segunda-feira, 29 de julho de 2013

MAS, PARA VIVER ?





A busca da fecalidade




Onde cheira a merda

cheira a ser.

O homem podia muito bem não cagar,

não abrir a bolsa anal

mas preferiu cagar

assim como preferiu viver

em vez de aceitar viver morto.



Pois para não fazer cocô

teria que consentir em

não ser,

mas ele não foi capaz de se dedicar a perder o ser,

ou seja, a morrer vivo.



Existe no ser

algo particularmente tentador para o homem

algo que vem a ser justamente



O COCÔ



Para existir basta abandonar-se ao ser

mas para viver

é preciso ser alguém

e para ser alguém

é preciso ter um OSSO,

é preciso não ter medo de mostrar o osso

e arriscar-se a perder a carne.



O homem sempre preferiu a carne

à terra dos ossos.

Como só havia terra e madeira de ossos

ele viu-se obrigado a ganhar sua carne,

só havia ferro e fogo

e nenhuma merda

e o homem teve medo de perder a merda

ou antes desejou a merda

e para ela sacrificou o sangue.



Para ter merda,

ou seja, carne

onde só havia sangue

e um terreno baldio de ossos

onde não havia mais nada para ganhar

mas apenas algo para perder, a vida.





-- Antonin Artaud, 1948.



quinta-feira, 25 de julho de 2013

BOMBAS NA EMBAIXADA





Os anarquistas estão entre nós, jogando bombas na embaixada, na guarda real e nos manifestantes. Os anarquistas não concordam com nada e discordam de tudo, não existe paz, não existe amor na alma do anarquista. O povo pede pão e os anarquistas pedem armas.


Tenho medo de sair na rua, abrir a janela, caminhar no jardim, colher flores...olhar o céi deitado no gramado de meu quintal.

Anduve por días em el camino polvoriente atravesándome em sucesivos espejos, hasta encontrar el agua, hasta llegar a este clima más frio.

Agora estamos em pleno inverno, talvez o mais frio dos últimos tempos. O povo, mesmo assim vai protestar nas ruas, pedindo paz, pedindo pão, pedindo respeito para que se possa viver com dignidade.

E os anarquistas estão no meio da vontade popular, para jogar bombas na embaixada.

Tenho tentado não acompanhar telejornais, tenho tentado não sofrer, mas é inveitável e meu lado sadomaso adora telejornal...mas situação está séria e perigosa, corpos se afastam, crianças morrem, animais e florestas também. Ninguém respeita ninguém. Os médicos não querem dar consultas, pois minha saúde não interessa e sim a posição social e econômica, seguir a tradição da família, mesmo sem vocação, pois medicina é sacerdócio e não um negócio, estou enganado ?

Os anarquistas, estes covardes mascarados tentam atrapalhar um movimento honesto, pacífico, de pessoas que querem um Estado de Direito não corrupto, democrático e não preconceituoso e não excluidor.

Tenho na minha alma uma faísca anarquista, que me acompanhou na juventude, mas era algo autodestruidor, eu não lutava contra o mundo, só contra mim, porque sempre desejei a paz na minha família, no bairro, na cidade, no país, no mundo...

Os anjos da paz estão entre nós, com suas enormes asas brancas voando no céu, sobre nossas cabeças, anunciando o fim da violência e o início de uma nova era, novos tempos, novas tentativas...





ps. a frase em español é de minha amiga Silvia Zappia, do blog en-zigurat, dos Contos de Lila.

ps.2 o anarquismo que me refiro neste post é o anarquismo pelo anarquismo, que é o anarquismo.   ps.3 bombas na embaixada, é um termo que lembro de uma música do HumbertoHengenheirodoHawaiGessinger.

terça-feira, 23 de julho de 2013

SEMANA QUE VEM ?






Semana Que Vem


by Pitty


Amanhã eu vou revelar
Depois eu penso em aprender
Daqui a uns dias eu vou dizer
O que me faz querer gritar


No mês que vem tudo vai melhorar
Só mais alguns anos e o mundo vai mudar
Ainda temos tempo até tudo explodir
Quem sabe quanto vai durar


Não deixe nada pra depois, não deixe o tempo passar
Não deixe nada pra semana que vem
Porque semana que vem pode nem chegar
Pra depois, o tempo passar
Não deixe nada pra semana que vem
Porque semana que vem pode nem chegar


A partir de amanhã eu vou discutir
Da próxima vez eu vou questionar
Na segunda eu começo a agir
Só mais duas horas pra eu decidir


Não deixe nada pra depois, não deixe o tempo passar
Não deixe nada pra semana que vem
Porque semana que vem pode nem chegar
Pra depois, o tempo passar
Não deixe nada pra semana que vem
Porque semana que vem pode nem chegar


