Desconheço
o país que vivo, que até então, reconhecia como
meu lar, onde pulsa no meu coração verde e amarelo o
ufanismo de ser daqui, mas como disse, desconheço este país,
que beneficia os ricos e altos cargos públicos, enquanto
penaliza a população, o trabalhador braçal, o
funcionário público que faz o trabalho das
autoridades e sofre assédio moral. Tristes trópicos
como diria Lèvis Strauss. Meu país é um trem
desgovernado, que não se sabe o que vai acontecer, se parar o
bicho pega e continuar o bicho come. Nos hospitais, ou estão
fechando ou superlotados, pelos corredores, nos banheiros já
se deu partos, no chão dos corredores pessoas com doenças
terminais. Nas escolas, quando tem aula, as crianças são
obrigadas a deitar no chão para fugir de balas perdidas,
mesmo assim todo santo dia morre uma ou mais pessoas por bala
perdida, ou seria bala com endereço certo ? Neste último
domingo antes de dormir, vi um programa investigativo na televisão,
não deveria ter visto, demorei muito para dormir (mesmo com
remédios). Uma menina, a alguns anos atrás, com 15 anos
foi pega furtando numa casa, onde a pegaram e trancaram no banheiro,
um parente policial desta pessoa foi buscar a menina e levar para
delegacia, a partir daí, uma sucessão de erros,
desmandos e desinteresse pelo ser humano, no caso, uma menor.
Autoridades homens e pasmem, mulheres mantiveram esta menina em
cárcere privado, numa delegacia, numa cela com 20
detentos...não é preciso dizer o que se passou nestes
26 dias que a menina esteve nesta cela. E assim é este país,
que teimo em dizer que é meu. Mesmo sabendo que os valores,
que aprendi enquanto guri, dos meus avós, meus pais, tios,
parece que tudo esta indo ralo abaixo. O respeito. A honestidade. A
compaixão. Meu maior medo é perdermos de vez nossa
identidade como ser humano.
segunda-feira, 24 de abril de 2017
quarta-feira, 19 de abril de 2017
ACHO QUE NÃO SEI QUEM SOU
You love you learn
You cry you learn
You lose you learn
You bleed you learn
You scream you learn"
by Alanis Morrissete
Os dias em que viver não faz diferença, entre sorrir ou chorar
Assim
me portei por muito tempo, no tempo de tua existência,
Quando
minha trilha sonora era dos anos 80, minha única trilha que
deixei
pequenos pedaços de pão, para poder voltar. Não
voltei.
Os
dias sangrentos de nossa passada história, os negros, os
índios
A
ditadura que foi meu berço, meu algoz e meu libertador.
Escuto
meu silêncio e minha respiração e meu coração
que
pode parar de bater a qualquer momento,
após
meio século de existência.
by Jair Machado Rodrigues
O
dia não flui, como ficar vivendo o mesmo instante nas
primeiras horas da manhã...o horário do Sol esquecido,
convida um outro tempo de dias ventosos, como em finados. Subindo as
escadas que levam ao céu, de onde pode se ver a Terra, tão
azul, tão linda e tão só, perdida na imensidão
do universo. Tempos de alegria, com brincadeiras ao redor da fonte,
jogando moedas e fazendo pedidos. Outro dia, outra hora, outro
tempo...
“Sempre precisei
De um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto
E nesses dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos”
by Legião Urbana
ABRIL SE ESVAI...
Abril
se esvai com seus dias lentos, frios e leves. Onde memórias
esquecidas brotam no calor do edredom, onde o mal não chega,
somente a solidão. Aquecida e não menos dolorosa,
mostrando nossa colheita do que foi plantado. Nos meus sonhos
plantava trigo e amor. Em minha vida real juntei pedras, escolhi
caminhos, deixei amigos e baixei meu olhar do céu. Entre as
sombras e esquinas esquivei-me de encontros, somente guiei meus
passos que nada dizem, apenas andam em círculos equivocados,
becos, becos de vida, onde são interrompidas, de bala perdia
ou um punhal que brilha em noite de Lua, antes de atingir o estomago,
para cortá-lo, deixar cravado no corpo a lamina cortante da
arma branca. Em pouco tempo sairei desta casa astral e de meu inferno
zodíacal, talvez tropece em maio, caia em junho e não
suportando a solidão gelada do inverno, talvez desista, talvez
morra, talvez enfim, venha minha colheita de amor e morte.
