terça-feira, 27 de outubro de 2015

BANDOLINS

 
 
Bandolins
 
 
Como fosse um par que nessa valsa triste
Se desenvolvesse ao som dos bandolins
E como não e por que não dizer
Que o mundo respirava mais se ela apertava assim
Seu colo e como se não fosse um tempo
Em que já fosse impróprio se dançar assim
Ela teimou e enfrentou o mundo
Se rodopiando ao som dos bandolins

Como fosse um lar, seu corpo a valsa triste iluminava
E a noite caminhava assim
E como um par o vento e a madrugada iluminavam
A fada do meu botequim
Valsando como valsa uma criança
Que entra na roda, a noite tá no fim
Ela valsando só na madrugada
Se julgando amada ao som dos bandolins

by Oswaldo Montenegro

terça-feira, 20 de outubro de 2015

AMOR E MORTE

 

 

soneto do amor e da morte

quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.

quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não

tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

EXTREMOS


Extremos. No Norte calor de deserto, seca. No Sul, tempestades, chuva e rios transbordando. Um país continental como este podemos destacar nitidamente os extremos. A calamidade é de norte a sul. Podemos ver bons exemplos de solidariedade, humanidade, amor ao próximo e podemos ver o outro extremo da maldade humana.



Com a seca cada vez pior no norte do país, acontecem queimadas, embora seja um hábito da agricultura deste país, um mal hábito; pois as queimadas para a agricultura quase sempre fogem ao controle, queimando tudo que está a seu redor. E o pior. O pior eu vi num telejornal, pois foram negadas para venda lotes de terra da Amazônia, e os interessados nas terras, não satisfeitos com o não, colocaram fogo de propósito. Perdi a respiração, e a indignação me tomou. Como pode o homem ser tão mesquinho, tão ganancioso, tão mal, que não percebe que esta fazendo uma guerra contra si, contra todos nós ?

No sul, tempestades de granizo, muita chuva, ventos e as águas dos rios invadindo as cidades. Todos se mobilizam, é bonito de ver, o ser humano sendo humano e ajudando o próximo, lonas, telhas, roupas e comidas para os muitos desabrigados...então eu percebo no facebook, que o que está sendo doado, está sendo cobrado, com publicidade, políticos se fazem presentes quando a televisão está presente, mas o pior é a ganância das pessoas, com a desorganização para atender os necessitados, muitos que não precisavam, tomavam o lugar de quem estava na rua, sem nada, jovens corriam na frente de idosos, pegavam, levavam e repetiam...muitos que precisavam, que precisam, ficaram sem.

Extremos. Esta é nossa capacidade enquanto ser humano, se aproveitar, uma ganância gigante, que podemos ver nos nossos políticos na capital do país.

Às vezes sinto vergonha de ser humano, às vezes sinto vergonha do ser humano.

 

NETUNO


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

SÚBITO, APAGARAM-SE AS LUZES





               Súbito, apagaram-se as luzes. Um raio. Um estampido. Escuridão. Morrissey sorria, rodopiando e chamando o Armagedon...esta imagem dilui-se no inconsciente, enquanto lutava consigo. Seguir ou parar, e sem piedade as bolas de gelo caíam do céu.
               Fazer uam oração, pedir  à Deus proteção, que cuidasse dos entes amados que moravam longe, mas Deus não é naja Caio F., e podemos escolher, pensou, independente da história de vida, das escolhas feitas, dos amores perdidos.
               Vento e escuridão rasgados por relâmpagos...bolas de gelo, venha Armagedon, ensaiou um cantar rosnado, enrolado nas cobertas, percebendo lá fora o vento e a solidão.
               Desistia do instante, entregava-se a Orfeu sem lembrança, sem infância, sem inocê, sem amor. Enquanto lá fora os gritos sombrios da tempestade, dentro do coração transbordava, e afogados dançavam a marcha fúnebre. Em cinco minutos...adormeceu enquanto o mundo acabava, mas só ouvia uma perdida canção...

Come, Come, Come - nuclear bomb
Everyday is like Sunday
Everyday is silent and grey
Trudging back over pebbles and sand
And a strange dust lands on your hands
(And on your face...)
(On your face ...)
Everyday is like Sunday
"Win Yourself A Cheap Tray"
Share some greased tea with me
Everyday is silent and grey
 
by Morrissey
 
 
 


