segunda-feira, 29 de julho de 2013

MAS, PARA VIVER ?





A busca da fecalidade




Onde cheira a merda

cheira a ser.

O homem podia muito bem não cagar,

não abrir a bolsa anal

mas preferiu cagar

assim como preferiu viver

em vez de aceitar viver morto.



Pois para não fazer cocô

teria que consentir em

não ser,

mas ele não foi capaz de se dedicar a perder o ser,

ou seja, a morrer vivo.



Existe no ser

algo particularmente tentador para o homem

algo que vem a ser justamente



O COCÔ



Para existir basta abandonar-se ao ser

mas para viver

é preciso ser alguém

e para ser alguém

é preciso ter um OSSO,

é preciso não ter medo de mostrar o osso

e arriscar-se a perder a carne.



O homem sempre preferiu a carne

à terra dos ossos.

Como só havia terra e madeira de ossos

ele viu-se obrigado a ganhar sua carne,

só havia ferro e fogo

e nenhuma merda

e o homem teve medo de perder a merda

ou antes desejou a merda

e para ela sacrificou o sangue.



Para ter merda,

ou seja, carne

onde só havia sangue

e um terreno baldio de ossos

onde não havia mais nada para ganhar

mas apenas algo para perder, a vida.





-- Antonin Artaud, 1948.



11 comentários:

  1. Respostas
    1. Meu doce amigo prof. Elian, perdão pela demora, mas estive no teu blog, tou numa fase de ler (quase sempre rs), e tou enloquecido lendo uma coisa melhor ou difertente da outra, no mundo da blogosfera, e também Blogsville, tanta gente boa e interessante. Tou meio sem inspiração para escrever. Artaud traduz um pouco minha agonia com o ser humano, comigo, essa inversão de valores, este não ser que prega a mídia, e seguimos...tão bom ter tua presença, obrigado sempre amigo. Meu carinho meu respeito meu abraço.

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  2. Meu querido Bratz, sou só alegria quando te vejo por aqui, demorei um pouquinho pra comentar o comentário rs, mas foi para te curtir mais um pouco. Gosto desse dramaturgo, conheci Artaud através do teatro, uma peça que fui assistir de um amigo, o Jorge Franco, lembro que na mesma época ítalo Rossi encenava um Artaud também, a do meu amigo foi em Porto Alegre, fui assistir e delirei. Ele fez uma montagem surreal, meio absurdo como é o teatro de Artaud, algo, para mim fascimanante, e no final do espetáculo ganhei um livro do Artaud, sorteio do meu amigo rs. E ele lá pelas tantas da peça recita este poema num vaso de banheiro (será que ouvi um pum ?), também uma cena que Fabiane a atriz simula um parto dolorido,com grunhidos, assustador, uma iluminação ótima e adequada, e quando nasce a criança, cai do teto pedaços de corpo humano infantil (membros de boneca pintados de branco) dá um efeito e tanto, sendo bem executado...e este poema ficou para sempre na minha mente, a palavra merda me inibia um pouco, mas agora até em novela em horário nobre se fala, mas o que me encorajou, foi um post que li no teu blog, devo ter comentado, pois tomei aquilo como exemplo, estímulo...o que terminava com a busca da simplicidade na busca do ser amado, do par, genial aquele post. Mas, muito obrigado mesmo, por existir, por permitir que eu faça parte da tua vida, pois já está permitido a fazer parte da minha, e faz.Obrigado sempre. Meu carinho meu respeito meu abraço.

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  3. Sensacional (3)
    Abraços, caro amigo!

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    1. Meu precioso Fred, quanto prazer e alegria tua presença me traz. Te adoro aqui rs. O teatro teve um papel muito importante na minha existência, de como sou hoje, e de como me reinvento hoje também...os contatos, isso o teatro me deu, sempre fui muito tímido, mas ...e Artaud é desses mitos que conhecemos, lemos, e nos identificamos, e nos espantamos ao constatar que eles viveram em outras épocas, mas seu pensamento é para sempre, e sempre haverá ocasião de ser usado. Bom demais estares aqui querido amigo Fred. Meu carinho meu respeito meu abraço.

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    2. "Precioso" é óteeeemoooo!!! Gracias, Jairzito! E podes ter certeza que a satisfação da presença é recíproca, visse?! Muito bom contar contigo nas aventuras do TPM... hehehehehe! Hugzão, guri!

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    3. Sim tu és meu precioso rs...e nunca antes me chamaram de Jairzito, gostei. Pode contar sim, gosto do teu blog e ggosto de ti, meu precioso amigo. Carinho respeito e abraço.

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  4. OI JAIR!
    EMBORA DE UMA CRUEZA ÍMPAR, É VERDADEIRO DEMAIS.
    ADOREI TEU COMENTÁRIO LÁ NO "SÓ PRA DIZER" E TOMARA QUE TUA SOBRINHA BEBÊ, TE D~E UM LINDO SORRISO AO CANTARES OI RECITARES PARA ELA MINHA POESIA, LIÇÃO DE AMOR.
    GRATA PELO CARINHO.
    ABRÇS
    http://apenaspalavresias.blogspot.com.br/,

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    1. Olá querida poeta Zilani, que prazer em recebe-lá neste humilde bloguinho meu...é verdade, o Artaud fazia da 'mentira' que é o teatro, ele trazia a dor de interpretar para o palco, para qwue o espectador sentisse 'de verdade'...Artaud nosx permitiria muito mais divagação rs.
      Mas querida Zilani, eu amei teu poema, é um hino a natureza, é uma fábula, fiquei encantado com tanta inspiração, com tanta beleza em palavras, todos precisamos dessa 'Lição de Amor'. Meu carinho meu respeito meu abraço.

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  5. Alguns o consideravam de grosseiro, mas ele deixava muito para refletirmos sobre a condição humana e sobre a existência.
    Um abraço enorme, meu querido Jair.
    HD

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    1. Meu querido escritor Humberto Dib, sabes quanta honra sinto em tê-lo aqui, sabes também que gosto muito de ti, de tua obra e agradeço sempre o carinho que tens por mim...a condição humana e sua existência, ele precisava agredir para para demonstrar sua arte, que não via limites entre o real e o irreal. Fiquei feliz demais com esta postagem, tua presença trouxe-me ventos de inspiração, vou partir para outr post...Obrigado HDib, meu querido amigo, meu criativo escritor. Meu carinho meu respeito meu abraço.

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