sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

AFOGAVA-ME

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Ana Cristina Cesar

FINAL DE UMA ODE

Acontece assim: tiro as pernas do balcão de onde via um sol de inverno se pondo no Tejo e saio de fininho dolorosamente dobradas as costas e segurando o queixo e a boca com uma das mãos. Sacudo a cabeça e o tronco incontrolavelmente, mas de maneira curta, curta, entendem? Eu estava dando gargalhadinhas e agora estou sofrendo nosso próximo falecimento, minhas gargalhadinhas evoluíram para um sofrimento meio nojento, meio ocasional, sinto uma dó extrema do rato que se fere no porão, ai que outra dor súbita, ai que estranheza e que lusitano torpor me atira de braços abertos sobre as ripas do cais ou do palco ou do quartinho. Quisera dividir o corpo em heterônimos – medito aqui no chão, imóvel tóxico do tempo

by Ana Cristina Cesar.

ela quis
queria me matar
quererá ainda, querida?

Queria falar da morte
e sua juventude me afagava.
Uma estabanada, alvíssima,
um palito. Entre dentes
não maldizia a distração
elétrica, beleza ossuda
al mare. Afogava-me.

by Ana Cristina Cesar

4 comentários:

  1. "O tempo fecha.
    Sou fiel os acontecimentos biográficos.
    Mais do que fiel, oh, tão presa! Esses mosquitos
    que não largam! Minhas saudades ensurdecidas
    por cigarras! O que faço aqui no campo
    declamando aos metros versos longos e sentidos?
    Ah que estou sentida e portuguesa, e agora não
    sou mais, veja, não sou mais severa e ríspida:
    agora sou profissional."

    Ana Cristina Cesar

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  2. "Também eu saio à revelia
    e procuro uma síntese nas demoras
    cato obsessões com fria têmpera e digo
    do coração: não soube
    e digo da palavra: não digo (não posso ainda acreditar na vida) e demito o verso como quem acena
    e vivo como quem despede a raiva de ter visto."

    Ana Cristina Cesar

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  3. Assustador esses escritos de Ana Cristina.
    Desejo um bom fim de semana.
    Abraço
    Olhar d'Ouro - bLoG
    Olhar d'Ouro - fAcEbOOk

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    Respostas
    1. Gosto de poetas suicidas, meio mórbido rss, mas tou nesta vipe, e os escritos da Ana Cristina Cesar me dizem muito para minha alma, quando estou a perigo, como agora. Obrigado querido amigo por tua nobre presença. Carinho respeito e abraço.

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