sexta-feira, 2 de junho de 2017

CLOSE TO ME


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Robert Smith


Quantas vezes terei de dizer que não estou em casa, que há somente silêncio aqui dentro, silêncio e solidão. Podes bater até se cansar e desistir. Com muita sorte consegui entrar aqui, como se fosse o ventre de onde saí, aquecido, silencioso, amoroso, este amor que não se encontra mais, nem aqui dentro. Fechado para balanço ou para o final inevitável. Mesmo assim, insisto em dizer: não estou em casa para ninguém. Muitos já passaram por aqui, tantos me deram abraços, e todos seguiram suas vidas, e eu não estava nelas...Quantas vezes terei de espantar os fantasmas de dentro de mim ? Estes mesmos fantasmas que me seguiram quase uma vida e me abandonam, me deixando só, dentro dessa casa. Ainda posso ouvir as conversas, algum cão latindo, e de vez enquanto, passam um bando de crianças. Sei pelos seus gritos agudos e barulho dos passos rápidos, como se corressem, numa brincadeira sem fim. Agora poderei dormir em paz, assim que o último a tentar entrar na casa, desistir. Silêncio. Agora estou só comigo mesmo e mais ninguém, talvez Deus. Há tanta coisa lá fora, que gostaria de trazer para cá, mas melhor deixar assim, meio vazio, não despertar lembranças nem saudades. Devo apenas ficar quieto, não despertar as curiosidade, como foi hoje pela manhã, quando comecei a pintar os vidros das janelas, de diferentes cores, na esperança de ver um arco-iris aqui dentro, e apenas juntou uma multidão para rir e depois partir para suas vidas medíocres, me deixando em paz, em silêncio, sentado displicentemente no chão, tentando ler um livro, que fala de amor, de vida e de morte.

"I've waited hours for this
I've made myself so sick
I wish I'd stayed asleep today
I never thought this day would end
I never thought tonight could ever be
This close to me"

The Cure

14 comentários:

  1. Caro amigo cronista Jair Machado, alguma coisa da tua escrita lembra o trabalho os contos de Caio Fernando Abreu, principalmente no livro Pedras de Calcutá.
    Um bração. Tenhas um bom fim de semana.

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    1. Meu querido amigo, quem me dera, ter 0,1% de herança genética do Caio...mas acredito que tenha, implicitamente, no caso dos vidros sendo pintados de várias cores, li no conto O Marinheiro (plágio?). Caio me inspira, e será assim para sempre, eu correndo atrás dele, mas não passo do tentar. Pedras de Calcutá é maravilhoso, como todos dele, eu acho. Sentia nos contos dele uma busca desesperada por algo, nem sempre bem definido, mas era busca da vida, de saber como lidar com o próximo...no meu caso busco um isolamento, talvez socorro no meio da solidão, ou uma terapia que me alivia a alma e meu intelecto, ao escrever. Meu caríssimo Dilmar, a tua leitura do meu escrito, já me enche de alegria, obrigado. Carinho respeito e abraço.

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  2. Texto denso, emocionalmente profundo. Mas bonito, na tristeza também encontramos beleza, poesia, os gritos da alma. E muita reflexão! Às vezes preocupação.
    Cuide-se amigo.
    Abraço daqui, desse clima gaúcho onde estamos naufragando...

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    1. Minha querida amiga Tais, sempre um momento maravilhoso tua presença por aqui...Obrigado por tuas palavras, tento, busco, escrever com meu intelecto, mas o inconsciente se manifesta sempre...os gritos da alma, sim existe beleza na dor, porque se não tiver poesia, não faz muito sentido, as coisas passam muito batida e nem saboreamos. Na busca de uma forma de me comunicar com o meu mundo exterior, as palavras, por instantes saem instantaneamente por mim, outras passo um bom tempo até inventá-las ou lembrar, como pintar os vidros da janela, isso chupei do conto O Marinheiro do Caio, um plágio poético rs...e nesta forma de eu tentar me expressar está vindo à tona, dores curadas, mas não esquecidas. Entendo meus escritos, um tanto quanto tristes ou mórbidos, uma pedido de ajuda quem sabe. Quem sabe minha alma esteja gritando por ajuda...só sei que escrever é preciso, eu preciso, e gosto quando ficam densos, quem sabe não é minha literatura brotando (minha literatura barata rs). Obrigado querida amiga por se fazer presente na minha vida, assim tão intensamente. Carinho respeito e abraço.

