quarta-feira, 31 de agosto de 2016

FLORES AMARELAS


Senti algo tocar minha cabeça suavemente, passo a mão e é uma flor de ipê amarelo. Olho para cima e estou sob uma imensa árvore cheia de flores amarelas, que já salpicavam o chão, uma sensação de estar em outro lugar que não ali, naquela cidade maldita, com seus casarões assombrados e calçadas sem fim e sem terra. Pois estou debaixo da maior árvore de ipê amarelo que encontrei até hoje. Faço uma oração e peço a Deus que arranque esta maldição da cidade, de meu coração, que as flores que brotarem nesta primavera, embora estejamos no inverno ainda, sirvam para mudar a sintonia deste lugar, e dizer ao meu coração que aqui também é meu lugar no mundo. Que se esqueça o sangue que aqui já lavou o chão mais de uma vez. Parado e olhando para cima, fiquei em estado de graça, encantado com tanta flor, com o gigantismo da árvore. O menino que nunca abandonou meu coração se abraça na imensa árvore, sintonizando todo o amor perdido e escondido nestes tempos de medo, de morte e cólera.
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Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

By Carlos Drummond de Andrade


sexta-feira, 26 de agosto de 2016

ECOS HISTÓRICOS


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E lá estou eu surpreso outra vez na frente da televisão, um telejornal, estava almoçando quando ouvi a palavrar escravidão, não sei se trauma por ser negro, ou estar morando numa cidade que atravessou a escravidão, que possui sua marca em muitos velhos, antigos casarões. Quando caminho pela cidade, penso ouvir gemidos vindos dos porões, o sangue negro que escorre pelas frestas do porão chegando a calçada. Paro o delírio. Trabalhadores paraibanos com dívida com outros dois paraibanos, se submetiam a trabalhar para cobrir esta dívida, que só fazia aumentar, e os trabalhadores eram obrigados, maltratados e impedidos de sair, ou seja, escravos. Sempre penso quando isso começou, que motivação. Que o ser humano pode ser muito sórdido, todos sabemos, a história nos mostrou, e no mundo que vivemos, sabemos disso toda hora. Historicamente Cristóvão Colombo chegou a ser preso por fomentar o tráfego de escravos em seus navio, uma mancha que macula a imagem desse desbravador do mundo. Mas não se sabia que haviam quatro sócios por trás, todos judeus convertidos ao cristianismo que financiaram e manipularam Cristóvão a pegar Índios nas Antilhas e vender como escravos para a Espanha. Estava instaurado o comercio de homens como se fossem mercadorias. Soube também em leituras que a famosa Companhia das Índias em sua maior parte os sócios proprietários eram judeus. Não me deu ódio, pois continuo amando a literatura do saudoso imortal Moacir Scliar, por exemplo. Jesus era judeu...e nesta brincadeira de quem começou, ou quem é culpado, ou o autor do blog delira, ou...cento e cinquenta milhões de negros morreram na mais longa escravidão da história, e o Brasil foi o último país a abolir esta prática, o que não impediu de os negros migrarem da senzala para as favelas. Acabei meu almoço, desliguei a televisão, e voltei para meu trabalho, caminhando por estas ruas, por estes casarões, por estas memórias e perceber que o tempo passou, mas a prática má do homem sobre o homem persiste até os dias de hoje. Vale para sabermos e não repetirmos nem um holocausto...que o ser humano siga livre.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

DEUS ME PROTEJA

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REZA

Deus me proteja da sua inveja
Deus me defenda da sua macumba
Deus me salve da sua praga
Deus me ajude da sua raiva
Deus me imunize do seu veneno

Deus me poupe do seu fim

Deus me proteja da sua inveja
Deus me defenda da sua macumba
Deus me salve da sua praga
Deus me ajude da sua raiva
Deus me imunize do seu veneno

Deus me poupe do seu fim

Deus me acompanhe
Deus me ampare
Deus me levante
Deus me dê força

Deus me perdoe por querer
Que Deus me livre e guarde de você

Deus me acompanhe
Deus me ampare
Deus me levante
Deus me dê força

Deus me perdoe por querer
Que Deus me livre e guarde de você

Deus me perdoe por querer
Que Deus me livre e guarde de você

Deus me livre e guarde de você
Deus me livre e guarde de você

by Rita Lee

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

MUNDO REAL. SILÊNCIO.




Caminhando lentamente sobre uma tábua, com uma espada nas costas e o mar em frente. Tão lento quanto os passos fúnebres antes da forca. Suave e lento com uma noiva que sobe ao altar na esperança de um amor eterno, ou não. Descendo a ladeira feliz a caminho de casa, meu casulo. Subindo lentamente, onde o coração e o cérebro se juntam em oração, para que o dia seja de paz e harmonia. As pernas não cansam ao subir, ao descer a ladeira, apenas a mente que não se deixa poluir, que não sofre, aprecia a nuvem que acompanha protegendo do Sol quente...a nuvem se afasta quando esfria o Sol, iluminando meu caminho, dando leveza aos meus passos, meus atos e humores. Adormece a língua para não falar bobagens, meu grande pecado. Quando falo A, chega aos outrosouvidos Z. Silêncio.

