreviveriam, aliás, são raros os bichos que sobrevivem recém nascidos e sem cuidados...

Muito tem-se de falar em crianças, elas precisam de nós, acho que só elas, bem orientadas podem salvar este país do caos num futuro logo ali, mas será possível que elas sobreviverão com o tratamento dado a elas ? quarenta bebes mortos num necrotério de um hospital, um menino recebeu uma injeção letal da madrasta, que deveria cuidá-lo, a rede de pedófilos na internet não tem fim, a prostituição infantil não tem fim, a incompetência dos órgãos públicos destinados ao cuidado das crianças é gritante, o abuso e a violência que as crianças sofrem nas mãos daqueles que deveriam cuidá-las, acontece dentro de suas casas...então, se as crianças são o futuro, o que esperar de adultos traumatizados por uma infância medíocre e muito triste ?

segunda-feira, 14 de abril de 2014

QUANDO TUDO ESTA PERDIDO*

  

Eu ouço sempre os mesmos discos
Repenso as mesmas ideias
O mundo é muito simples
Bobagens não me afligem
Você se cansa do meu modelo
Mas juro, eu não tenho culpa
Eu sou mais sou mais um no bando
Repito o que eu escuto
Eu não te entendo bem...

by Kid Abelha


No início era o verbo...eu estou cansado deste mundo de meu Deus, quem sabe Ele me busca e acaba de vez com esta agonia, esta mal estar, este desconforto de pertencer a raça humana e ter a sina de precisar viver em sociedade...quem me dera fosse um ignorante do meio do mato, num interior bizarro deste país. Quem me dera não ter conhecido o que conheço. Sé não me arrependo de ter nascido da mulher que é minha mãe, o resto, sinceramente não me importo que deixe de existir ou exploda. O mundo é cruel mesmo e eu não sou anjo, pelo contrário, não sou este avatar querido que me mostro, eu sinto ódio, eu não gosto de pessoas, embora ame outras. Eu quero partir sozinho  como uma folha seca de plátano, carregado por uma vento até cair em algum solo e virar adubo. Da terra vim, para lá vou. Esta minha fórmula repetitiva de ser, gosto de reler livros, rever filmes, ouvir as mesmas músicas, mesmo porque, as de agora, poucas se salvam. Tenho raiva de mim por necessitar deste veículo que é a internet, esta casa do demônio, este caminho que já levou muita gente à morte, ao isolamento, à tristeza e ao mundo das ilusões, para depois jogá-los no esquecimento, como é na vida real, usamos as pessoas, depois descartamos, e vamos para nosso clube privê.  


ps. O título é de uma música do Renato Russo da Legião Urbana

sexta-feira, 11 de abril de 2014

LONGE DO CÉU E DO INFERNO




Acordar de um pesadelo no próprio...fugindo destes olhos que a terra irá comer e que não verão a luz que atravessa as nuvens e chega aqui, muito menos a cor da manhã que insiste em nascer todo dia. Enquanto arrastas teus ódios pelo chão da cozinha, tento colher laranjas no pomar, mas as árvores revoltadas cresceram e não liberam seus frutos. Meu coração acelerou e meus passos se perderam nesta estrada triste sem perdão, sem destino, sem amor...sem o amor nos desencontramos e partimos para lados opostos. Com conquistas e derrotas, sobrevivemos. Longe um do outro, mas sobrevivemos, mesmo aos pedaços, mesmo não estando onde desejávamos.Mesmo sem muito tempo de vida, gasto lavando as flores do campo, colhendo estrelas no céu e deixando a água do rio represado, seguir seu curso normal. E as crianças que vagam sem rumo fugindo da Síria, encontrarão um campo de concentração onde matarão lentamente sua inocência e rebeldia, tornando-os seres tristes, os mais tristes do mundo, longe do céu e do inferno...onde estou, onde ninguém mais se arrisca a pisar ou a me olhar dentro desta ampulheta do tempo, sobre a mesa do tempo, o tempo do tempo.
Tudo acontece neste pesadelo acordado que é a vida nestes dias de apocalipse e telejornal...mas não arrastarei meus ódios por teus caminhos, já pois perdi, tento achar meu perdão.


When routine bites hard
And ambitions are low
And resentment rides high
But emotions won't grow
And we're changing our ways
Taking different roads
Then love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
by Joy Division



terça-feira, 8 de abril de 2014

SENTIDOS PARA A VIDA





Busco palavras para definir o que sinto ultimamente...um pesar pela dor que se alastra pelo mundo...uma alegria pelos poemas que encontro em meu caminho e os amigos diferentes dos que um dia tive, quando jogava futebol na rua e gritávamos e corríamos e eu era de certa forma feliz. Os dias hoje, quase sombrio, desconfortos, equívocos e desencontros...ainda sonho em caminha a beira de um lago, num caminho de pedras sobre as gramíneas, recheadas de pequenas flores, das mais variadas cores, mas...
Nessa busca de palavras, as encontro, aqui e ali, na lavoura do Blog de Tais, ouvi as sábias palavras, que acalmaram meus sentidos, quando disse que na imensidão da blogosfera, não se conseguia visitar a todos os que gostamos e queremos,e todo, mas todo dia, encontramos surpresas, quase sempre agradáveis...assim fiquei mais tranquilo, sem ansiedade (valha-me rivotril), e sem remorsos.
Terremoto, palavra que não busquei, mas se apresentou logo ali e que poderia ter me encontrado, mesmo sem querer e ter libertado minha alma ou ter encontrado todos os meus sentidos da vida...Mas elas chegam e me devoram ou desnudam e me alimentam e me instigam e me fazem chorar e rir ao mesmo tempo, acho que é uma manifestação concreta de felicidade, uma comunhão de vontades boas, de encontros onde todos saem ganhando e satisfeitos e querendo mais."Amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito" e existem 105 que já moram em meu coração, que está sempre aberto para os que passam e deixam seu cheiro de vida em forma de palavras...(este post é uma forma de dizer que adoro ter este blog, que tomou certas proporções em minha vida, quase uma entidade ou uma confraria onde os que aqui chegam, compartilham e agregam com suas palavras o que sinto ou o que sentirei).

quarta-feira, 2 de abril de 2014

QUEM NÃO SE PERMITE




esta é Martha Medeiros


QUEM MORRE ?

Morre lentamente
Quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo

Morre lentamente
Quem destrói seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente
Quem se transforma em escravo do hábito
Repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
Quem não muda de marca,
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou
Não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente
Quem evita uma paixão e seu redemoinho de emoções
Justamente as que resgatam
O brilho dos olhos
E os corações ao tropeços.

Morre lentamente
Quem não vira a mesa quando está infeliz
Com seu trabalho, ou amor,
Quem não arrisca o certo pelo incerto
Para ir atrás de um sonho,
Quem não se permite,pelo menos uma vez na vida,
Fugir dos conselhos sensatos...

Viva hoje!
Arrisque hoje!
Faça hoje!

by Martha Medeiros


ps. Martha é uma de minhas mulheres maravilha que escrevem e eu gosto, há muito tempo, eu precisava deste poema...