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    2. Textos com humor são excelentes, divertem, aliviam as tensões. Gosto muito. Mas não levam às reflexões nem emocionam como textos mais sérios, doloridos, que revelam as dores do espírito. Acho que tudo tem de ser bem dosado, se for só doloridos, a dor vai se acumulando que dá vontade de se atirar do 102 andar do Empire State! rss
      Abraço! Ótima semana.

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    3. Verdade minha amiga Tais, mas busco o equilíbrio também, o meu equilíbrio, e expor este lado, meio sombrio só me alivia...mas continuo contigo, tanto pesa que um dia...eu não vou querer me jogar no espaço, este corpo, feio, estranho, mas meu, sou eu, e decididamente é bom viver. Sempre tão lúcida, delicada e com um humor contagiante, obrigado minha amiga Tais. Carinho respeito e abraço.

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  3. Caro Jair, meu amigo e parente brasileiro.

    Passei, parei e fiquei sem pressa presa ao seu texto que li e reli. Bonito, claro, era de esperar...
    Mas tão pesado, de alguém que carrega desânimo e sofre com ele, mas a ele se afeiçoou e já não o quer largar. Chega a desejar o que está perto e poderia trazer novo rumo, porém vacila e não avança. Quanto sofrimento calado, e por isso ignorado.

    Bom inicio de semana com muito ânimo e, força física para subir os 40 degraus.
    Abraço.
    Dilita

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  4. Este corpo, feio, estranho...
    Maus pensamentos! Pior ainda, Péssimos!

    " Então se eu não gostar de mim quem irá gostar? "

    A frase não é minha, mas gosto dela!
    Abraço.
    Dilita

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    1. Minha mui estimada amiga e parente portuguesa Dilita, pois é...esta é a obra que consigo fazer, sei desse pessimismo que permeia meus escritos, é a forma que tenho de me livrar deles, estes pensamentos ruins. ...pelo menos a primeira impressão é boa rs. Aos poucos vai ficando claro pra mim, à medida que escrevo, vou me descobrindo e me libertando de mim mesmo, pois estou cada dia com menos vontade de estar com as pessoas, está voltando também meu medo de sair para a rua, mas resolvo isso com meu terapeuta..."Alguém que carrega desânimo e sofre com ele", fiquei a pensar se é isso mesmo o que parece o que escrevi este post. Está carregado de dor, quase física, desespero com o que está acontecendo e ainda pode nos acontecer. Tenho de confessar meu lado super sentimental, quase um fado em forma humana. Querida amiga não se preocupe, apesar de ser verdadeiro o que escrevo, aprofundo na metáfora, ficção e por tempos me perco, e acontece quase uma imaginação ativa, teoria junguiana, do Jung. De permitir expressar, não bloqueando o que o inconsciente manda. Meu sofrimento dramático é praticamente abstrato, minha vida real se confunde com o eu que aparece nos meus escritos. Eu não me poupo. tenho consciência de que sou feio e estranho, mas na boa, não me incomodo, até gosto, me deixa no patamar ímpar, sem pessoas que possam se comparar a mim, por outro lado, tenho a solidão, que parece não boa, mas às vezes "antes só do que mal acompanhado". Quantos aos 40 degraus, cada vez tenho pensado menos na morte, em morrer rolando escada abaixo, 40 degraus deve matar né? mas como disse, cada vez penso menos, faz parte do meu trabalho, meu ganha pão, mas 40 degraus. Minha querida amiga, estou bem, deixo meu mal estar para o blog, coitadinho. Sempre feliz demais em recebe-la neste bloguinho e agradecido por tanta consideração, minha querida amiga e parente portuguesa. Carinho respeito e abraço.

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  5. Hola paso por agreferte tu fidelidad en mi blog.
    Gracias.
    Besos

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    1. É sempre um prazer querida Anna e gracias por tua visita neste bloguinho. Carinho respeito e abraço.

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  6. "Eu esperei horas por isto
    Eu fiz eu mesmo ficar doente
    Eu desejei ficar adomecido o dia todo
    Eu nunca pensei que este dia acabaria
    Eu nunca pensei que esta noite
    Pudesse estar
    Tão perto de mim"

    The Cure

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