Esse pode ser o último dia de nossas vidas
última chance de fazer tudo ter valido a pena
Diga sempre tudo que precisa dizer
Arrisque mais, pra não se arrepender
Nós não temos todo o tempo do mundo
E esse mundo já faz muito tempo
O futuro é o presente e o presente já passou
O futuro é o presente e o presente já passou

Nada pra depois, não deixe o tempo passar
Não deixe nada pra semana que vem
Porque semana que vem pode nem chegar
Pra depois, o tempo passar...

sexta-feira, 19 de julho de 2013

LAÇOS E ABRAÇOS



LAÇOS E ABRAÇOS

19 horas pontualmente estaciona o táxio na frente de casa. Junto as malas e vou a seu encontro e partimos ruma a rodoviária. Naturalmente ansioso, já havia abraçado meus pais no aguardo do táxi, pois parece que sempre falta um pouco mais, um pouco mais de abraço, um pouco mais de presença, um pouco mais de carinho, um pouco mais de vida. Partimos. Até hoje não entendo porque meu pai é tão apegado àquele sítio, eles praticamente mudaram pra lá, fica um pouco distante de tudo, talvez seja isso, conseguir roubar um pouquinho desse tempo louco que evapora a cada respiração no inverno, assim, feito fumaça, então roubar um pouco desse tempo pouco e guardar num lugar distante, isolado, fora do alcance do próprio, do vento e dos cobradores de imposto dos possuidores de tempo, como meu pai...começamos uma longa e silenciosa conversa enquanto saíamos do esconderijo de meu pai. Contou-me de seu filho, único e agora casado e uma filhinha. Felicitei-o pela neta. Falávamos de laços de família, da importância e da dificuldade de se encontrar uma zona tranquila de entendimento, mas não. Pais e filhos, uma eterna zona de conflito. Assim foi com seu filho, contou-me que ele decidiu ir morar na capital, tinha arrumado um emprego, cujo salário era pouco mais que o  mínimo, ele tentou alertar o filho da dificuldade que seria, pois o salário era pouco para morar numa cidade grande, mas seu filho achou que ele o estava protegendo, não querendo que ele conquistasse o seu mundo. Passado um tempo, me revelou o taxista, seu filho ligou chorando, dizendo que estava difícil...buscou a nora e a neta para morar na sua casa, enquanto o filho insistia no sonho, no trabalho, mas agora com os laços refeitos, um novo e aberto diálogo de pai filho,e mais que isso eu disse, uma cumplicidade de amigos. Rimos de outros assuntos, anoite estava clara e estrelada, entre risadas e olhando para o ceu lembrei de mimha sobrinha me pegando pela mão e querendo sair para rua a noite para ver as estyrelinhas...Chegamos na rodoviária. nos despedimos e seguimos com nossas vidas.


ps. o título do 'conto' e do post foi inspirato ou pego de um comentário no meu blog da amiga prof. Graça do blog Anjo de Prata.



quarta-feira, 17 de julho de 2013

QUASE TODOS OS DIAS



ainda Emily Dickinson
traduzida por Ivo Bender



CASULO

A quem pertence esta casa terrosa?
Tabernáculo ou tumba,
Ou domo de um verme,
Ou varanda de um gnomo,
Ou catacumba de algum elfo?


Quase todos os dias, em vão tento superar esta perda, tento perdoar, esquecer, seguir adiante, mas não consigo, teu olhar duro para o amanhã e este olhar de incerteza de agora, e sinto no fundo do meu coração que não faço parte do teu destino, teu caminho, nunca teremos uma interseção, muito menos uma encruzilhada. Nada passou de um sopro equivocado do destino, passando pelas mãos do mal agouro, mal olhado, mal educado...então a partir daí quase todos os dias tento em vão superar esta perda.

Tuas mãos transparentes, tua cegueira para me ver caminhando contra o Sol, na noite escura sem Lua, no caminho sem cruza-lo, sem te dizer adeus...feito dois bichos ariscos, nos escondemos atrás de arbustos, com medo um do outro, mas, ariscos não sairiam de seus matinhos até que o mundo acabasse, até que o amor não existisse, até que a vontade de agarrar tuas mãos transparentes e vazias e enche-las de cores e de minhas mãos.

Acordei e não acreditei, era antes da hora, como se o tempo ainda não começasse a existir...mas iniciou, assim que coloquei os pés no chão, olhei pela janela e havia sol e chuva e girassóis por todo o campo, que é a visão que tenho do meu quarto, do meu fim e infinito. Os campos em flor, cavalos alados pastam e voam e sonham, que são meninos perdidos em busca de um sonho. O céu esta completamente azul anil azul liberdade, sonhando, acordei.



ainda The Smiths

“Bigmouth...bigmouth
Bigmouth strike again
And I've got no rigth to take my place.
With the human race”