quinta-feira, 20 de agosto de 2009

QUANDO A COR DA PELE DEIXARÁ DE FAZER A DIFERENÇA ?


"A prisão era pequena e minava água por todos os lados. As paredes estavam pichadas. A gente sentia um calor de rachar. O ar, abafado. A impressão era de que estávamos sendo cozinhados dentro de um caldeirão. Alguns, corroídos pela sede, bebiam a própia urina. Fizemos as nossas necessidades num barril que, de tão cheio de detritos, rolou e inundou um canto da prisão. A pretexto de desinfetar o cubículo, jogaram água com bastante cal. Havia um declive e o líquido, no fundio da masmorra, se apavorou, ficando a cal. A princípio ficamos quietos para não provocar poeira. Pensamos resistir os seis dias de solitária, com pão e água. Mas o calor, ao cais das 10 horas, era sufocante. Gritamos. As nossas súplicas foram abafadas pelo ruflar dos tambores. Tentamos arrebentar a grade. O esforço foi gigantesco. Nuvens de cal se desprendiam do chão e invadiam nossos pulmões, sufocando-nos. A escuridão, tremenda. A única luz era um candeeiro a querosene. Os gemidos foram diminuindo, até que caiu o silêncio dentro daquele inferno, onde o governo federal, em quem confiamos cegamente, jogou 18 brasileiros com seus direitos políticos garantidos pela Constituição e por uma lei votada pelo Congresso Nacional." (depoimento de João Cândido, um dos mentores da Revolta da Chibata, para abolir os maus tratos recebidos pelos "marinheiros"). Este trecho foi extraído do livro de Eridan Passos, JOÃO CÂNDIDO o herói da ralé.

ps. 1. Se conhece muito bem a música de João Bosco, O mestre sala dos mares, baseada neste herói negro, brasileiro, gaúcho, natural da cidade de Rio Pardo (meu sonho de consumo).

ps.2. Lamentável o ocorrido no estacionamento do Carrefur (não gosto deste mercado), em que um homem negro espera pela esposa e o filho, junto a seu carro no estacionamento, quando seguranças do mercado abordaram-no acusando-o de ladrão, bateram nele, e o humilharam dizendo que ele só poderia ser bandido...e no entanto apenas esperava pela esposa e o filho que faziam compras no mercado. Eu lamento muito, pois sou negro, e de repente posso ser agredido por ter esta cor. Diria Joelmir Betting: ISSO É UMA VERGONHA. Pô, que país é este ?

4 comentários:

  1. sou TOTALMENTE contra qualquer tipo de preconceito! muito bom seu texto, amigo...

    abraços

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  2. Nossa, eu ví isso no jornal, senti muita vergonha. Que pena que aqui não funciona nada, porque isso foi racismo e as pessoas responsáveis por isso deveriam serem presas mesmo. É ridículo a idéia de alguém pensar que é melhor ou mais poderoso que alguém por qualquer situação de classificação.

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  3. Um país que não dá valor a uma raça que carrega em seu sangue a construção desse país. Lamentável, me envergonho quando vejo esse tipo de coisa.
    faz tempo que não apareço aqui, perdoe-me por isso.Aliás nem no meu próprio blog tenho aparecido muito. Gostei dos pots anteriores.
    Que bom que gostou do meu post sobre a família. Aquela oração caiu em minhas mãso "por acaso" em momento oportuno, também foi um puxão de orelha para mim. Ótimo dividir isso com você meu amigo. Grande abraço!

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  4. Está na moda dizer que não ha preconceitos , mentira!
    As pessoas enganam e por vezes a elas proprias!
    o preconceito existe e em todo o mundo!
    Excelente texto!

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