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

CARTA PARA BRISONMATOS




                Já havia pensado nisso antes, mas depois de teu primeiro comentário no meu blog, que eu deletei, voltei a pensar em tirar o comentário, estou experimentando com planetas. Gostaria de te chamar de querido, mas não consigo, tua presença me faz mal. Haters, agora só consigo te imaginar sendo um. Dando uma olhada nos comentários que deixastes por aqui, percebo o quanto és infeliz, mente fechada, muito ódio no teu coração. Teu primeiro comentário deletei, por impulso, depois fui lendo e tentado entender o porque daquelas palavras ditas para mim no meu blog...cheguei a me render, achando que eras um ser do bem, um dos comentários gostei tanto que usei num post. Mas teu ódio gritou mais alto. Como tenho e quero o amor, preciso me afastar de ti. Eu amo os comentários, e amo comentar o comentário, mas sinceramente, depois de ti reacendeu em mim um desejo mórbido de cortar de vez os comentários no meu blog, talvez estejas me fazendo um favor, talvez esteja acabando comigo.
                A vida nunca foi fácil para mim, só para te dar um exemplo, para eu poder cursar Direito, precisei passar duas vezes no vestibular, não tinha dinheiro para a matrícula, melhor, a matrícula era maior que meu salário, na segunda vez um chefe meu disse que pagaria se eu passasse. Eu passei, ele pagou e consegui bolsa para fazer o resto do curso.
                Eu sempre amei televisão, desde que me conheço por gente, onde morava minha família foi a última a poder comprar uma TV, antes olhava na casa de vizinhos.
               Acredito que conquistei um espaço, pequeno, mas meu...de origem humilde, meus pais sempre me educaram, e a educação que tive sempre me abriu portas. Sabe Brisonmatos, desde quando apareceu em minha vida blogueira, eu me sinto mal só em perceber que me visitastes, e normalmente depois de ler teu comentário eu me pergunto: o que eu fiz a esta criatura que insiste em me perseguir com comentários infelizes ?
               Para não ter que me perguntar mais, penso seriamente e acabar com os comentários, graças a ti Brisonmatos, então Brisonmatos, adeus.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

COMO UM FANTASMA

 
Solitário

Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!

Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos contorta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
- Velho caixão a carregar destroços -

Levando apenas na tumba carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
 
 
by Augusto dos Anjos
 

VÊNUS


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

JÁ NÃO HÁ TEMPO

 
 
Em el último sueño

mi padre ya
no estaba enojado
sonreía y me abrazó.
yo quise decirle papi
te quiero y no me
salieron las palabras.
él me dijo no importa
yo entiendo.

mi madre estaba sentada,
fuera de cuadro.
tenía un vestido azul
(aquél, tan bonito)
y sonreía.

después me fui a caminar
por aquella calle,
donde las casuarinas.
by Silvia Zappia
 
 
 
Caminhando pelos corredores perdidos do tempo, tirava a mão do bolso com o poema direto aos olhos e repetia. Como um mantra aquelas palavras que ao mesmo tempo não fixavam na memória, não saia de sua cabeça, aquele começo “mi padre no estaba enojado sonreia y me abrazó” trazia o pai quando era pequeno, o pai ainda forte, os músculos trabalhados no serviço pesado que exercia, não tirava o encanto de super-herói. De volta ao bolso. Os longos corredores eram interrompidos por portas, que precisava abrir, passar e fechar. Quase ninguém encontrava nesta caminhada, salvo raras exceções, algum bom dia silencioso, quase impronunciável, como se o silêncio fosse preciso. Estaria morto como seu pai, porém ainda vivo. Os silêncios, a solidão daqueles corredores, a falta de olhares, lhe traziam paz e esperança. Não estava separado do pai pela morte, mas pela vida que o mantém aqui. “ yo quise decirle papi te quiero y no me salieron las palabras”. Parado à beira da escadaria que o levará para rua, fecha os olhos e sente todos os mortos que lhe fazem falta em vida. Talvez fosse isso dito, uma vez, numa sessão espírita, que deixasse os mortos em paz, e não conseguiu entender, somente quando ouvia um disco no quarto, seu favorito que nunca parava de tocar, era o último do artista morto de uma doença letal. Os passeios pelos cemitérios na adolescência, tudo vinha como uma enxurrada, nunca conseguira desistir de verdade de morrer, mas não conseguiu evitar que todos morressem, como num desfile sombrio e triste, todos, por último o pai que o acena passando pela porta. Desce as escadas correndo, já não há tempo, já não há pressa para viver. No último lance de escadas, antes de tomar a porta da rua, coloca a mão no bolso...”después me fui a caminar por aquella calle...”

 

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

PARA SEMPRE CAIO FERNANDO ABREU




SONHO

 
          Teve um sonho , então. O primeiro que conseguia lembrar desde agosto.
          Chegava num bar com mesas na calçada. Ele morava num apartamento em cima daquele bar, no mesmo prédio. Estava aflito, esperava um recado, carta, bilhete ou qualquer presença urgente do outro. Sorrindo na porta do bar, um rapaz o cumprimentou. Não o conhecia, mas cumprimentou de volta, mais apressado que intrigado. Subia escadas correndo, ofegante abria a porta. Nenhum bilhete no chão.
          Na secretária, nenhum recado na fita. Olhou o relógio, tarde demais e não viera. Mas de repente lembrou que aquele rapaz que o cumprimentara sorrindo na porta do bar lá embaixo, que aquele rapaz moreno que ele não reconhecera – aquele rapaz era o outro.
          Não vejo o amor, descobriu acordando: desvio dele e caio de boca na rejeição.



ps. extraído do conto Depois de Agosto, publicado no livro Ovelhas Negras de Caio Fernando Abreu