A VIDA E A MORTE
O que é a vida e a morte
Aquella infernal enimiga
A vida é o sorriso
E a morte da vida a guarida
A morte tem os desgostos
A vida tem os felises
A cova tem as tristezas
I a vida tem as raizes
A vida e a morte são
O sorriso lisongeiro
E o amor tem o navio
E o navio o marinheiro
by Florbela Espanca
Em 11-11-903
segunda-feira, 17 de abril de 2017
O SORRISO DE MINHA MÃE
Os dias sombrios tornaram-se claros, cristalinos no olhar de minha mãe. A cegueira que tomava conta foi atacada, e tivemos uma vitória linda nesta guerra que travamos todos os dias. Meu coração já andava cabisbaixo, diante das trevas que minha mãe vivia. A saúde pública neste país é vergonhosa...também, nossas autoridades roubaram tanto, mas tanto, que estamos em petição de miséria. E minha mãe que não tinha nada a ver com isso, aguardava silenciosa o dia que seria chamada para consultar um oftalmo, para lhe clarear a visão. Nada disso. Não havia tempo para atender o povo, o mesmo povo que colocou cada político a onde está. Mas tinham outras prioridades, como assaltar o país. Minha angústia, minha dor era maior a cada contato com ela. Abraçava-a, mas não podia emprestar meu olhar, só me restava abraça-la. Chegou num ponto que não mais suportei, quando tirei férias fui para casa, catei meus dinheiros e a levei numa clínica particular, após exames, era possível reverter a situação. Conseguimos, e passei a Páscoa mais linda da minha vida, olhando minha mãe me olhar, me vendo e vendo o mundo, este mesmo mundo que parece em estado ebulição nos quatro cantos da Terra. Mas éramos nós e a luz que emanava de minha mãe, o sorriso e o abraço, agora nos olhando, nos vendo. Pedi a Deus, por várias noites antes de dormir, pedia um milagre e ele me deu força e coragem e luz no meu caminho e ideias, que me permitiram pagar pela cirurgia. Hoje penso em minha mãe, e não sinto mais aquela dor no peito, aquela angustia...só sinto alegria ao vê-la andar, ao vê-la me olhar e sorrir.
sábado, 8 de abril de 2017
50 ANOS DE SOLIDÃO
“Para muitos, 1967 foi o melhor ano da história do rock. Pode ser um exagero, mas certamente o rock viveu um de seus melhores 12 meses. Motivos para isso não faltam: os Beatles lançaram o disco que mudou o mundo, Jimi Hendrix apareceu, os Doors estrearam, o Velvet Underground colocou o seu primeiro álbum nas lojas, o Pink Floyd veio ao mundo, o Cream lançou a sua obra-prima. A explosão da psicodelia e do Flower Power fizeram do ano uma grande celebração na cronologia da música”
Em
09 de abril desse ano (1967), eu nasci numa pequena cidade no Sul
do Sul da América do Sul...tomei consciência da minha
existência, alguns anos depois, dos primeiros anos, memórias
perdidas, lembranças escassas na memória afetiva.
Vinguei, diria meu falecido avô, e desde lá passaram-se
50 longos anos, ou rápidos, não consigo mesurar...”Você
não sabe o quanto caminhei, para chegar até aqui...”
