sexta-feira, 7 de junho de 2013

BOM DIA





Lembro dos cavalos na minha infância, sendo açoitados para puxar carroças cheias de areia. É uma lembrança triste, mas ficava intrigado com as viseiras, assim é que chamavam, que não permitia que o cavalo olhasse para os lados, só um caminho, sempre em frente. Como eu, não hoje. Diminuí meus passos, parei e retornei, precisava saber dele, fazia alguns dias que não o via, não que fosse tempo demais, nem de menos, apenas não o via e não conseguia iniciar meu ritual das manhãs, encontrar o primeiro rosto conhecido, já com um semblante receptivo, e: Bom Dia ! Ele não estava lá, parei em frente a casa e chamei, bati palma, e apareceu uma moça, que me fez um sinal para aguardar. Aguardei... as ruas morrem as casas morrem os homens se amparam em retratos ou no coração de outros homens, como dizia um velho poema de Ferreira Gullar. As pessoas costumam partir, e normalmente quando menos se espera, e mesmo quando se espera, não se espera. Assim que surge o vazio, uma cratera humanamente impossível de tapar completamente, sempre existirá um algo, um sopro, um beijo, um afago, uma memória que não permitirá preencher esta falta no peito, bem dentro, que nunca se acabará em esquecimento. Talvez o mais puro egoísmo, pois não queremos perder nunca, nunca...e neste breve instante de espera, vejo a janela, que parece ser do quarto dele. Eis que aparece um vulto, que reconheço, um pouco curvado, ar cansado, e entre as cortinas esboça um sorriso, me acena, então tenho um bom motivo para iniciar meu ritual matutino, ele me diz: Bom Dia !

Nenhum comentário:

Postar um comentário