quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

CINZENTO CÉU

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SPLEEN

Quando o cinzento céu, como pesada tampa,
 Carrega sobre nós, e nossa alma atormenta,
E a sua fria cor sobre a terra se estampa,
O dia transformado em noite pardacenta;

Quando se muda a terra em húmida enxovia
D'onde a Esperança, qual morcego espavorido,
Foge, roçando ao muro a sua asa sombria,
Com a cabeça a dar no tecto apodrecido;

Quando a chuva, caindo a cântaros, parece
D'uma prisão enorme os sinistros varões,
E em nossa mente em frebre a aranha fia e tece,
Com paciente labor, fantásticas visões,

- Ouve-se o bimbalhar dos sinos retumbantes,
Lançando para os céus um brado furibundo,
Como os doridos ais de espíritos errantes
Que a chorrar e a carpir se arrastam pelo mundo;

Soturnos funerais deslizam tristemente
Em minh'alma sombria. A sucumbida Esp'rança,
Lamenta-se, chorando; e a Angústia, cruelmente,
Seu negro pavilhão sobre os meus ombros lança!

by Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Tradução de Delfim Guimarães 

6 comentários:

  1. Caro Jair,
    O fantástico poema "Spleen" suscitou em mim a vontade de pasticha-lo. Assim, peguei um pouco de seu rítimo, um pouco das rimas, e um pouco de seu céu cinzento, e fim um pretenso soneto para homenageá-lo:

    A Tormenta

    Jamais confie, pois o céu as vezes é trampa
    Finge-se calmo, mas prepara uma tormenta
    Nuvens claras em fundo azul, então estampa
    Porém, logo, logo, feios ventos acrescenta.

    Alguns dirão: mas apenas pouco chovia
    Razão não tínhamos pra estar espavoridos
    Até que aquela frente úmida e sombria
    Descambou nuns raios quentes e desabridos.

    Traduziu-se aquilo na parede cinzenta
    Secundada pelos ribombantes trovões
    De terrível perigo tal qual aparenta.

    E, sinceramente, assim não existem senões
    Rola pela montanha avalanche barrenta
    A qual não permite nem sequer traduções.

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    1. Meu querido amigo Jair Cordeiro Lopes, sempre muito agradecido por tua nobre presença, por aqui...eu e Baudelaire nascemos no dia 9 de abril, foi a única coisa em comum rs...gosto deste poeta, do nome perfeito de sua obra prima AS FLORES DO MAL, acho simplesmente perfeito este título; nestes dias de dúvidas e angústias e sombras encontrei Baudelaire perto do jardim de minhas flores do mal. Meu amigo Jair, conhecedor de todas as palavras e versátil com elas, belo soneto, conseguiste construir um outro céu, uma outra tempestade. Nas entrelinhas de ambos os poemas, estou ali, esquecido numa esquina não percebi o enterro passar. Gostei de tua fórmula, no post anterior também busquei várias referências, principalmente quando não sei o rumo que meus escritos vão tomar. Obrigado meu amigo, muito obrigado, nem todo o cinza do mundo será forte o suficiente para cobrir o Sol deste poético comentário. Carinho respeito e abraço.

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  2. Lindo poema e céu! abraços, ótimo feriado, não sei se pra ti amanhã é! chica

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    1. Foi feriado sim querida Chica do Céu, minha adorável amiga...um tanto quanto sombrio, mas um belo poema. Achei linda esta fotografia no google, gosto de nuvens, de céu, motivo pelo qual eu amo teu blog Céus e Palavras. Obrigado pelo carinho de sempre. Carinho respeito e abraço.

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  3. Esos poetas franceses son bellos y complejos

    Paz&Felicidad

    Isaac

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    1. Belos e malditos, mi Hermano Isaac. Gracias por tua nobre e iluminada presença. Carinho respeito e abraço.

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