Silêncio nem aqui nem na Síria, enquanto me preocupo com meu umbigo, bombas explodem e matam pessoas inocentes, as crianças ilhadas, sem água ou comida, apenas explosões. Deus tenha piedade destes pequenos inocentes, já sem pais, sem casa, sem destino. Pois o mundo se fecha em cercas, muros, separações. Enquanto todos fecham os olhos para não verem, tapam os ouvidos para não ouvirem os gritos de  dor e socorro , fecham a boca     para não denunciarem a dor e o sangue que escorre pelas ruas, ladeiras e as casas destruídas com seus moradores dentro. Aqui crianças também sofrem, empilhadas em abrigos, porque a ignorância pede   bebes lindos e loiros para adoção, enquanto os demais são esquecidos, até completarem 18 anos e serem jogados na rua. Meu pequeno mundo egoísta não é nada perto deste mundo real.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

VONTADE



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CORTAR O TEMPO




Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente…

 


by Roberto Pompeu de Toledo 

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

SE ARREPENDIMENTO MATASSE...




A primeira vez ela disse que não gostava de mim, e somos apenas colegas de trabalho na mesma sala. Me senti tão mal com aquelas palavras que pedi uma licença imediatamente e fui refugiar-me no colo de minha mãe. Quanto a gostar é algo que não se escolhe, acho que é uma empatia, ter o coração e alma leves, ser profissional e não se manifestar assim, no âmbito de trabalho. Primeiro o respeito, ninguém é obrigado a gostar de ninguém. Superei, superamos, passados alguns meses, quase um ano. Quando da segunda vez ela me disse que não falava comigo, não falaria. Quebrou-se pra mim qualquer possibilidade de convivência, no trabalho, na mesma sala. Ninguém é obrigado a conversar assuntos diversos, que não assuntos de trabalho, no trabalho. Novamente, precisei me afastar. Outra licença. Pedi para minha chefa que quando voltasse não gostaria de ter de dividir a sala...fui novamente para o colo de minha mãe, que não conseguia entender, como alguém diz isso para seu filho, que é tão amado por ela, quase o melhor, não fossem os irmãos. Quando retornei da licença foi feito um arranjo, na falta de espaço, repartiram a sala com armários de metal. De um lado meu material de trabalho, um micro e um balcão, já que meu trabalho é protocolo e informações. Do outro lado todo o resto, algo entre uma cozinha e um cartório. O que deve ter sido feito com o consentimento de chefias superiores, veja só meu desprestígio por aqui. Na pior da hipóteses, pela falta de espaço, era o que se podia fazer. Quando me transferi para esta pequena cidade do interior, cheguei cheio de esperanças, afinal, as pessoas do interior, como eu, são boas, ledo engano. Assumi uma vaga que havia, sou concursado, e me parece que tomei o lugar de alguém, que não gostou, não gosta de mim e não fala comigo. Tenho falado em silêncio nos últimos posts, e assim estou, mas me alegro em atender as pessoas que aqui chegam e falar com elas, informar. Por vezes tenho medo de uma conspiração contra mim, falar mal, me desqualificar, mostrar um ser ruim que não sou, não completamente, afinal sou humano, sujeito a humores como todo mundo. Tem minha paranoia também, como sou relativamente novo por aqui, e esta colega ser uma senhora que esta aqui desde sempre, embora eu tenha meio século, fico em desvantagem e chego a perceber a indiferença de alguns, bem próximos dela. Não a odeio, tenho pena. Mil pedaços foi o que restou de um quase belo coleguismo, de colaboração em prol do trabalho. Arrependimento permanente, li num post no blog CAOS da blogueira Helena, e assim defino e permaneço por aqui, engolindo choro quando vem, porque vem, ponderando meu sorriso e comentários com as pessoas que me chegam, para evitar de serem destorcidos contra mim. Acho que a vida é assim mesmo, encontramos pedras pelo caminho, no meu caso uma rocha, mas devemos seguir honestamente nosso caminho. Eu estou tentando não ser engolido por esta nuvem negra que insiste tapar meu Sol. Se arrependimento matasse...




ps. hoje eu precisava desabafar, como meu terapeuta está de férias, meu blog o substitui.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

COISAS DA NATUREZA ?




Até ontem era muito frio, hoje acordei com um Sol brilhando no céu azul, e tive a nítida impressão que não havia acordado e que estava num lindo sonho dourado, mas ouvi o latido da cachorrinha Mel, somos separados por dois apartamentos. Então pensei, a Mel não pode estar no meu sonho dourado, e sim meu cão Teimoso. Não estava dormindo, o dia se mostrou belo e calmo, apesar das instituições, quase todas, paralisarem por falta de pagamento, ou faltando uma grande parte, enfim, nossa eterna politicagem, onde só quem perde é o trabalhador.
Mas não podia deixar de aproveitar este lindo dia...quando sai para rua tive a plena certeza de que seria um dia bom, mas o meu primeiro bom dia foi quando cheguei no trabalho, por mais incrível que pareça, pois é o lugar que mais exerço o silencio...após o bom dia, silêncio.
E assim seguiu o dia, lindo, silencioso e estranhamente quente para o inverno rigoroso em que atravessamos. Coisas da natureza, ou, o resultado do mal tratamento que damos a ela. Até ontem era frio, sobre amanhã ainda não pensei. Hoje estou vivendo, na busca da harmonia comigo e com a natureza.