sexta-feira, 13 de novembro de 2015

DESENCANTO

 
 
DESENCANTO
 
 
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústica rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.
by Manuel Bandeira

7 comentários:

  1. Respostas
    1. Minha querida amiga de além mar Cláudia, fico feliz que tenha gostado, este poema esta de acordo com o que sinto na alma, desencanto...obrigado pela sempre bem vinda visita. Carinho respeito e abraço.

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  2. Meu bom amigo Jair adoro poemas tristes, profundos, algo que faça algum rebuliço nos nossos sentimentos. que nos faça pensar e ao mesmo tempo deixar muitas perguntas no ar, justamente para nos levar a refletir sobre nossas vidas e o sentido das coisas, Da vida em geral. Ou também nenhum sentido. Fica a escolha do freguês... E dispenso os de água com açúcar...
    Grande abraço, amigo! Bela postagem, juntamente com a do Quintana, na postagem anterior que li junto. Dois ícones da poesia. Um bom fim de semana.

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    1. Minha querida amiga Tais, sabes o que sempre digo, que a poesia salvará o mundo, mas disso ainda não tenho certeza, mas eu sou salvo todos os dias pela poesia, e felizmente temos um leque imenso de poetas neste país e no mundo, mas é preciso estar no local certo, na hora certa...como estes dois últimos poemas postados, Quintana e sua ironia por vezes ferina, e Bandeira que expressa nada mais nada menos o que estou sentindo, desencanto e olha que acordei naquele dia sentindo-me assim, bem antes de acontecer e eu saber o que se passou na França, então meu desencanto foi concreto, muita coisa fez sentido e muito mais coisas deixaram de fazer sentido. Será que vale a pena seguir, tentar, insistir em ser feliz, e buscar os sonhos que sonhamos ? Será ? Mas respiro fundo e penso na minha mãe, no meu cusco Teimoso, nos meus sobrinhos (tão meus amigos ), devemos tentar. Mas mesmo com este sentimento triste, desencanto, é um poema lindo. Acredito ser a mesma ou bem parecida a sensação que tens e que tenho dos poemas que postei. Minha amiga Tais, nestes dias de luto no mundo, nestes dias que nos perguntamos, será que vale a pena, nestes dias tristes, eu agradeço tua querida presença, obrigado. Carinho respeito e abraço.

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  3. Jair, meu querido... hoje, especialmente, me encontrei nestes versos... tanta tristeza lá fora... terrorismo na cidade luz... tanta tristeza aqui dentro... rio Doce morto pela força da incompetência e da ganância... tanta dor... tanto motivo pra desdenhar o "humano" da raça... hoje estou triste... não que não o seja corriqueiramente em função se sempre olhar em volta... Manuel Bandeira hoje me descreve, desesperançada, desalentada, desencantada, fazendo versos como quem morre, porque não acredita mais na capacidade das pessoas de serem completas, justas e sãs... .. vamos que vamos... ler Manuel Bandeira em um dia como este não pode trazer palavras felizes... mas o poeta é atemporal... e a humanidade previsível em suas misérias diárias. Beijos cheios de tristeza por tanta falta de amor no universo.

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    1. Minha querida Anaís, uma triste sincronicidade, meu desencanto com minha vida, este desencanto que assola o mundo. Tenho estado triste, mas em silêncio, não falo minha dor, não demonstro, tento pelo menos...daí ao assistir meus telejornais fico sabendo de Paris, a cidade luz recebe a escuridão da morte, o ódio e a falta de tolerância...já estava descendo rio abaixo na lama que destrói vidas, ecossistemas...quanta dor, tanta dor. Quase tenho certeza que não pertenço a raça humana, não esta raça gananciosa, maldosa e sem escrúpulos. Eu vinha me arrastando na tristeza, tentando manter minha lucidez, tentando entender o impossível, tentando rezar pela humanidade, mas ao mesmo tempo indignado com esta mesma humanidade. Continuaremos nossas vidinhas com tristezas e alegrias, nosso trabalho, nossos prazeres, mesmo que o mundo continue sangrando, mesmo que no mundo crianças permaneçam com fome e chorando. Minha querida amiga, tenho medo de estar muito amargo, de escrever amargo e de sentir o sabor amargo da desesperança e da dor no coração, por estar impotente, a mercê dos ódios que proliferam como um rastilho de pólvora. Por isso me entrego a poesia, ela consegue ser bela, mesmo falando dessas coisas tristes. Carinho respeito e abraço e que o amor se espalhe e pinte o universo de paz.

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  4. A poesia é mesmo uma tentativa de driblar o choro e a morte, seja em que nivel for...

    Embora eu tenha respondido no meu blog ao seu comentário sobre a morte do meu pai (e do seu), deixei um bilhete para mim mesma no notebook para lembrar de agradecer seu carinho comigo na ocasião. Não é nada fácil... essa dor é uma ferida que não se fecha, não é mesmo? Mas o apoio de amigos como você torna possível continuar.
    Obrigada!

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