50 anos de Solidão, nem tão só, mas é um
título poético deprê, que combina comigo, em boa
parte destes 50 anos e faz uma alusão ao livro 100 anos de
Solidão do Gabriel Garcia Marques, marcante em minha vida,
dentre muitos. Estes, os livros, sempre foram parceiros e amigos
presentes na minha existência. Minto também no título,
por ter muitos amigos, muitos ao longo destes anos, mas todos temos
nossas vidas, e não sabemos o que vai acontecer quando
dobrarmos a esquina: seguimos nossos destinos e naturalmente, os
caminhos se bifurcam, o mundo é tão vasto “mundo,
mundo, vasto mundo, a se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não
uma solução”. Confesso que não sou bom em
preservar amizades, fui chamado de pior melhor amigo, por uma amiga
querida, justo por esquecer as datas de aniversário, o que é
importante para ela. Ao contrário de mim, que sempre fugi nas
datas de aniversário, anos em que passei só, longe da
família ou amigos, esta amiga sempre fez questão da
comemoração. Hoje sei e entendo e aceito, esta alegria
de conquistar mais um ano, apesar de estarmos morrendo a cada segundo
que passa, a partir do nosso nascimento. A luta da vida e da morte,
foi o que sempre aconteceu durante anos...por enquanto a vida vence,
e faço de tudo para continuar assim, uso remédios,
pílulas para alegria, pílulas contra a ansiedade,
pílulas para dormir, tudo com acompanhamento médico e
terápico ; quando vejo a fragilidade do muro de vidro que
construí para me proteger. “Sigo adiante, misturo-me a
vocês...” ou me fecho no quarto, na tentativa de dormir e ter
um sonho bom, fugindo da realidade dura e crua, vendo toda esperança
deixar de existir, se esvaindo, como areia entre os dedos. “Feliz
aniversário, envelheço na cidade; feliz aniversário,
envelheço na cidade” Mas a maturidade que adquiri nestes
anos, me faz ver uma possibilidade de viver melhor, entender melhor,
ser um humano melhor, com falhas, mas muitos acertos. Retalhos,
pedaços de um grande quebra-cabeça, onde peças
importantes não se permitiram encaixar, tornando-me assim,
incompleto, mas com o coração cheio de esperança,
a mesma que pode se esvair entre meus dedos...se for como a canção:
“ninguém consegue ser feliz sozinho” , estou condenado a
eterna solidão (pausa dramática), fecho os olhos e vejo
meu cão adotivo Teimoso, feliz ao me ver chegar. Meu coração
consegue amar, apenas não teve chance, ou talvez a profecia ou
maldição faladas um dia, se cumpra, quando chegar aos
57 anos...tenho medo de não existir para conhecer o amor de
minha vida, enquanto isso, aceito de bom grado , a “parte que me
cabe deste latifúndio ” feliz aniversário para mim, feliz
aniversário.
"Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que eu segui
Com minha própria lei."
quinta-feira, 6 de abril de 2017
NÃO CABE NO POEMA
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
não fede
nem cheira.
by Ferreira Gullar
terça-feira, 4 de abril de 2017
NOSSO CAOS DE TODO DIA
Acreditava
que não podia piorar. As cenas eram terríveis quando
chegou ao local, eram de dor e desespero, pessoas desmaiando, outros
desesperados por não conseguir respirar e muitos espumavam
pela boca, como cães raivosos, mas sem forças para
atacar, apenas se contorciam no chão. Todos a espera de um
salvador, qualquer um que pela mão os encaminhassem para um
lugar sem guerra, sem morte prematura de jovens e crianças.
Onde mulheres e velhos fossem respeitados, e os homens, honestos e
trabalhadores. Mas por enquanto é só o que resta. As
equipes de socorro tinham tantos para socorrer que era difícil
reconhecer quem precisava mais e imediatamente de tratamento. No ar
ainda podia se sentir aquele cheiro da morte e de gases venenosos, e
ruídos ao longe que faziam tremer os já frágeis
e semidestruídos prédios. No hospital, que mais parecia
uma campo dos perdedores, após o fim de uma guerra. Mas fim é
uma possibilidade remota e incerta. Em leitos improvisados, alguns
até no chão, enfermeiros e médicos faziam o
impossível para perder o menor número de vítimas
civis. Mesmo assim, continuavam os ataques, que pareciam cada vez
mais próximos do hospital. Vermelho era a cor que tomava
conta, do cinza das pedras da rua, dos prédios semidestruídos
e os destruídos, com certeza, vítimas mortas e
agonizantes nos destroços, do que foi uma casa de uma família
feliz um dia. Agora um amontoado de pedras. O ritmo é corrido
no hospital, cada segundo pode custar mais uma vida. Acompanhando
tudo, como se fosse um filme de terror e guerra, reza baixinho
enquanto carrega no colo um menino encontrado desmaiado, com o corpo
coberto de terra, para o hospital. Podia sentir o coração
pulsando daquele pequeno corpo infantil. Quando estava sendo
atendido, mais uma explosão, mas desta vez era no hospital.
Então percebeu que podia ficar pior, muito pior.
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