segunda-feira, 4 de abril de 2016

UM RUÍDO AMASSADO



EU ESTOU SÓ


 

Eu falo de quem fala de quem fala que estou só

Eu sou apenas um pequeno ruído eu tenho vários em mim

Um ruído amassado gelado na intersecção das ruas
 
despejado no pavimento húmido aos pés dos homens
 
precipitados correndo com as suas mortes

À volta da morte que estende os seus braços

Sobre o relógio sozinho respirando ao sol.






by Tristan Tzara, in L'Homme approximatif

(tradução de Tiago Nené)



Sou um poema dadaísta, dentro de um envelope sou misturado e jogado em uma folha branca, eis-me aqui, um poema dadaísta. Um tanto confuso, mas livre das obrigações sociais impostas. Jung me disse que mesmo em terapia é preciso deixar e abrir a porta da vida e viver, sem remédios sem consultas médicas, deixar apenas a vida acontecer naturalmente...aconteceu e saí para a rua e haviam muitos caminhando a passos lentos. Com expressão séria no rosto e punhos cerrados e erguidos para o céu, segui junto. De novo seguindo as convenções sociais, mas não havia como lutar contra a correnteza humana. Talvez alguns mercados e lojas sejam saqueados. Tenha também confronto com a polícia e entre os próprios que seguiam em passeata. Aos poucos percebi que deveria estar ali também, já não conseguia mais ir ao mercado, mesmo trabalhando, pensei nos assalariados com famílias para sustentar...eu sou só, minha obrigação é comigo mesmo. Seguia a passeata sem rumo, ou rumo a um precipício. Lamúrias e protestos, indignação e fome se confundiam. Maltrapilhos muitos estavam, eram muitos, somos milhões marchando contra as pessoas que nós mesmos elegemos. Mas o que fazer se é dado um poder extraordinário a seres ordinários ? Uma vez me gritou Erich Fromm. O resultado é Brasília, mas como efeito cascata, as capitais, chegando até nós através dos municípios. Aos poucos começo a entender esta caminhada sem destino. Começo a entender a morte adentrando e caminhando lado a lado, levando todos ao precipício final. Sentia sua mão fria tocando a minha, quando então tudo fez sentido ou nada, mas queria morrer. Este é um país de aparências, posses, poder, tudo tão distante de mim, por que não atender este pedido da morte? Porque não, porque não. Viver ainda é a ordem, se não tenho poder, não tenho grana, e pareço um fracasso para os que me rodeiam, eu não posso fazer nada, a não ser viver, deixar esta caminhada sem fim e retornar para casa, abraçar minha mãe, ler poemas e voltar a escrever no meu blog.

8 comentários:

  1. #aiaiai, esse J ! Com esse seu olhar para um dos lados ... as coisas sempre tem tres lados ! Há de sermos felizes no simples, no pouco. A beleza está em todo lugar, as vezes numa dobra de galho de árvore com musgo seco, que a chuva faz reviver quando cai. Há beleza nesse mundo, e quando há beleza, quando a gente consegue enxergá-la, há esperança, e se há esperança, há vida, há bondade, há sorriso. #mudeessaenergia ! Politicamente falando, as coisas vão andar devagar, não espere muito, pois além de muita beleza, há muita escuridão e maldade nesse mundo também. Abraço !

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    1. Meu muito querido amigo Marcos Campos...já gostei do começo, me chamou de J. Realmente não estou no meu melhor momento, aliás, boa parte dos mais de 200 milhões de brasileiros. Já devia estar acostumado, sempre fui pobre, mas nestes tempos devastadores senti a realidade que me cerca e para piorar estou nesta cidade que não me cativou nem eu a ela, e as pessoas, que agora começam a me ver de forma legal, eu também, mas não o suficiente para me amparar, como ocorreu no pior dia deste ano, o final do mês passado, sorte a minha meus amigos da outra cidade, enfim...deixando a coisa material de lado, como se fosse possível, tens toda a razão, precisamos de beleza para viver e beleza não é preciso comprar, basta ver com o coração, então surge a esperança...obrigado meu amigo, por comentário tão edificante e libertador. Carinho respeito e abraço.

