EU ESTOU SÓ
Eu falo de quem fala de quem fala que estou só
Eu sou apenas um pequeno ruído eu tenho vários em mim
Um ruído amassado gelado na intersecção das ruas
despejado no pavimento húmido aos pés dos homens
precipitados correndo com as suas mortes
À volta da morte que estende os seus braços
Sobre o relógio sozinho respirando ao sol.
by Tristan Tzara, in L'Homme approximatif
Sou um
poema dadaísta, dentro de um envelope sou misturado e jogado
em uma folha branca, eis-me aqui, um poema dadaísta. Um tanto
confuso, mas livre das obrigações sociais impostas.
Jung me disse que mesmo em terapia é preciso deixar e abrir a
porta da vida e viver, sem remédios sem consultas médicas,
deixar apenas a vida acontecer naturalmente...aconteceu e saí para a
rua e haviam muitos caminhando a passos lentos. Com expressão
séria no rosto e punhos cerrados e erguidos para o céu,
segui junto. De novo seguindo as convenções sociais,
mas não havia como lutar contra a correnteza humana. Talvez
alguns mercados e lojas sejam saqueados. Tenha também
confronto com a polícia e entre os próprios que seguiam
em passeata. Aos poucos percebi que deveria estar ali também,
já não conseguia mais ir ao mercado, mesmo trabalhando,
pensei nos assalariados com famílias para sustentar...eu sou
só, minha obrigação é comigo mesmo.
Seguia a passeata sem rumo, ou rumo a um precipício. Lamúrias
e protestos, indignação e fome se confundiam.
Maltrapilhos muitos estavam, eram muitos, somos milhões
marchando contra as pessoas que nós mesmos elegemos. Mas o que
fazer se é dado um poder extraordinário a seres
ordinários ? Uma vez me gritou Erich Fromm. O resultado é
Brasília, mas como efeito cascata, as capitais, chegando até
nós através dos municípios. Aos poucos começo
a entender esta caminhada sem destino. Começo a entender a
morte adentrando e caminhando lado a lado, levando todos ao
precipício final. Sentia sua mão fria tocando a minha,
quando então tudo fez sentido ou nada, mas queria morrer. Este
é um país de aparências, posses, poder, tudo tão
distante de mim, por que não atender este pedido da morte?
Porque não, porque não. Viver ainda é a ordem,
se não tenho poder, não tenho grana, e pareço um
fracasso para os que me rodeiam, eu não posso fazer nada, a
não ser viver, deixar esta caminhada sem fim e retornar para
casa, abraçar minha mãe, ler poemas e voltar a escrever
no meu blog.