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  2. Olá, Jair!
    Seu grito é o nosso grito sufocado na garganta!
    A origem é Brasília,mas, se revolvermos o calçamento sob nossos pés, veremos surgir muitas "Sucupiras" dominadas por muitos "Bem-Amados".
    O desânimo e a impaciência coça as mão de homens como nós, de almas calejadas, agredidas no cerne desde a infância, quando lá no passado, a patriótica professorinha, em dias festivos de nossa Pátria, emocionada cantava conosco, o nosso Hino!
    Foi lá que brotou o que hoje, envergonhados, relutamos a esquecer para sempre: o orgulho, a ética, o amor incondicional ao nosso País! Você não está só!
    Um forte abraço!

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    1. Meu caríssimo VitorNanny, saiba o quanto alivio e paz e compreensão tuas palavras me trazem. É o resultado de um tudo, de um tudo de mal que fizeram a nossa Nação, estes senhores que lá estão para nos representar, trabalhar para um Estado de Direito, mas não, só vemos ganância, roubalheira, falta de respeito na saúde, na educação, na economia...sinto-me envergonhado, mais envergonhado ainda por permitir que estes fatos afetem minha condição psicológica, que afete meus escritos que gosto tanto de produzir e colocar em meu blog. Bom saber de ti que não estou só, pois esta é a sensação que tenho, que sou o único a ser destruído por esta avalanche de falta de caráter, e como a corda arrebenta no lado mais fraco, logo me vejo despencando ladeira abaixo. Mas precisamos ser fortes, preciso encontrar minha força e lutar em pé, pois não vislumbro melhora nos próximos tempos. Obrigado meu amigo, muito obrigado por palavras tão fortes e sinceras, que me encheram de esperança e força. Carinho respeito e abraço.

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  3. Se és o dadaísta poema
    E então mundo te carrega
    Esqueça esse esquema
    Saiba que sou teu colega.

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    1. Meu querido amigo Jair Lopes, senhor de todas as palavras, principalmente aquelas que minha alma necessita, que dentro deste teu mundo de criação consegues ver e iluminar minhas dúvidas, estender a mão e me fazer sentir seguro, acompanhado e feliz. Como permanecer nesta treva que eu mesmo criei se existem amigos como tu, cheio de luz ? Obrigado meu amigo, muito obrigado. Carinho respeito e abraço.

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  4. Olá Jair, meu parente Brasileiro!

    Vamos lá se fortes, nada de curvar os joelhos numa ameaça de queda. Estamos numa fase em que nada de belo se apresenta à nossa vista - parece que só o mal prolifera. Mas, chegará um tempo em que há-de parar esta situação, que tem alastrado como trepadeira em parede acolhedora, por grande parte do mundo.
    Individualmente todos nós vivemos casos que nos afectam negativamente, e quantas vezes sossobrâmos e pensamos ser melhor desistir - desistir de tudo,não ouvir nada nem ninguém, e adormecer. Mas adormecer de modo total, não acordar nunca mais, desistir da vida...
    Puro engano, Jair... Enquanto houver vida podemos contornar os obstáculos,primeiro; e depois livrarmo-nos deles, é tudo questão de tempo. O amanhã não amanhece eternamente escuro e chuvoso, pode demorar mas o sol voltará. É assim também connosco, a esperança não pode ser uma palavra vã; vamos prender-nos a ela com fé.
    Jair, já reparou nos amigos Brasileiros que lhe dão estima? Com amigos assim não pode perder a coragem.
    Eu também sou amiga, mas estou muito longe, o mar é um obstáculo intransponível, (e os céus também) para mim.
    Abraço, da Dilita.

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    1. Minha mui querida amiga Dilita, minha parente de além mar...acertas nas palavras deixadas aqui e fico feliz por dar esta importância para mim, assim como meus amigos brasileiros, como dissestes. O tempo não está bem para ninguém, pelo menos uma maioria, e é pelo mundo todo, mas minha situação aqui no Brasil é caótica e desesperadora, deves ver algo na imprensa internacional, e como a corda arrebenta no lado mais fraco, cá estou eu dependurado à beira de um abismo, um abismo onde tudo se confunde, solidão, falta de grana, desesperança e um medo horrível de não acontecer o outro dia, mesmo que chuvoso, mesmo escuro...estou a me agarrar nas tuas palavras, pois o Sol pode demorar, mas há de aparecer e me aquecer. E vou prender-me a esperança com fé, acredito em Deus, e começo a acreditar na minha força de vontade, graças ao carinho que recebo neste mundo meio maluco que é a internet, mas tão profundo e verdadeiro quando encontramos os amigos certos. Obrigado minha amiga Dilita, que vive tão longe de mim, mas já tem moradia no meu coração. Carinho respeito e abraço.

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